04 - Envious

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A penumbra noturna trazia sombras por todos os cantos de Seoul, o vazio da noite era o mesmo vazio que habitava o coração de Soobin todos os dias. A depressão parecia dominá-lo mais e mais. 

Seu corpo magro e pálido estava jogado sobre a cama, seus olhos estavam cheios de lágrimas, e seus pulsos, cheios de cortes. Era possível que não pudesse ficar apenas no novo mundo e deixasse aquele para sempre? 

A dor do sangue fresco manchando os lençóis brancos alvos eram terríveis, porém nada doia mais do que sua cabeça, que carregava uma mente triste e cansada. As lágrimas que lhe encharcavam a peie brilhavam com a luz noturna da janela, que trazia sobre si uma aura tão pura e inocente... Como podia um rapaz como aquele sofrer tanto? Como era possível que houvesse tanta melancolia e dor num garoto tão angelical? Sua vida parecia uma tortura sem fim.

Soobin começou a pensar em seu passado, coisas boas que lhe aconteceram, lembrando-se de quando era apenas uma criança, um garotinho nascido em Ansan, que tinha ótimos amigos e boas notas na escola, mas... Que nunca teve grande amor e carinho vindo de seus pais. A avó materna de Soobin fora quem o criou, que sempre dava ao rapaz muito afeto e atenção, ficando ao lado dele até seu falecimento. Ver a única pessoa que parecia realmente ter algum amor por ele o quebrou por completo. O doce sorriso que predominava os lábios de Soobin quando sua avó estava viva, simplesmente morreu em meio ao choque de olhar aquele caixão fechado, sabendo que, ali dentro, jazia o corpo da pessoa a quem ele mais amava. 

Depois daquele dia, Soobin ficou dias isolado, sendo refém da tristeza que o predominara desde então, enquanto os seus pais, apenas trabalhavam e mal iam vê-lo. Tolerar tudo aquilo, para Soobin, parecia ser o mesmo que atirar no próprio estômago, apostando na sorte de não saber se você vai ou não sobreviver. Nada do que tentava fazer para animar-se chegava a ser um conforto para ele, sobrando apenas três fatídicas opções: Drogar-se para dormir, ir embora de casa ou, a mais tentadora, suicidar-se. 

O garoto loiro teve de suportar tudo até seus dezenove anos, quando enfim, foi capaz de enfrentar o medo de perguntar aos pais o porquê eles nunca tiveram tempo para ele e sempre davam mais valor ao trabalho. Uma pena que, ele ouviria coisas que nunca imaginou que sairiam da boca deles. 

"— Você é um ingrato, Soobin! Nós sempre te demos tudo!" 

"— Se soubéssmos o quão mal agradecido você seria hoje em dia, teríamos optado por te deixar num orfanato!" 

E ele saiu de casa. Com apenas algumas roupas numa pequena mochila, seu celular e sua carteira. Ele nunca mais iria querer voltar. 

A pressão psicológica já era ruim quando vinda da escola, mas imagina quando ela vem de seus próprios pais? A situação parece se agravar o triplo. Mas, por sorte, sua avó lhe guardou um pouco de dinheiro — que não era muita coisa, mas serviria perfeitamente para o sustento de uma só pessoa — fora passada para o nome dele, sem que nada soubesse. Era como se a velhinha já prevesse tudo o que viria a acontecer com seu querido neto, que após andar poucos passo para fora de sua casa, lembrou-de das últimas palavras da própria. 

"— Eu juntei uma quantia de dinheiro para você, querido, ela está guardada no banco. É tudo seu, vá até lá e pegue tudo." 

Se não fosse pelo amor de sua avó, em ter pensado nele e guardado aquele dinheiro, Soobin teria morrido nos primeiros dias longe de casa. Morrido de fome e falta de abrigo. 

Ele alugou um apartamento comum para viver, comprou roupas e fez alguns amigos, que moravam ali perto. Os amigos eram Yeonjun e Beomgyu. 

Os garotos tinham boas relações com a sua família, o que fazia Soobin sentir inveja. Inveja de não ter pais que o amavam de verdade, inveja de nunca ter tido um amor que não fosse o de sua avó, que estava morta. Ele sentia inveja, muita inveja. Porém, ainda amava os seus amigos, por sempre suportá-lo, apesar de tudo. 

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