𝓟𝓻𝓸𝓵𝓸𝓰𝓸

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Por que razão ninguém nota em mim... Por que ninguém nem fala comigo... Será que eu sou apenas um fardo para todo mundo? Como o meu pai diz? Será que eu não deveria ter nascido? Será que eu estou apenas a ocupar espaço neste mundo?
Será que é por eu ser "diferente"?

Essas são as questões que eu me faço todos os dias, e elas são instantaneamente automáticas, elas vêm logo após o segundo que eu acordo. E acabo de me perguntar... Agora mesmo.

"Então agora você pensa que é dona do mundo? Acorda sua preguiçosa imunda!" Vociferou meu pai escada à baixo. Suspiro extenuada assim que me levanto quase rastejando até dar continuidade ao caminho no fundo do corredor, onde a porta aberta e a escuridão interna esperava por mim. O chuveiro gelado necessitava de mim e aproveitei o máximo que pude, antes de chegar o dia em que a Companhia de Águas viesse cortar a corrente, devido ao nosso acúmulo de multas e faturas não pagas. Escovei os meus dentes e voltei até o meu refúgio às pressas e como sempre trancando à porta enfiando a chave no orifício e verificando a eficácia segurando a maçaneta. Suspiro, eu nunca saberia quando a abstinência e os ataques de esquizofrenia de meu pai atacariam.

Cubro-me com as minhas vestimentas velhas e esfarrapadas rapidamente, carrego a minha mochila sem nem saber quais os cadernos que alí contiam, corro escada à baixo e finalmente saio de casa sentindo a brisa gelada chicotear meu rosto, suspiro em ar de liberdade... Liberdade... Quando essa palavra se tornará real em minha vida?

Lentamente caminho sobre o asfalto, sentindo leves pontadas em meus dedos dos pés devido ao frio e ao meu calçado velho cujo eu sempre forçei a entrada do meu pé, tenho este par de sapatos há alguns anos e felizmente ainda serve, com um pouco de esforço. O autocarro chega após 15min e eu forço a minha entrada, me apertando através da multidão assim que eu tentava entrar. Levou cerca de 30min até eu chegar na instituição académica.


Um segundo inferno que tenho de atender, mas honestamente, eu diria que a escola tem me salvado de inúmeras situações e problemas caseiros, não possuo nenhum outro membro familiar a não ser o meu pai, a minha mãe faleceu durante o parto dando à luz a mim, não tenho nenhuma prova sobre o ocorrido, mas essas foram as informações obtidas através do meu pai. Eu não tenho o conhecimento sobre algum sobre parentes distantes, desde sempre tem sido apenas eu e o meu pai, desde que eu me conheço por pessoa. As vezes eu desejava ter uma prima ou uma tia, um tipo de figura materna com quem eu pudesse compartilhar a minha vida, mas esse desejo nunca se realizou. Eu tive de aprender a ser uma mulher sozinha.

Meu pai e eu nunca realmente tivemos uma ralação de pai e filha, essa que desesperadamente amaria ter. Ele é um homem de cinquenta anos alcoólatra e desempregado, nós sobrevivemos às custas do subsídio mensal governamental, sou grata por isso se não já estaríamos mortos de fome. Mas esse dinheiro sequer cobre as nossas despesas e necessidades especiais, imagina alimentação... Uma vez que o meu pai fica sob o controle de todas as finanças.

Quando eu era apenas uma criança era de meu hábito estudar muito, pois eu pensava que assim o meu pai ficaria orgulhoso de mim e começaria a me tratar bem, mas estive errada, mais uma vez... Eu sou apenas um fardo para ele. Mas agora está tudo enterrado mesmo, eu já não me importo com nada, nem ninguém, eu apenas vou até a escola para ver se consigo fugir dos meus problemas aqui em casa, para que eu consiga fugir do meu pai, tudo oque eu faço é adormecer durante as aulas e trancar-me na casa de banho da escola durante os intervalos. Esses actos ajudam-me a fugir dos alunos que fazem bullying comigo, eles costumam bater em mim e abusar verbalmente por eu seu obesa, ligeiro atraso mental e também por eu ser uma pessoa gaga, mas nada novo, eu já me acostumei a tudo isso.

 𝕾𝖗.𝕬𝖘𝖙𝖗𝖔𝖋𝖎𝖘𝖎𝖈𝖔©Where stories live. Discover now