Gael.
Embora tivesse insistido muito, meus pais me obrigaram a ir e me divertir, enquanto resolveriam os problemas, me dando um "descanso", portanto não tive como fazê-los mudar de ideia.
Para o meu azar, tive que ficar na mesma barraca que Kaylian, pois às outras já estavam cheias e eu não tinha levado a minha.
Após comermos, fomos observar o cometa passar, entretanto também teríamos que dividir o telescópio, pois era caríssimo e eu não tinha dinheiro para ter um naquele momento.
- Não estou conseguindo ver - falei, somente a mim.
Kay escutou e se aproximou.
- Está na posição errada - articulei, segurando meu braço e endireitando a altura. Não adiantou.
- Ainda não consigo ver - murmurei, perdendo a paciência e quase desistindo.
Kay soltou um suspiro preguiçoso e pôs a mão na minha cintura, levando-a para direita sutilmente, em seguida colocou as mãos longas em meu queixo, o erguendo delicadamente. Senti um frio na barriga.
- E agora? - Ergueu a sobrancelha onde ficava o piercing. Fitei seus olhos azul-oceano, sem conseguir responder.
Por mais que odiasse admitir, seria fácil se perder naqueles olhos.
- Eu vou dormir, guarda na minha mochila, já fiz as anotações - Passou a mão pelos cabelos lisos e escuros, desviando olhar.
Assenti. Logo fui entrar também, todos já tinham ido dormir, hesitei um pouco ao vê-lo deitado, sem camisa e ainda acordado no chão forrado da barraca.
- Não vou te morder Gael - articulou, erguendo os olhos azuis.
- Fica aí no seu canto - Avisei logo, deitando no espaço livre do seu lado.
- Nem que eu quisesse chegaria mais perto, embora goste de dormir agarrado com alguma coisa - Deu um sorriso ladino, esticando os braços acima da cabeça.
- Você me odeia, se fosse dormir abraçado em mim, seria para me matar enforcado no meio da noite - O fitei diretamente.
- Eu não te odeio - disse, tão baixo que quase não escutei.
- Não? - indaguei, ajeitando meu travesseiro.
- Por que acha isso? Só por que tivemos alguns desentendimentos? - Riu, virando de lado para me encarar.
- Quebrar uma guitarra nas minhas costas, tentar me matar afogado e apagar um cigarro em mim, não é exatamente desavença, você me odeia desde que nos entendemos por gente - retruquei, virando de barriga para cima.
- Só queria entender o por que? - Tive coragem suficiente de questionar pela primeira vez, as palavras praticamente pularam.
Kay levantou e saiu, fugindo da pergunta.
O segui, indo até as pedras grandes poucos metros longe das barracas e da fogueira. Talvez me arrependesse dessa decisão impulsiva, mas a vida é isso, somos feitos de tentativas e arrependimentos.
- Sempre diz o que pensa, por que se calou agora? - Simplesmente não fazia sentido. Nunca teve freio para dizer o que dava na telha quando o assunto era eu, por que motivo se calaria agora?
Fui ignorado.
- Kaylian! - Quase gritei, exigindo que respondesse.
- Inferno! Você me irrita! É esse o motivo, satisfeito? - Se apressou em dar justificativa, talvez se sentindo pressionado.
Kay pôs o cigarro entre os lábios e o acendeu tirando isqueiro da bermuda bege cargo.
- Não tem coragem de me dizer? - Insisti, sufocado pela dúvida que sempre tive.
YOU ARE READING
Somos feitos de sangue e mentiras [Finalizada]
RandomTaissa é uma estudante de astronomia que por obséquio do destino acabou se afastando de seu amigo. Quando as aulas voltaram na universidade em que estudam, os dois retomam convivência, ela acaba notando estranhos comportamentos do ex-amigo, sem imag...