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Avani sempre quis tirar uma vida. A dela, ou de outra pessoa, isso não importava.

Ela trincou o maxilar quando seu salto ficou preso na rachadura da ponte. Ela se agachou, desprendendo o salto antes de continuar perseguindo ele.

"Você não pode estar falando sério", ela disse.

"Eu estou falando muito sério", Tom disse enquanto vagarosamente continuou pelo caminho, ignorando o quanto ela lutava para acompanhar ele.

"Você disse que gostava de mim!" Ela exclamou, jogando as mãos pro ar. Quando ele não se virou para olhar ela, ela bufou em zombaria.

"Olha pra mim, caramba!"

Tom colocou as mãos dentro do bolso de seu casaco longo. Ele parou, se virando para ela. As bochechas da garota estavam coradas pelo frio, algumas partículas de neve agarradas aos seus cabelos escuros meia-noite. Seus lábios perfeitamente pintados de vermelho pareciam imensamente tocáveis agora que ela estava brava. Mas ele não podia fazer isso. Foi um lance de só uma noite com ela. Admitiu que estava subestimando  o número, mas ainda assim.

Avani deveria ser uma distração enquanto ele passava o inverno em Paris, uma diversão doce enquanto ele conquistava seguidores para a causa dele. Não era para ser mais do que isso. Só um passatempo.

Era irritante que ela tivesse ficado atraída por ele, mesmo eles tendo passado apenas duas semanas juntos.

Avani não estava brava porque o coração dela estava quebrando, apesar de ela poder ouvir ele se partindo. Esse não era o motivo. Ela estava brava porque tinha sido tão idiota, tão incrivelmente inocente. Ela odiava como ele tinha feito ela se sentir, tão vista e, oh, tão cuidada. Ela supôs que ele era um ator injusto de um abismo de sedutores distante. Pelo modo como suas maneiras haviam sido eminentemente persuasivas.

Ela observou Tom acender um cigarro, o brilho laranja pálido do isqueiro iluminando o rosto dele momentaneamente. Algo em que os dias anteriores pareciam ter falhado. Ele soprou uma nuvem cinza de fumaça enquanto se escostava no parapeito da ponte, o rio frio e suave correndo abaixo dele.

Avani arrancou o cigarro da mão dele, jogando-o no rio. Tom soprou na cara dela a fumaça que restava na boca dele. Ela abanou, afastando a fumaça.

"Você não pode fazer isso. Não na véspera do ano novo", ela disse.

"Olha, Avani, você é jovem e-"

"Isso não te impediu de pular na cama comigo"

Tom ignorou ela. "Você é jovem e acha que isso é o fim do mundo mas, de verdade, não é. Você vai achar alguém melhor."

Ela soltou o ar em zombaria.

"Para de agir como se fosse me pai. Eu tenho vinte e dois, não sou uma criança, porra", ela disse, exagerando um pouco sua idade.

"Ainda assim oito anos mais nova que eu", Tom disse.

Avani fez uma careta, imaginando como ele reagiria se descobrisse que ela é quatro anos mais nova do que tinha dito a ele. Quando eles se conheceram num bar, ela sabia que ele não se interessaria por ela se soubesse que ela só tem dezoito. Por isso ela usava batom vermelho. Fazia ela parecer mais velha.

Tom afastou um cacho escuro que beijou sua sombrancelha, então guardou as mãos cobertas por luvas nos bolsos do casaco. "Me olha nos olhos e diz que você seriamente pensou que isso iria funcionar, Avani. Não tem vergonha de correr atrás de um garoto?"

"Oh, oh, eu vejo o que está tentando fazer. Então você quer que eu me sinta envergonhada e não confronte você pelo idiota que você é. Que conveniente pra você, não é?"

Tom chacoalhou a cabeça, soltando um hálito que formou neblina.

"Adeus, Avani", ele disse, antes de se levantar e ir embora.

Avani apertou os dentes, sentindo lágrimas de frustração e de um coração partido umidecer seus cílios. Ela tirou os saltos, uma coisinha preta brilhante, e jogou nas costas dele.

"Seu bastardo do caralho!" Ela gritou, enquanto os saltos atigiam as costas dele entre as escápulas.

Tom riu, juntando o par de sapatos. Ele olhou para ela por um momento, os saltos na mão dele. Ele absorveu o rosto cheio de raiva dela, seus grandes olhos levemente vermelhos de lágrimas e os perfeitos lábios carmim. Ela era linda quando fúria envolvia suas veias.

Ele sequer deixou ela impedir antes de jogar os saltos dentro rio.

"Não, porra!" Ela exclamou enquanto corria para o parapeito, olhando o borrão preto ser levado pela correnteza. O frio atingiu seus dedos dos pés, e ela ficou lá, sozinha e indefesa na ponte, ano novo a apenas algumas horas, olhando Tom ir embora como se ela e o tempo que eles passaram juntos não significasse nada pra ele.

Galera, não joguem merdas na água e não poluam os rios.

Espero que tenham gostado desse capítulo, é bem superficial mas é importante para entender a história entre a Avani e o Tom.

Moonlit (t.r)- Traduzido Where stories live. Discover now