0.10: O anjo de mãos ensanguentadas.

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Essa luz, essa luz, por favor ilumine meus pecados
O sangue vermelho e irreversível está fluindo
Mais profundo, sinto que estou morrendo todos os dias
Por favor, deixe-me ser punido
Por favor, me perdoe pelos meus pecados
Por favor

STIGMA
O Arco do Sacrifício.
Parte um

Fazia muitos anos desde que a mãe dele os abandonou. Eram novos demais para entender por que ela teve que fazer isso, mas depois de um tempo a verdade pareceu bem simples para Taehyung.

Para encontar a felicidade, aquela mulher fez um pacto. Como todo bom pacto, ele precisava de um sacrifício equivalente, e o sacrifício que a mãe dele ofertou ao deus da felicidade foram seus dois lindos filhos. Os dois irmãos foram largados nas mãos de um homem perigosamente ferido pela dor do abandono.

Naqueles tempos dolorosos, o garoto teve seu primeiro entendimento sobre quem era o diabo e o que significava ser ele. Taehyung entendeu muito cedo que ele e sua irmã eram exclusivamente odiados por aquela figura maligna. Ela sempre permeou pela vida dos dois, sempre à espreita. O abandono apenas estreitou a proximidade.

O diabo era seu pai. Ele não acreditava que aquele homem estava possuído, nunca chegou a cogitar. Na verdade, seu pai era o diabo em sua forma mais autêntica.

Ele não tinha chifres e um rabo, muito menos era bonito. O diabo era covarde. Amargurado por ter sido deixado pela mulher, ele precisava de algo para fugir da própria realidade exatamente como vinha fazendo antes, mas de maneira bem menos descreta. Por isso, todo tipo de droga já havia entrado na casa em que Taehyung morava com sua irmã e seu pai, provavelmente não poderia contar nos dedos quantas. O fedor de álcool era o perfume natural daquele homem, sempre chapado.

Mas se embriagar não era suficiente. Não. O diabo também precisava de alguém em quem pisar para que pudesse se ver alguns centímetros mais alto das medidas da angústia. Sua mulher cumpria esse papel quando ainda estava com eles, mas quando ela se cansou dessa tarefa, a pendência acabou ficando para as duas crianças inocentes.

Então, dia após dia, ano após ano, os dois foram submetidas a coisas terríveis. Obrigados a viver num ambiente cheio de cheiros e visões e palavras repugnantes, seus psicológicos cada dia mais destroçados pelo o que saía daquela língua asquerosa.

Também tinham as orgias que Taehyung sabia que seu pai orquestrava dentro de seu quarto, os sons altos de obscenidades fazendo o garoto tomar a iniciativa de sair com a irmã nas ruas frias de Incheon e só voltar pela manhã do dia seguinte, que era quando geralmente tudo terminava.

Eles não tinham permissão para ficar com os vizinhos enquanto isso acontecia, ou quando seu pai estava drogado, pois o diabo não suportava ficar sem sua família. Seus dois lindos filhos importavam muito para ele, afinal, em quem mais pisaria? A solidão era como água benta para o diabo. Taehyung chegou a sentir pena do diabo no início.

Ele não tinha idade para entender por si só o que aqueles gemidos e tapas estranhos que vinham do quarto do diabo significavam, mas ele lhe fez entender uma vez, o obrigando a assistir para que “virasse homem de verdade”. Aquilo o quebrou de uma maneira irreparável.

O corpo de Taehyung sentiu sua ira colérica também, mas apenas o dele. Mesmo pequeno e magricela, nunca deixou o pai encostar um dedo em sua irmã. Depois desse acontecido ele pensou pela primeira vez em suicídio, mas sua irmã era a âncora que lhe impedia, presa na superfície do cais para que ele não afundasse. Contanto que ela estivesse bem e respirando, ele estaria lá para protegê-la.

PSYCHE • JIKOOKOnde as histórias ganham vida. Descobre agora