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— Eu não acredito que ainda tenha essa masmorra — Eu disse assim que descemos pro porão debaixo do bar, vendo a fileiras de carros.

— Olha só isso! — Hobbs disse observando os carros de luxo. — É para compensar o seu tamanho?

Ou representá-lo. Pensei comigo mesma.

— Na verdade, é pra tirar a atenção de mim — Deckard respondeu, fazendo Hattie e eu segurarmos a risada.

— Olha esse pequenininho, é do seu tamanho — Hobbs apontou para o menor dos carros, um Mini Cooper MK3 italiano que eu sempre disse que era mais feio do que o próprio capeta.

— Foi para um trabalho na Itália — Deckard explicou. — Pena que eu não precisei de um levantador de peso. Senão, tinha te chamado.

— Ele continua mais feio que o capeta — Falei olhando com uma careta para o carro. Deckard me olhou, um sorrisinho escondido no rosto. Parecia estar tendo um déjà vu.

Me sentei no sofá de couro que tinha ali, vendo Hattie ir até a mesa de bebidas.

— Bebida? — Ela perguntou, olhando pra Hobbs.

— Sim, eu gostaria de um gole. — Ele sorriu e Hattie colocou a bebida no copo.

Eu dei risada quando vi ela encher o copo até a boca e entregar a ele. Eu estendi a mão e peguei o copo quando ela me ofereceu uma dose. O líquido desceu queimando pela minha garganta quando eu bebi.

Hobbs e Hattie logo vieram pra ver o que Deckard fazia nos monitores.

— Vou falar com alguém em Moscou, uma velha conhecida. Temos uma longa história— Ele disse, nem um pouco confortável. Estreitei meus olhos para a imagem embaçada no monitor, tentando ver quem era. — Ela e a equipe estão visitando um certo grupo criminoso russo, eles tem o que precisamos.

— Falando em amizade, quantas vezes atirou nela? — Hobbs perguntou e eu dei um sorriso bebendo mais um gole do whisky.

— Podemos nos equipar e ainda não ouvi outras ideias — Deckard disse, novamente sem paciência. Deveríamos comprar um calmante.

— Sabe tão bem quando eu que sair do país vai ser extremamente difícil — Hobbs disse. Hattie levantou-se do sofá ao mesmo tempo que eu. — Todas as grandes agências estão nos caçando.

— Sem falar das ex-MI6 que traíram a equipe — Hattie disse, a indireta sendo certeira em Deckard.

Eu vi Deckard olhar pra ela por poucos segundos antes de desviar os olhos, nem um pouco confortável. Eu vi o quanto aquilo o machucava e por um momento, senti pena dele.

— Não acredite em tudo o que eles dizem — Ele disse, andando até ela. — Sorria — Disse apontando o celular pra ela.

Hattie levantou o copo e sorriu pra câmera enquanto Decks tirava a foto. Ele fez o mesmo comigo que estava ao lado dela. Ele se afastou e Hattie me olhou, desconfortável com a situação. Eu levantei os ombros como quem diria "bem feito".

— O que fazemos sempre, não funcionará. — Hobbs voltou a dizer. — Temos que tentar nos misturar.

— Se esconder bem a vista — Eu disse, virando o whisky garganta a baixo.

— Por isso que vamos de voo comercial — Decks disse simples e eu fiz uma careta.

Não era isso que eu queria.

— Assim, seremos descobertos facilmente — Hobbs falou. Deckard pegando o celular e tirando uma foto dele sem nem mesmo olhá-lo.

— Uhum, tô com ele, primeira classe é bem melhor — Eu disse e Deckard virou o rosto para sorrir pra mim.

— Não force seu cérebro de ervilha, resolvi isso. — Deckard se afastou dos monitores e foi até o outro canto, mexendo em uma maleta. — Clonei os sinais telefônicos por todo o mundo. Deve nos dar, no mínimo, 48 horas.

— É só o que temos — Levantei os ombros com indiferença.

— Pegaremos equipamentos novos em Moscou. Usaremos isto para passar pelo aeroporto. — Deckard jogou um pacote de roupas pra mim e para Hattie. — Isto deve ser a única coisa que irá te servir. — Jogou um pacote para Hobbs.

— Servir em quem? Um Smurf?

— Acho que usei isso uma vez. Peço desculpas, antecipadamente, se ficar frouxo no saco. — Deckard disse e eu tossi para disfarçar a risada. Diferente de Hobbs.

— Beleza. O que temos, fortão. Vamos. — Hobbs virou para o monitor vendo nossas fotos ali.

— Criei novas identidades e alterei os perfis biométricos para não reconhecerem seus rostos e digitais. — Deckard veio até a gente com pastas na mão, entregando uma para Hattie. — Você é Sarah Atkins. Trabalha com seguros.

Olhei a foto na pasta aberta e dei risada.

— Cabelo curtinho combina com você — Eu disse e recebi uma cotovelada nas costelas. — Ai!

— Você é Nicole Hawkins, uma corretora — Decks me entregou a minha pasta. Eu a abri, vendo que a foto ali era antiga. Eu sabia exatamente de onde era aquela foto, mas não fiz questão de perguntar, o olhar significativo de Deckard pra mim me impediu de falar qualquer coisa.

— Você ainda estava de cabelo comprido — Hattie diz olhando a foto e eu acenei com a cabeça. Meus cabelos batiam em meus ombros agora. As pastas antigas me indicavam que foram feitas a muito tempo.

— Sou Franz Gruber. Sou um arquiteto freelancer. Aprendendo alpinismo e instrutor de esquí em meio período. — Deckard disse com um ar convencido e eu revirei os olhos.

— Se achando — Resmunguei baixinho e ouvi ele rir.

— E você... — Deckard olhou para Hobbs, o humor brilhando em seus olhos. Eu sabia que coisa boa não sairia dali. — É o Tom Turbando. — Hattie, eu e Hobbs olhamos pra ele confusos mas ele não deu mais nenhum detalhe, foi direto trocar de roupa dando as costas pra gente.

Não fazia sentido Tom Turbando ser engraçado pra ele. Tentei entender qual era a piada, mas nada me veio à cabeça, então decidi apenas ir me arrumar.

Segui pelo caminho já conhecido e entrei no banheiro daquela masmorra macabra que Deckard usava como garagem. Suspirei ao me olhar no espelho e ver a minha aparência cansada. Eu parecia ter envelhecido anos. Isso não era nem um pouco legal.

Tomei um banho muito rápido, apenas pra tirar a sujeira do corpo e me arrumei, colocando o vestido vinho de tubinho que ia até os meus joelhos. Tinha mangas longas e era justo ao corpo. Era do meu tamanho, porém eu tinha engordado um pouco de uns meses pra cá então estava bem apertado, marcando cada curva do meu corpo.

Me olhei no espelho e fiquei dividida entre me achar gostosa ou gorda. Coloquei saltos pretos agulha e sobretudo preto. Eu estava me sentindo a própria Anastasia Steele nesse vestido.

Suspirei e coloquei a maldita peruca castanha que batia até o meio das minhas costas, xingando enquanto prendia ela no lugar. Me olhei no espelho mais uma vez e saí do banheiro.

— Tá legal, da próxima vez que eu tiver que colocar uma peruca de novo, eu vou matar alguém!

Laços - Deckard Shaw (Livro Um)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora