Genesis 1:27

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O loiro acordou e não sentiu como se houvesse um peso em seus ombros, ele sentiu somente uma calmaria, seu coração não batia rápido, nem ao menos suava frio. Aziraphale não estava ansioso. Mas ainda havia algo de errado, algo que ele não conseguia entender, um incômodo que ele não sabe onde é, é como uma coceira onde ele não saiba aonde coçar. 

Foi até o banheiro, pegou a pasta de dente e a escova, olhou para frente observando seu reflexo no espelho. Ele viu que estava quase a imagem e a semelhança de seu pai, aquilo foi doloroso. Aziraphale sentiu uma vontade de quebrar aquele espelho em milhões de pedações e gritar até ficar sem voz. 

Não que ele odiasse seu pai, ele só sentia repulsa, no final das contas o havia perdoado. Seu pai se tornou um pouco agressivo quando Aziraphale começou a ter alguns jeitos femininos e passou a ser mais delicado que seus irmãos mais velhos, seu pai não chegou a expulsa-lo com palavras, mas suas ações diziam que ele não o queria mais naquela casa. O humilhando cada dia mais com reclamações diversas. Quando havia dinheiro o suficiente, Aziraphale saiu de casa deixando sua família para trás.

Aziraphale não o odiava, ele forneceria ajuda caso ele estivesse passando necessidade, cuidaria do mesmo caso seus irmãos decidissem o abandonar e com certeza choraria se o visse novamente. Ele ama seu pai e talvez esse seja seu maior castigo. 

O loiro cuspiu o resto da pasta de dente que residia em sua boca e a enxaguou, tentando não olhar para o espelho mais uma vez. Com passos apressados, saiu do banheiro segurando lágrimas que sabia que uma hora ou outra cairiam de qualquer forma, foi até seu quarto escolhendo uma roupa qualquer para passar o dia, dobrando de perfeita e metodicamente seu pijama, o guardando no armário. 

O resto de seu dia foi lento, ele trabalhava e parecia que nunca iria terminar, foi almoçar e parecia que a comida não ficava nunca pronta, as louças eram intermináveis e parecia que seu descanso não fazia efeito. 

Um livro foi pego em sua estante, pois fazia muito tempo que o mesmo não exercia uma de suas maiores paixões: a leitura. Seus olhos passavam pelas as palavras tentando imaginar as cenas descritas pelas palavras, o sol batia em seu rosto fazendo com que os vocábulos ficassem mais difíceis de serem lidos por causa da claridade que batia na lente de seu óculos de aro fino, seus devaneios eram processados por seu cérebro ao mesmo tempo que seus olhos processavam as palavras do livro em sua mão. No final ele estava como todos os dias, perdido em si mesmo, em suas memórias e pensamentos que não eram nada mais do que uma nevoa espessa e densa que parecia nunca se dissipar de sua cabeça. 

Duas batidas na porta foram ouvidas, seu coração bateu mais rápido, seus lábios formaram uma linha curva em um sorriso, seus olhos brilharam como diamante, ele sabia exatamente o que era e sabia que o deixaria feliz. 

Com calma, Aziraphale se dirigiu até a porta, girou a maçaneta e seu sorriso se alargou quando observou a magnólia que estava em sua porta. A apanhou sem ser brusco, deu um passo para trás, fechou a porta e suspirou.

A flor o acalmava, o trazia paz e, o mais importante, retirava a nébula de seus pensamentos. A magnólia foi deixada em cima da mesa.

"Querido diário, 

Eu quero saber quem é que me manda estas belas flores, de verdade. Essa pessoa me fez experimentar sentimentos que nem ao menos sabia que eu era capaz de sentir novamente, talvez se eu atender a porta mais rápido ou observar mais a janela eu encontre essa pessoa de coração tão puro. 

Muitos pensamentos se instalaram na minha cabeça hoje, é até difícil viver com tantos pensamentos na minha cabeça, nunca há silêncio e eu sempre estou em movimento. Eu não gosto de falar pois tem tantos barulhos que perturbam a minha cabeça e eu não quero que a minha voz seja uma delas. Eu não quero muitas coisas, mas não tem como controlar tudo ao meu redor, na realidade eu não posso controlar nada, nem mesmo meus pensamentos. 

Eu odeio meus pensamentos, porque eles me fazem me odiar. Me fazem perceber que eu não tenho nem ao menos uma personalidade e parece que eu só sou uma cópia de todos aqueles que passaram na minha vida. Me sinto um impostor. 

John Locke tem a teoria da tábula rasa, que diz que o ser o humano nasce sem conhecimento algum, uma tábula rasa e que por meio de experiências surgiria o conhecimento, a inteligência. Talvez isso seja adaptado para gostos também, através da experiência saber o que eu gosto ou não... Porém parece que a influência é maior que a experiência neste caso, o empirismo não funciona para mim, porque eu sou simplesmente influenciado muito facilmente, não ensinado ou algo do tipo. Talvez isso venha da minha criação, mas não tem como saber de qualquer forma, não vou procurar um psicólogo agora, nem dinheiro eu tenho, não tenho como curar os traumas de qualquer forma, mas esta tudo bem, muita gente não se cura não é? Talvez  levar os traumas para o túmulo seja uma boa opção, quem sabe?  Bem, eu não sei. Talvez ninguém saiba, as vezes a ignorância é um bom caminho a se seguir. 

Ignorar as coisas as vezes é melhor, há coisas na vida que não tem como fugir porém ignora-las pode ser uma salvação. Talvez não enfrentar a verdade seja a melhor escolha, seja mais saudável, porém pode ser uma ruína também, as vezes esses sentimentos são tão ignorados que eles começam a ficar reprimidos e se tornam uma bola de neve, se torna algo no qual dói até mesmo lembrar e acaba se tornando um ciclo interminável de agonia. Eu tenho vários.

Eu ignoro o quão meu passado me machuca, ignoro minha história e algumas vivencias para fingir que a dor nunca existiu, mas ela existe e eu não consigo ignorar isso, por mais que eu tente, a dor não vai embora. Aceitar a dor é a melhor maneira de lidar com os problemas, mas é tão difícil.

A dor é necessária, eu entendo mas por quê? Já é tudo tão difícil, eu não preciso da dor para fazer as coisas piores, eu não preciso de algo consumindo minha mente até o ponto de me fazer chorar, eu só queria que tudo fosse mais simples, é tudo tão... complicado, de qualquer forma não há nada que eu possa fazer.

Obrigado por ouvir meus lamentos, até amanhã."

Aziraphale observou a magnólia e a levou para o vaso de plantas improvisado, o Sol parecia muito brilhante e incomodava a córnea ocular do loiro, fazendo seu olho quase se fechar por causa da sensibilidade a luz. O estabelecimento que vendia café perto de sua casa estava cheio de pessoas e Aziraphale pensou nas histórias diferentes que cada um deles tem,  pensou em cada pessoa, até mesmo as despercebidas pois segundo ele, as pessoas que passam despercebidas são as que mais tem vivências. Pessoas são complicadas, Aziraphale sabia disso, mas ele desejava que ele pudesse as compreender por pelo menos um segundo, até mesmo a si mesmo. Aziraphale desejava entender seus próprios pensamentos e o que mais o loiro desejava era saber o porque seu pai o odiava tanto, já que o próprio Aziraphale o amava mais do que si mesmo. 

O loiro respirou fundo e sentou-se no sofá novamente, esperando que o destino parasse de o trazer tantos questionamentos.

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Hey anjos, mais um capítulo para vocês! Sim eu estou vivo kkkk, enfim me deu um bloqueio criativo tenso e só consegui escrever algo por esses dias e desculpem por estar um pouco curto também. O verso bíblico em questão é: "Então Deus criou o ser humano a sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou" Gênesis 1-27. Espero que vocês tenham gostado meus anjos <3

Ps: O feedback de vocês é importante, comentem, votem e façam críticas também! Isso é importante para o meu crescimento como autor para fazer fanfics cada vez melhores para vocês (:

Com amor, Júpiter ✨

© Júpiter, 2023.

𝐅𝐥𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐝𝐨 𝐒𝐢𝐥ê𝐧𝐜𝐢𝐨 || 𝐀𝐳𝐢𝐫𝐚𝐜𝐫𝐨𝐰Where stories live. Discover now