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Juliette finalmente conseguiu permissão para adoptar Leonor.

Ela tinha namorado uma única vez ainda na faculdade mas terminou devido aos ciúmes dele.

Hoje ela saía com Jorge.  Empresário do ramo da restauração.  Tinham a mesma idade mas ideais diferentes.

Ele vivia brigando com ela.  Não aceitava a história da adopção.   Ia tolerando por ter a certeza de que nunca entregariam uma criança a uma mãe solteira.

Agora que a decisão tinha saído, tiveram mais uma discussão.  Juliette pôs ponto final no relacionamento uma vez que Jorge exigiu que ela escolhesse entre ele e Leonor.   Lógico que ela nem questionou. 

- Vai.  Já vais tarde.  Imagina ter que escolher?  A escolha é óbvia.

- Vais arrepender-te.  Essa moleca vai dar-te muita dor de cabeça.

- Problema meu.  Bazaaaa!

Juliette estava muito feliz com a decisão que tinha tomado.  Os pais deram total apoio e já consideravam Leonor como sua neta de verdade.

Enquanto isso em Lisboa,  Rodolffo desdobrava-se para que nada faltasse a Miguel.

Ângela tinha sido uma um anjo que apareceu na vida dele.  Tanto que a convidou para ser madrinha do pequeno.

Umas vezes ia buscá-lo para sua casa mas quando era por pouco tempo ia mesmo cuidar dele na casa de Rodolffo e aproveitava para o ajudar com as tarefas domésticas.

Miguel ia completar um ano e Rodolffo planejava ir visitar os pais de Rita.   Desde o seu nascimento nunca mais tinham visto o neto.

Convidou Ângela para ir e porque não tinha quaisquer compromissos decidiu acompanhá-los.

Os três chegaram de surpresa precisamente no dia do aniversário. Compraram o bolo e mais algumas guloseimas assim como diversas coisas para preparar o jantar.

Os avós ficaram comovidos com o gesto do genro a quem agradeceram por se lembrar deles.

Rodolffo reparou que os dois estavam mais debilitados do que a última vez e questionou se estavam passando dificuldades.

- Venham viver connosco em Lisboa?  Eu alugo uma casa maior.  Agora que terminei o curso e trabalho a tempo inteiro.

- Não filho.  Nós queremos terminar os nossos dias aqui onde está a nossa menina.  O nosso neto tem um pai maravilhoso, nós estamos descansados.

Passaram o fim de semana juntos e segunda regressaram a Lisboa.

- Rodolffo,  eu achei os avós do Miguel muito em baixo.

- Eu também.  Mas não posso fazer nada.  Eles nunca vão sair da aldeia.

Por volta da hora do almoço,  Rodolffo recebeu uma chamada do advogado.

- Meu amigo.  Podes regressar ao Brasil.  Tudo já foi esclarecido.  O verdadeiro culpado já foi preso e confessou.  O jovem agredido já fez o reconhecimento.  

- Que bom.  Finalmente, mas por agora ainda não posso regressar.  Ainda pode demorar um tempinho.

- Certo.  Só queria que soubesses que o caminho está livre.

- Obrigado.

Rodolffo não poderia voltar agora, não enquanto os pais de Rita vivessem e ele sabia que não seria por muito tempo.  O seu bébé também era muito pequeno para uma mudança tão drástica.

Agora fazia parte da equipa de advogados de um dos escritórios mais importantes de Lisboa.
O salário que auferia permitia-lhe uma vida desafogada.

Pensou em mudar de casa, mas, a proximidade de Ângela fê-lo recuar.
Não encontraria outra bábá igual a ela.  Já eram quase família.

Dois anos se passaram.

Rodolffo recebeu uma chamada urgente dos avós de Miguel.   Queriam vê-lo e ao menino com urgência.

Rodolffo pediu uma semana de férias no escritório e partiu para Trás-os-Montes.

Estava bastante frio nesse dia.  Rodolffo encontrou os dois sentados à lareira.  Era comum no Inverno.  Todas as casas têm lareira que se acende ao levantar e apaga ao deitar.

Como sabiam que eles vinham, tinham preparado um bom assado no forno de lenha, com um arroz de cogumelos silvestres.

Miguel olhava para o fogo da lareira com admiração e curiosidade.  Apesar da mesma ter protecção era necessário estar de olho na criança.

- Vamos almoçar.

Sentaram-se todos à mesa.  Rodolffo preparou o prato do filho com arroz e carne.  Juntou uma  rodela de tomate e alface.

Os avós estavam admirados com a educação do neto.  Comia sózinho quase como um adulto.

- A minha Rita, onde estiver, deve estar muito orgulhosa.

- De todos nós - respondeu Rodolffo.

Terminado o jantar,  a avó foi ao quarto e apareceu com uma caixa pequena, tipo caixa de sapatos,  onde havia várias fotografias deles e da Rita, assim como, alguns objectos pessoais.

- Gostaríamos que guardasse estes pertences para o Miguel.   Deve gostar de futuro de ter recordações da mãe.

- Guardo sim.  Pode ter a certeza que ela sempre estará presente.

O avô tinha um enorme envelope na mão.

- Rodolffo, nós tomámos uma decisão.
Estamos velhos, doentes e cansados de viver sózinhos.
No final deste mês vamos definitivamente para o lar da aldeia.
Alguns dos nossos vizinhos e amigos estão lá e é lá que queremos ficar.
Lá temos quem cuide de nós e podemos morrer em paz.

- Não digam isso.  Podem vir connosco para Lisboa.  Lá também serão bem cuidados.

- Não é igual.  E queremos ficar aqui.  Aqui estão as nossas raízes e também a nossa filha.

Então,  decidimos que o valor das nossas aposentadorias é suficiente para pagar a mensalidade do lar.

Já vendemos esta casa que era o único bem que tínhamos.  Teremos que entregá-la até ao final do mês.
Aqui neste envelope estão os documentos que te dão acesso a todas as nossas economias.  A escritura da venda e as contas bancárias.
Queremos que uses o dinheiro para criar o nosso neto sem lhe faltar o essencial e dar-lhe uma boa educação.

- Não posso aceitar.   É o fruto de toda a vossa vida.

- Que já não nos faz falta.  Teremos o suficiente para viver o resto dos nossos dias no lar.
Amanhã quero que vás lá connosco.   Vais ver que vamos ficar bem.

- Obrigado.  Prometo aplicar bem o vosso dinheiro na educação do Miguel.

Nos dias seguintes, Rodolffo visitou o lar, onde constatou que eles ficariam bem junto dos seus conhecidos e vizinhos.
Visitaram o túmulo da Rita que estava bem arranjado.

- Venho cá todas as semanas.  No início vinha todos os dias mas agora já me custa.

A semana estava a terminar.   Rodolffo deixou Miguel com os avós, comprou um ramo de rosas vermelhas e foi sózinho ao cemitério.

Depois de fazer uma oração disse;

- Talvez seja a minha última visita aqui mas quero que saibas que nunca te esquecerei e tudo farei para que Miguel tenha muito orgulho de ti.
Adeus, amor.

Saiu dali com o coração leve.

No dia seguinte despediu-se de todos e partiu para Lisboa.

Dá-me um abraçoWhere stories live. Discover now