— Obrigada. — ela piscou devagar e sentiu o estômago revirar. Áster ficou pálida e Mellark soube que tinha algo errado.

"— Ninguém aqui está comprando o discurso do seu pai. — o garoto alto e ruivo riu em escárnio. O rosto dele estava ensanguentado e Áster sequer conseguiu identificar se era sangue dele ou de outra pessoa. — Você só veio aqui pra que os jogos continuem. — As grandes marcas de queimadura nos braços dele também chamavam atenção.

A arena era ambientada em um tipo de deserto e muitas árvores secas. Haviam cavernas e labirintos subterrâneos que Áster ouviu diversas vezes o pai dizer que ela não deveria ir até lá.

— E-eu — Áster tentou falar, mas sabia que era inútil.

Ela estava encurralada entre grandes pedras quentes e árvores sem folhas. À sua frente estava o menino do 7. Ele estava com raiva e talvez pensasse que a menina não tivesse culpa de tudo que o pai fazia, mas era a única forma de atingir o presidente. Ele queria que ela morresse nas mãos dele.

A garota estava com um grande corte no braço, causado por uma flecha de raspão mas já não sentia a ardência por causa da adrenalina. Ela estava com fome, desidratada e com sono.  Sentia a pedra quente em suas costas como uma panela sobre o fogo e ela era a refeição. Ainda haviam 12 pessoas na arena com Snow e ela sabia que sua hora estava chegando.

Antes que o rapaz fizesse algo, uma lança foi cravada nas costas dele, que caiu no chão segundos depois. Áster não viu quem era, já que a pessoa correu para o lado oposto. As mãos da menina tremiam e ela voltou a correr a procura de algum esconderijo."

Por fim, Áster descobriu que seu pai havia enviado uma pessoa para dentro da arena para que ela não fosse assassinada pelo garoto do 7. As cenas não foram ao ar e ninguém soube daquilo.

— Áster. — ela ouviu a voz de Katniss, que colocou uma mão sobre o ombro dela. — Está bem?

Tanto Peeta quanto Katniss perceberam que tinha algo de errado com a menina.

— S-sim. — ela forçou um sorriso. — Preciso sair daqui.

Ela não deu tempo para que nenhum dos dois falasse algo. Áster queria ajudar Katniss e Peeta contando o que sabia sobre habilidades de defesa e ataque, mas ver aquelas pessoas, as armas, ouvir ameaças não estava ajudando. Tudo remetia ao ano anterior.

A garota abriu a porta do quarto com dificuldade e procurou pelas pílulas em uma bolsa. Desde a volta dos jogos ela precisava carregar remédios para todos os lugares. Remédios para dormir, para amenizar suas crises de pânico e ansiedade, as crises de labirintite emocional, para não acabar dissociando com lembranças da arena. Ela tinha sorte de ter dinheiro para bancar tudo. Remédios eram caros. Afinal, a sorte estava sempre ao favor dela. Snow podia não ter morrido fisicamente nos Jogos, mas parte de si foi assasinada e deixada para trás.

As mãos tremiam, o ouvido apitava, a ânsia de vômito chegava. Ela encontrou um dos frascos para ajudar na crise de labirintite e tomou um comprimido com o resto d'água de uma pequena garrafa na cabeceira da cama. Como sempre, tomou outros três comprimidos para que os sintomas não evoluíssem para outras crises.

Snow se sentou na cama e fechou os olhos, colocando as mãos nos ouvidos, sentindo ódio de cada minuto de tudo que foi obrigada a passar. Ela se assustou quando sentiu mãos em seus braços minutos depois e arregalou os olhos com medo.

— Sou eu, Áster. — Peeta. — Sou eu. — os olhos da menina se encheram de lágrimas e o peso de tudo que viveu parecia cada vez maior. Mellark sentiu pena da situação em que ela se encontrava e temeu por si mesmo, pensando se teria tantos traumas se saísse vivo dos Jogos. — Está tudo bem, você não está sozinha. — o garoto se sentou ao lado dela e reparou no nariz vermelho, o corpo tremendo e a abraçou.

𝐂𝐀𝐓𝐂𝐇 𝐌𝐄 • 𝐏𝐄𝐄𝐓𝐀 𝐌𝐄𝐋𝐋𝐀𝐑𝐊Where stories live. Discover now