— Nada — Ele disse se recompondo — É só que você fica linda brava.

Meu rosto relaxou desmanchando toda aquela pose raivosa, as palavras de Apolo me deixaram surpresa e tímida, acelerando meus batimentos cardíacos. Ele estava olhando nos meus olhos, com um sorriso agradável e sincero, o que me surpreendeu ainda mais. Quando me dei conta, estava mordendo meu lábio inferior com força, desviando o olhar.

— Bom, é isso. Obrigada pela carona até aqui.

— Me diz, Anelise. Quando vamos falar sobre aquilo? — ele se aproximou de mim, os passos eram como de um felino. Os olhos curiosos vagando pelo meu rosto, como se estivesse me estudando.

— Aquilo? — franzi o cenho.

— O beijo.

Engoli seco, meu peito de novo estava acelerado e minha respiração se prendeu.

— Não temos nada pra conversar sobre isso, eu agradeço por ter me ajudado e só posso dizer que não foi em vão.

Vi sua testa formar uma carranca, o seu olhar tinha mudado, incomodado.

— Ele beijou você? — Perguntou com a voz mais grave do que o normal.

— Apolo, não vamos começar com esses tipos de perguntas. Eu preciso entrar, obrigada de novo. — Eu comecei a dar uns passos para trás, na tentativa de me afastar.

— Tudo bem, não vou avisar mais você.

A expressão no seu rosto do loiro estava séria e desapontada. Por um momento, me deu uma pontada no meu peito, era como se em algum lugar da minha mente não quisesse que Apolo se sentisse assim e que implorasse para ele ficar. Era como se eu estivesse dividida de alguma forma, questionando os meus sentimentos pelo o Theo, alucinando com Apolo e desejando o toque do loiro de novo.

Talvez seja apenas uma atração física.

Meu cérebro pifava com tantos pensamentos e sentimentos confusos, além de me preocupar com romances mal resolvidos, minha mente estava nas provas finais do segundo bimestre, as férias estavam mais perto e a meta era garantir notas altas. A preocupação era tanta que quase não havia tocado na comida do refeitório da escola.

— Meu encontro com Theo foi realmente divertido — Comentei tentando afastar os pensamentos negativos — Acredita que ele me deu um livro do crepúsculo?

— Nossa, um dos livros que mais você queria. Isso quer dizer que vocês se beijaram? — Lucca perguntou franzino o cenho, parecendo com nojo.

— Sim e foi muito bom — Eu falei com gosto, tirando uma careta de Lucca.

— Anny, você não tem outro assunto além do Theo? — Jade perguntou entediada. Fiquei um pouco ofendida com a pergunta, franzino a testa, confusa.

— Que bicho te mordeu?

— Os pais — Lucca respondeu de imediato — Querem colocar ela no colégio interno.

— O que? — Eu arregalei os olhos — Por que não me contou, Jade?

— Talvez porque você vive girando em torno do Theo? — O meu amigo ao lado respondeu por ela, usando um tom de voz muito mais irônico. Eu suspirei, me sentindo um pouco culpada.

— E por que eles querem fazer isso? — Perguntei olhando pra Jade, que tinha olheiras fundas.

— Por muitas coisas, mas quando eu escapei do castigo pra ir em uma festa e voltei bêbada pra casa foi o ápice pra eles — Ela encostou a cabeça na mesa e eu passei as mãos pelo o cabelo dela, deslizando pelos os fios negros.

— Eles não podem fazer isso, apesar das suas escapadas pra festa, você se esforça na escola. — Tentei conforta-la.

— Pra eles, eu tô me tornando inútil e dando muita dor de cabeça. Eles querem que eu me comporte igual a minha irmã, que é formada, tá pestes a se casar e que segue as regras de etiqueta — Sua voz parecia revoltada e seus olhos estavam cheio de lágrimas.

Me levantei para ir sentar na cadeira ao lado dela e passei meus braços em volta de seu tronco, a abraçando. Sabia que para Jade o pior era não ser compreendida, não ser ouvida e deixar de ser ela mesma, tirando todo o seu jeito liberal.

Depois de um tempo consolando Jade, fui ao banheiro urgente pois estava apertada e rezava mentalmente para o professor não reclamar do meu atraso na aula. Entrei em uma das cabines com rapidez e agilidade. Meus ouvidos foram invadidos pelo o som de alguém entrando no banheiro, resmungando algo.

— Mãe, eu não preciso da sua lição de moral agora. Depois eu me resolvo com o papai. — A voz que ressoava pelo o banheiro, era de Lavínia.

— Não, você não entende! Ele não pode me cobrar sinceridade se ele é um mentiroso também. Se eu não tivesse descoberto a verdade a muito tempo atrás, com certeza até hoje mentiriam pra mim.

Treta familiar.

Parece que todo mundo estava entrando na deprê.

Minha curiosidade estava me matando por dentro, eu queria saber da fofoca toda, mas então a loira ficou em silêncio por alguns segundos antes deu abrir a porta da cabine. Vi ela arregalar os olhos e depois lançar um olhar torto na minha direção.

— Eu tenho que desligar depois nos falamos — Lavínia falou baixo, desligando o celular com um clique e eu apenas fiquei sem olhar no rosto dela, lavando minhas mãos na pia de maneira cuidadosa. — Você estava ouvindo tudo?

— Sim, não tinha como não ouvir — Falei insegura — Mas vou fingir que não ouvi nada. Não sou fofoqueira, Lavínia.

A loira soltou um suspiro, apoiando as mãos sobre a pia. Seus olhos estavam brilhando com as lágrimas, a sua postura havia mudado, revelando suas inseguranças.

— Problemas com os pais? — Por um segundo meu cérebro ficou surpreso pelo o que tinha saído da minha boca.

Ela lançou um olhar de canto pra mim, depois encarou o grande espelho do banheiro.

— É, minha mãe me sufoca às vezes — A loira confessou, transbordando todo seu cansaço. Lavínia abriu a torneira e molhou seu rosto — Às vezes eu só queria esquecer.

Eu finalmente a olhei.

— Sabe o que me ajuda? Fazer alguma atividade física. Tenta correr enquanto ouve música, pular corda, jogar queimado, bater em saco de pancada.

— Bater em um saco de pancada? — Lavínia questionou com um meio sorriso.

— Sim? Vai que você gosta — eu sorri de volta.

— Vou ver se tento algum dia — Ela disse e eu me virei para sair do banheiro — Apolo te contou da minha festa?

— Ah, ele comentou alguma vez sim — Respondi tentando me recordar.

— Espero que ele tenha dito que vocês estão convidados e também convidei a Camila — confessou, me fazendo franzir o cenho.

— Sério? Ela vai?

— Ela me contou que ia.

— Que bom então — o ciúmes estava subindo pelo o meu corpo, Camila havia me dito que elas estavam mais próximas. Coloquei a mão na maçaneta, prestes a finalmente voltar pra sala.

— Anelise, — Ela me chamou, tomando a minha atenção — toma cuidado em quem você confia.

— Do que você tá falando?

— É só um aviso — Antes que eu pudesse questionar ainda mais sobre o assunto, Lavínia saiu do banheiro primeiro do que eu. Punindo meu cérebro mais uma vez.

Querido desconhecidoWhere stories live. Discover now