14 CULPA

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Ela continuou sentada ali se recusando a voltar para a vila. Não por teimosia, mas porque estava com medo – Tudo pode ter sido minha culpa... Se vierem atrás de mim vão... Vão machucar meus pais... – choramingou. O mago percebeu que só piorou a situação. Arrependido sentou ao lado dela.

– Não foi sua culpa... O nível de escuridão que havia nessa floresta e cidade, não eram normais... Desde que cheguei neste continente... – ele parou refletindo. Luiza levantou o rosto para receber as palavras de conforto, mas o mago estava com o olhar distante. Pensava sobre tudo o que tinha passado.

– Nunca foi sua culpa... Não acredito que isso está acontecendo... – disse Lucas pensativo.

– Do que está falando? – Luiza estava confusa.

– As trevas estão se reconstruindo nesse continente remoto... Eu fiquei enfiado nas florestas por muito tempo, nunca imaginei que as cidades estavam em perigo novamente... – refletiu o mago.

– Não estou entendendo... – a mocinha falou baixinho tentado entender.

– É complicado demais para explicar... Venha vou levá-la para a vila. Se ficar longe de magias estará segura. – dito isso se levantou e foi andando na frente. Mas ela ficou parada.

Lucas voltou-se irritado – Eu disse vamos! –

– Não vou até entender tudo! Os magos são bons ou ruins? Por que me salvou? Por que eu tenho esse sangue?... – questionou ela com os olhos curiosos voltados à face de Lucas.

O mago respirou fundo – Todos os humanos tem magia no sangue, alguns mais outros menos... A maioria dos magos são ruins, é melhor ficar longe deles... –, – Mas você é bom?... –.

Lucas travou, deixou os ombros caírem. Com a voz triste resolveu desabafar – Já usei magia negra. Naquela época fui levado ao erro, nem sabia que a luz existia... Depois de ser resgatado e aprender o caminho certo fiz igual a você. Abandonei o que foi meu lar e usei a luz por egoísmo. Estou tentando reparar meus erros agora. Você já viu que tipo de mundo espera os magos. É melhor voltar para sua vila, porque não adianta se esforçar. Você sempre acaba sozinho... –

Lucas apresentava frustração em toda sua face enquanto lembrava-se de Khoh e subitamente veio-lhe a feição de seu mestre. Odiando aquelas lembranças ele descontou tudo em Luiza – Se não quer minha ajuda eu vou embora... – deu as costas e seguiu seu caminho.

A mocinha ficou confusa com tudo aquilo e não acreditou que ele estava mesmo indo embora. Quando o mago sumiu entre as árvores ela se levantou e correu. Lucas ouviu-a gritar seu nome e sentiu-a agarrar sua mão de súbito – Não me deixe aqui! Buááá! Eu quero voltar para meus pais! –

O mago não disse nenhuma palavra, apenas a levou consigo. Luiza seguiu choramingando de mãos dadas com ele.

~ ~ ~

Ela não soltou mais a mão dele, principalmente quando o caminho se tornou íngreme e encontraram uma cobra – Não é melhor irmos pela estrada? – ela implorou.

– Não quero que nos vejam juntos. – disse ele temendo pela reputação dela.

– Mas você ajudou todo mundo... – falou Luiza com ingenuidade.

– Isso nunca importa... – Lucas demonstrava tristeza em suas palavras.

– Importa sim. Quando souberem que você limpou a floresta vão ficar agradecidos. – Ela tentou animá-lo e sorriu confiante para ele.

– Não funciona assim... Você é ingênua demais... – resmungou com irritação contida.

Luiza fez bico e puxou a mão dele para que parasse – Então não conte a ninguém que é um mago! Pode ficar lá na fazenda, eu me sentiria mais segura se ficasse. –

Lucas sentiu um calorzinho no peito – Guardaria o meu segredo? Eu poderia ter uma vida comum?... – disse esperançoso fitando-a com amor. O mago percorreu o rosto dela com o olhar.

– Claro que sim! O meu pai precisa de ajuda na fazenda. Se aceitar ganhar pouco... – Luiza o animava sem perceber as intenções que Lucas esboçava.  

Admirado com a gentileza da mocinha ele se deixou guiar por aquela conversa – Quanto podem pagar? –

– Err... Meu pai machucou as costas uma vez e tivemos que pedir ajuda... bem... O Fernando aceitou ganhar uma moeda de cobre por dia... Eu sei que é pouco. Mas vai ter quarto e comida... Ah! Minha mãe cozinha muito bem. Uma vez... –

Luiza continuou contando tudo sobre a fazenda e as comidas de sua mãe. Lucas ficou ouvindo atentamente, sonhando com aquela vida tranquila enquanto andavam de mãos dadas pela floresta.

~ ~ ~

Ao entardecer eles alcançaram o rio e Luiza totalmente alegre lembrou que havia uma ponte na estrada e com mais ou menos uma hora de caminhada chegariam à vila. Podiam até mesmo jantar com os pais dela naquela noite. Mas Lucas discordou.

– Vamos passar a noite aqui. – determinou ele.

– Não, e se um urso aparecer? – disse a mocinha olhando em volta assustada.

– Eu vigio não se preocupe. Além disso, está ficando frio eu vou fazer uma fogueira. – tirando seu casaco o colocou em Luiza, olhando-a admirado por um segundo.

Ela percebeu e ficou encabulada. Ele disfarçou e foi atrás de lenha, mas Luiza o seguiu e começou a pegar galhos secos também.

– Por que não quer ir logo? – questionou ela forçando uma cara brava.

– Eu... Adoraria ficar na fazenda com você... Mas seus pais nunca vão aceitar... – ele vacilou as palavras.

– Claro que vão! Se você aceitar aquele pagamento, meu pai não vai ter como recusar. Pode deixar eu convenço ele! – disse Luiza sorrindo soltando os galhos o chão e confiante acenou com a cabeça.

Lucas a olhou sorrindo enquanto lembrava-se das palavras da senhora Tebec – "Você não vai conseguir uma mocinha tão corajosa, nem mesmo uma tão tola ao ponto de lhe defender nas questões mais absurdas." –

Com isso em mente Lucas pediu para ela esperar até a manhã seguinte, pois seria mais fácil conversar com o pai dela durante o dia do que se eles chegassem perto da noite.

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Era Um MagoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant