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Hoje era o dia D.  Juliette foi trabalhar muito ansiosa.
Chegou ao seu gabinete e lá estava o comprovante do resultado do teste de DNA.

Lurdes a sua enfermeira auxiliar estava com ela.

- Doutora, hoje está muito nervosa.  Quer que lhe peça um chá ou outra coisa?

- Não, enfermeira.  Já passa.
Aguarde só um pouco antes de chamar o primeiro paciente.

Lurdes saiu, Juliette pegou no envelope e abriu.

Lá estava o que no íntimo já sabia.  Rodolffo e Leonor são pai e filha.

Juliette não conteve as Lágrimas.   Lurdes entrou nesse preciso momento e questionou:

- Que se passa doutora?  Quer que cancele a sua agenda?

- Não é necessário.   Só preciso de um tempo.
A Lurdes lembra-se do nascimento da minha Leonor?

- Lembro muito bem, coitadinha.  Abandonada pela mãe e sem pai.

- Pois é.  Descobri os pais dela.

- Foi?  E está com medo que lha tirem.  Não há esse perigo ou há?

- Não,  Lurdes.  A mãe nem está no País e o pai é a pessoa que está comigo hoje.  Para ver a coincidência.
Ele foi para Portugal,  não sabia da gravidez.  Voltou este ano e ficou sabendo que tinha um filho cá embora ninguém lhe soubesse dizer onde estava.

Lembra-se do bilhete que estava junto da bébé?  Falava que o pai se chamava Rodolffo.   Sim o meu Rodolffo.

- E agora já sabe?  Por isso o teste?

- Não.   Eu é que quis ter a certeza antes de lhe dizer.  Eu é que pedi o teste.

-  Vai ficar contente.   Ele gosta dela? 

- Adora.  Tem um menino com um ano a menos e desde o primeiro dia que se viram não se desgrudam.  É mesmo um amor entre irmãos.

- E a doutora como lida com tudo?

- Já estive muito mal.  Tenho muitos ciúmes da Leonor com outras pessoas.

- Mas é o pai.  E se vocês têm uma relação fica tudo fácil.

- Parece mas não é.
Vamos lá trabalhar.   Pode entrar a primeira criança.

Ali no meu consultório eu ouvia casos de crianças órfãs ou só com um dos progenitores que tinham uma vida tão difícil.   Havia ainda os que tendo os dois pais não eram bem tratados.
Por vezes era a avó que se deslocava às consultas e levava à escola porque os pais eram negligentes.

Que direito tinha eu de me sentir mal só porque a minha filha tinha uma mãe que a adorava e agora iria ter um pai que já a amava sem saber do parentesco.

Terminei o meu plantão e precisava decidir como contar a Rodolffo  e depois a Leonor.

Passei na casa dos meus pais e contei a eles.  Pedi para irem ficar com as crianças para eu conversar com Rodolffo.  Contei-lhes tudo e eles adoraram.
Eles gostam muito do Rodolffo.

Telefonei para ele e disse que ia jantar com ele mas sem os filhos.

O safado pensou logo em baderna, safadeza.

Passei numa ourivesaria e comprei uma pulseira com uma chapa gravada.   Numa face Leonor e na outra Miguel.

Ainda não é Natal mas eu não ia esperar.

Fui para casa,  avisei as crianças que iam ficar com os avós porque eu precisava de sair.

- Podia vir o tio, diz Leonor.

- O Rodolffo vai sair com a mamãe.

- Vão namorar, diz baixinho Miguel.

- Eu ouvi Miguel.   Vamos sim.

- Vocês estão sempre a namorar,  diz Leonor.   Podem namorar aqui.

- Seus pestinhas.  Hoje queremos namorar sem vocês.  Pode ser?  Vocês deixam?

- Deixamos.
Mamãe,  quando vamos morar todos juntos?

- Quando nós decidirmos.  Não está bom assim?
Deixem eu ir agora, na mo rar.

- Beijo mamãe
- Beijo mamã da Nônô.

Sai dali radiante.  De um momento para o outro o aperto no coração desapareceu e eu já não me sentia tão vulnerável.

Cheguei a casa de Rodolffo e quando ele abriu a porta atirei-me para os braços dele.  Dei-lhe um beijo tão apaixonado que quando nos separámos ele parecia uma barata to tonta.

- Que foi amor?  Ainda ontem nos vimos.  Que sofreguidão é essa?

-  Vem cá.  Senta-te aqui no sofá.
Toma, o meu presente de Natal.   Ainda falta uma semana mas eu não quero esperar.

- Tá.  Mas porque isto?

- Abre.  Já vais entender.

Rodolffo abriu a caixinha de veludo azul e retirou a pulseira começando a analizar.

- Miguel e Leonor.  Sim as crianças.   Não estou entendendo.

- Os nossos filhos.  O Miguel é como meu e a Leonor como tua, certo?

- Sim.  Amo a tua filha como o Miguel.

- Então toma este envelope, abre e lê com atenção.

- O que é isso?

- Só lê.

Rodolffo retirou o papel do envelope,  leu, olhou para Ju, voltou a olhar para o papel e começou a chorar.

- É verdade.  A Leonor é a minha filha com a Telma?

- Sim.  Assentiu Juliette.  A Leonor é a filha que procuravas.

Rodolffo abracou-a aos soluços e não conseguia falar.

- Nós a procurar e ela tão perto diz Ju.

Rodolffo apenas beijava Juliette nas mãos,  no rosto, nos lábios.

Já mais refeito do choque, puxou Ju para o colo e apertou-a contra ele.

- Obrigado por cuidares dela.  Nunca conseguirei agradecer o suficiente.

- Nem precisas.  Eu amei-a desde a primeira hora em que a vi.

Eu desconfiei quando andei à procura.  Por isso aquele afastamento.   Eu estava com ciúmes e com raiva porque tinha que dividir ela com outra pessoa.
Desculpa.

- E o teste?

- Lembras quando fingi que tinhas cabelos brancos e cortei?  Cortei mesmo uma mecha para o teste.

- Danada você.  Mas obrigado.
A nossa menina.  Eu não acredito ainda.
Por isso a conexão dela com o Miguel.  Irmãos sentem.

- Que presentão de Natal.   Agora como eu retribuo?

- Primeiro dás-me jantar.  Depois a sobremesa.

- Sabes o que os nossos filhos disseram quando eu disse que vinha sair contigo?
Que vínhamos namorar,  que estávamos sempre a namorar e já era hora de morar todos na mesma casa.

- Inteligentes.  Saíram a quem?
Mas eles têm razão.

Juliette,  aceitas ser minha namorada,  noiva, esposa e morar comigo e com os nossos filhos?

- Aceito.   Na minha casa que é maior.

- Maior até eu comprar outra.
Agora a sério,  amor.  Já andei vendo umas casas para comprar.   Vamos escolher juntos e juntar as nossas famílias?

- Sim.  Mas agora vamos jantar que estou faminta.  Hoje quase nem almocei por causa da ansiedade.

- Então vem amor.  Pedi lasanha e um assado.  Também tem pudim e bolo de chocolate.

- Nhamm, nhamm.

- Pena que não temos champanhe para comemorar.

- Mas temo-nos um ao outro.  Há lá melhor comemoração que um noite de amor!

Dá-me um abraçoWhere stories live. Discover now