Entrevista para o meu subconsciente

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Quando sou entrevistado, me perguntam muito sobre coisas que eu não sei, como o futuro do mercado editorial e o que um novo autor deve fazer para escrever a primeira história

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Quando sou entrevistado, me perguntam muito sobre coisas que eu não sei, como o futuro do mercado editorial e o que um novo autor deve fazer para escrever a primeira história. Então, resolvi encerrar o ano sendo entrevistado pelo meu próprio subconsciente, assim posso falar sobre coisas que sempre tive vontade e nunca consegui. Eu posso ser um pouco cruel comigo mesmo, mas acho que o papo ficou legal.

O ano está quase acabando, a Ray Tavares escreveu quatro séries e doze filmes, o Vitor Martins lançou o livro dele em seis países. O que você fez?

Senti um pouco de julgamento nesta sua pergunta.

Longe de mim. Sou apenas o seu subconsciente

Trabalhei na divulgação da versão definitiva de Ick Perspectiva, chamada de Segredos Escondidos em Caixas de Sapatos. Fiquei feliz em encerrar esse ciclo na minha vida e me despedir do Ícaro. Também escrevi um novo livro chamado Os 5 Segredos de Anna que ainda não tem previsão de lançamento. Além disso, trabalhei em uma dezena de projetos audiovisuais próprios, mas essas coisas levam tempo.

Tipo, filmes e séries?

Sim, mas eu sei que a maioria desses projetos nunca verão a luz do dia. Funciona assim: você escreve boas histórias e leva para frente, mostrando para produtoras e tudo mais. Esse movimento te faz conhecer pessoas e oportunidades podem começar a surgir, não necessariamente naqueles projetos que você idealizou. É o que estou fazendo.

Cinema será uma espécie de novo foco seu?

Não necessariamente. Foi em 2023, mas não sei o que pode ser daqui para frente. Só quero contar histórias.

Você parece cansado...

Escrever muitas páginas de histórias que ninguém nunca leu é muito mais cansativo do que escrever com alguém lendo. É claro que meu trabalho como editor no Joca, o maior jornal infantojuvenil do Brasil, também é bastante cansativo.

Você não acha que muitas vezes usa a sua suposta exaustão no emprego como editor para disfarçar sua falta de esforço e competência?

Próxima pergunta, subconsciente. Próxima pergunta.

Voltando a falar sobre seus livros. Imagino que essa história nova seja contada por uma Anna, certo?

Certo.

Por que você escreve tanto na voz de personagens femininas?

Desde o começo da minha carreira os jornalistas me perguntam isso e eu já inventei um monte de respostas diferentes, mas a verdade é que eu não sei. Muitas das minhas histórias simplesmente nascem com mulheres contando. É natural assim. Quando estou pensando comigo mesmo, nunca sei dizer se a voz é masculina ou feminina. É o que é.

Qual personagem da literatura você mais se identifica?

Não sei se me identifico, mas eu gostaria de ser como o Willy Wonka, que está sempre criando coisas que impressionam as pessoas.

E o Wattpad?

Precisamos mesmo falar sobre isso?

Acho que sim. E o Wattpad?

Eu amo o Wattpad, o problema é que a plataforma não monetiza. E na minha idade, monetizar é importante. O Wattpad tinha me proposto uma solução que parecia boa, mas não foi para frente. É assim que ficamos até agora.

Você tem medo de ninguém gostar das suas novas histórias?

Sim, eu tenho.

Só isso?

Sim, medos são simples. Esperanças é que são complexas.

Como é envelhecer escrevendo para jovens?

Eu me lembro bem de quando as leitoras pararam de postar que queriam casar comigo e passaram a postar que gostariam de ser adotadas como minhas filhas, mas não tenho grilo com envelhecer escrevendo para jovens. Pedro Bandeira escreveu seus melhores livros depois dos cinquenta. Taylor Swift escreveu Folklore por volta dos trinta. John Hughes escreveu Curtindo a Vida Adoidado depois dos quarenta. John Green escreveu A Culpa é Das Estrelas por volta dos quarenta. Então, envelhecer até me parece bom. Mas não pretendo escrever apenas para jovens para sempre.

Você tem medo de envelhecer?

Tenho medo da deterioração física e mental. Só comecei a fazer exercícios físicos pensando na minha velhice. Por outro lado, se eu me mantiver saudável, a velhice pode ser uma fase bonita. Os idosos não pensam muito no futuro e os idosos espertos pensam pouco no passado. Então, me parece a única fase em que você está no presente. Penso no Pedro Bandeira escrevendo e frequentando feiras de livros com um sorriso muito vivo no rosto. Martin Scorsese acabou de lançar um filme maravilhoso aos 81. Eu penso mais na velhice do que a maioria dos homens de 31 anos que tem por aí. Mas acho que já é um avanço, porque andei pensando bem menos na morte.

Isso significa que as pessoas vão parar de morrer nos seus livros?

Não.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Nov 28, 2023 ⏰

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