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— Está se sentindo melhor, mamãe? — indagou Patrícia à Vera, assim que ela saiu do closet vestindo um simples pijama com um robbie laranja, sentada na cama.

— Posso confirmar isso com toda a certeza — respondeu, caminhando para o mesmo móvel em que sua filha estava, deitando-se em seguida — Os remédios, e o cochilo que tirei, me fizeram bem.

— Que maravilhoso escutar isso! Agora, a senhora já sabe qual é o melhor remédio para aliviar sua cabeça quando a dor vier.

— É. Mas se não fosse por todo o seu cuidado e atenção, não acho que me recuperaria tão rápido.

Patrícia sorriu para mãe, inclinando seu rosto para o lado. Vera abriu os braços, e a jovem entendeu muito bem a mensagem, se aconchegando nos braços da mãe e ganhando beijinhos em seu cabelo louro.

— Sabe filha, você aqui me lembra dos bons tempos em que eu era criança. Me lembro dos dias em que o meu pai tinha que viajar ou ficar fora por conta do trabalho... eu e seu tio ficávamos tão escolhidos debaixo do edredom, que a sua avó dizia que não precisava deste pois o calor do nossos corpos supriam.

— E isso também passou a acontecer com a senhora... Eu e a Silvana corríamos para cá, em dias que o céu estava sendo todo iluminado pelos trovões.

— Ah, sim — Vera gargalhou — Eu me lembro perfeitamente bem. Vocês duas me encarando com esses olhos tão azuis, me faziam bem mais medo do que o barulho do lado de fora.

Patrícia gargalhou olhando para a mãe. Encolheu os ombros, se afastando em seguida.

— Mas... sempre foi para ser nós três, não é?

— Vocês três?

— Sim. Eu, a Silvana e... a filha da tia Maria.

Vera acenou com a cabeça, levando os dedos de sua mão para a franja do cabelo de sua filha.

— Sim, Patrícia. Era para ser vocês três.

—... e a senhora acha que um dia ela vai voltar? Que um dia a iremos encontrar?

— Mesmo que isso aparenta ser impossível... eu ainda creio que sim... um dia, ela estará bem aqui conosco.

— Eu quero muito que isso aconteça — confessou — Ela deve ser tão linda quanto a tia Maria. Talvez também tenha puxado o pai dela, como eu puxei um pouquinho do meu — sorriu.

— Sim...

— De toda a história dela eu sei... sei que ela foi levada, no meio de toda aquela loucura... as chances do marido da tia Maria não ter sobrevivido... — olhou para Vera ao se dar conta do que disse com suas últimas palavras — Mãe, a senhora nunca procurou saber disso?

—... do que?

— Se o marido da tia Maria sobreviveu! Se ele já se recuperou, e...

— Patrícia — tocou sua mão livre — Mesmo que eu tentasse achá-lo, eu saberia que ele não seria ou agiria como antes. Ele não daria a resposta esperada.

— Mas e se a senhora contasse do estado da tia Maria? Contasse que ela está presa dentro da própria cabeça?

— E você acha que ele iria acreditar?

— E por que não? A senhora foi quem da família, mais manteve contato com eles enquanto estavam afastadas!

— Filha, você deve também entender, que nem todas as pessoas do mundo estão dispostas a voltar ou reencontrar alguém do seu passado. O conhecendo eu sei que ele viria atrás da Maria na primeira oportunidade... mas já se passaram tantos anos e eu não soube de mais nada sobre ele, nem sobre sua família. E com certeza a própria família dele não deixaria que eu passasse sequer perto dele ou de onde está morando, por simplesmente saberem que eu sou irmã dela e filha do Dominique. — contou — O meu pai foi o primeiro que eles desconfiaram.

Simplesmente, Você | Livro I Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz