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— Como é que se troca isso? — Ouvi Deckard perguntar do quarto e suspirou irritado.

Largando a escova de cabelo na pia, saí do banheiro e o vi tentando inutilmente tentando trocar a fralda de Marcus. Eu ri, minha risada sendo repetida pelo bebê. Deckard me olhou com cara feia e revirou os olhos.

— Isso, se divirta as minhas custas — Ele resmungou, largando a fralda e indo em direção ao bar da suíte.

— Eu tenho pena dos seus filhos no futuro — Eu disse, indo em direção ao meu sobrinho e colocando a fralda nele enquanto brincava com o mesmo.

— Com uma mãe igual a você, eles estarão salvos — Ouvi Deckard resmungar tão baixo, que eu desconfiei que não era pra eu ter ouvido, então não respondi.

— Vamos encontrá-los onde? — Perguntei, pegando o bebê já vestido no colo e me aproximei do Major no bar, pegando o copo de whisky da mão dele e bebendo o resto da bebida que tinha no copo. Fui alvo do olhar rabugento dele, mas não me importei.

— Se queria uma dose, era só ter pedido — Ele resmungou e eu dei um sorriso, piscando pra ele inocentemente.

— Porque eu pediria se você já tinha colocado o seu? — Movi as sobrancelhas sugestivamente e ri enquanto pegava minha jaqueta na poltrona e saia da suite, ouvindo ele xingar baixo antes de me seguir.

— Por que sempre um Martin? — Eu perguntei vendo o Aston Martin azul marinho reluzente estacionado em frente ao hotel de luxo que nos hospedamos.

— Por que são muito melhores do que os seus Mustang — Ele disse na maior cara de pau, sorrindo pra mim enquanto abria a porta do carona.

— Depois que levar um tiro, não venha reclamar comigo — Eu avisei, entrando no carro com o bebê em meu colo.

Ouvi ele rir e fechar a porta, indo para o banco do motorista e começar a dirigir.

— O que vai fazer depois daqui? — Ele perguntou, os olhos na estrada.

Eu não sabia exatamente onde ele queria chegar, mas não era a primeira vez que ele tentava puxar assunto comigo quando não era necessário.

— Eu ainda não sei. Talvez voltar a me isolar? Ou talvez voltar a trabalhar — Eu levantei os ombros com indiferença. Eu tinha recebido uma oferta do Ninguém de voltar para o MI6 e eu estava realmente considerando a possibilidade.

— Onde? — Ele perguntou, olhando pra mim por um segundo.

— MI6. — Respondi, brincando com o bebê no meu colo que estava tanto silencioso, prestando atenção na conversa, que parecia compartilhar do mesmo nervosismo que eu.

Marcus estendeu a mão, tocando minha bochecha e subindo para o meu cabelo. Parecia entretido com as mexas loiras e eu sorri pra ele, vendo ele sorrir de volta.

— Hum — Foi tudo o que Deckard respondeu.

Nenhum dos dois falou qualquer palavra depois disso.

Quando chegamos, nós dois subimos pro terraço. Entreguei meu sobrinho para Deckard e corri em direção a Letty. Nós duas nos abraçamos, nenhuma de nós disse nada, apenas aproveitando o abraço.

— Eu estava preocupada — Ela disse assim que nos afastamos. — Disseram que estava morta — Ela olhou em direção a Ninguém e Ninguénzinho.

— Eu estou bem, estava com Deckard — Expliquei, rindo quando ela fez uma careta. Eu não a julgava.

— Você está bem? Parece diferente, mas um diferente ruim — Ela me conhecia demais e isso era assustador.

— Estou com medo do futuro — Eu expliquei em um sussurro, olhando para Deckard conversando com Dom a alguns metros de nós. — Eu queria que ele fosse diferente. — Falei mais para mim mesma, ainda encarando o Major.

— Talvez ele seja — Me virei pra Letty e levantei a sobrancelha esquerda, em uma pergunta silenciosa. — Você o ama, Lottie, isso é óbvio até pra uma mosca. Ele também te ama, mesmo que não saiba demonstrar — Letty fez uma careta. — É estranho estar falando bem dele.

Eu dei risada.

— Eu vou voltar pro MI6 — Eu disse e vi ela arregalar os olhos.

— Sério?

— Sério — Confirmei e vi ela suspirar triste.

— Vou sentir sua falta — Ela volta a me abraçar e eu retribuo. O ar agora de despedida.

— Também vou — Sussurrei.

Ficamos assim por mais alguns segundos antes de nos afastarmos. Eu vi Dom se aproximando com o bebê no colo e vi minha deixa para sair. Sentei na mesa ao lado de Deckard e fiquei brincando com o garfo enquanto ficava perdida na minha própria mente.

— Tem alguma coisa que a faria mudar de ideia? — Ele perguntou. A voz não passava de um sussurro.

Eu pensei antes de responder. Pensei por quase um minuto inteiro. Tinha pelo menos uma coisa que me faria ficar, mas eu sabia que isso nunca aconteceria.

— Não, nada. — Respondi, sem ao menos me dar o luxo de olhá-lo.

Ouvi ele suspirar, sua mão ao lado da minha na mesa se aproximou alguns centímetros e então parou. Eu olhei para a mão dele, internamente esperando que ele avançasse mais um pouco. Meu coração falhou na batida quando sua mão voltou a ficar em cima de suas pernas, entrelaçadas uma na outra, os dedos se apertando.

Por que está se segurando tanto, Deckard?

Fui tirada dos meus pensamentos por meu irmão e minha cunhada que se aproximaram da mesa.

Eu estava tão focada em minha própria bagunça que perdi boa parte do discurso do meu irmão, pegando apenas o final quando ouvi meu irmão dar o nome ao filho.

— Conheçam o Brian! — Ele disse, fazendo todos aplaudirem.

— Puxa saco! — Eu disse por cima dos aplausos, rindo junto com Letty.

Meu irmão revirou os olhos pra mim, sorrindo tão grandemente que todos estavam sendo infectados por sua felicidade. Dom se sentou à mesa e todos demos as mãos. Deckard e eu nos olhamos por alguns segundos antes de pegarmos a mão um do outro, um choque atravessando o meu corpo com o toque frio e áspero da mão calejada dele.

Eu me arrepiei dos pés à cabeça. Ele não parecia diferente, pela postura tensa que ficou. Fechei os olhos e rezei silenciosamente, totalmente ao contrário do meu irmão. Eu rezei por um futuro melhor, um futuro ao qual eu fosse feliz e que a dor fosse apenas passageira.

Uma dor momentânea para mostrar que nem sempre a vida é um mar de rosas. Eu imaginei como eu queria o meu futuro e eu me senti uma tola por ver que na visão, Deckard estava comigo. Quando a reza acabou, abri meu olhos e soltei a mão de Deckard, começando a comer.

Me deixei ficar distraída pelas brincadeiras, histórias e piadas que rondam a mesa. Deixei a felicidade infiltrar o meu coração para afastar a tristeza e culpa de abandoná-los.

Olhei para Letty do outro lado da mesa e ela sorria pra mim. Eu sorri de volta, vendo ela piscar pra mim enquanto levantava a long neck de Corona em um brinde. Eu repeti o gesto.

Talvez viver não seja tão ruim. Eu pensei, o desejo de momentos melhores invadindo minha mente.

Laços - Deckard Shaw (Livro Um)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora