XVIII

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Maaaaaaais um.

— Você já deve saber

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— Você já deve saber. Do jeito que Felippo é, com certeza já contou o trato que fizemos.

— Ele estava me ajudando...

— Eu sei que não. Não precisa mentir. Mas acho que pelo menos alguma coisa eu consigo ganhar com esse casamento. Você limpa seu nome e tem uma babá e eu sigo meu sonho.

— Eu não preciso de uma babá! — Fala, bravo.

— Não foi isso que seu irmão disse.— Respondo meio risonha com a sua reação nada boa e ele semicerra os olhos. Então respira fundo e começa a olhar ao redor.

— Por isso disse que era uma quase médica quando encontramos o gato... Mas ainda assim abandonou a faculdade. Por qual motivo?— Ele me pergunta, curioso. Mas eu me afasto. Apesar de conseguir um dos meus objetivos, sei que se contar a verdade sobre meus pais, eles podem acabar com tudo em questão de dias.

O problema é quando ele segura meu braço, me impedindo de seguir. Sinto meu corpo arrepiar e sinto o que já se tornou natural com o mínimo de contato entre nossas peles. Meu coração acelera e vejo um mundo verde me encarando. Um olhar tão intenso que não consigo decifrar. Então, do nada, ele larga meu braço e evita meu olhar. Observa tudo ao redor, menos eu.

— Me desculpe. — Mexe os dedos, parecendo nervoso e eu me afasto.

Com a comida pronta, coloco as panelas na mesa e depois de colocar um pouco de tudo no prato, chamo Domenico que ainda parece meio alheio. Ele levanta com certa dificuldade e com a ajuda da muleta, caminha até a mesa. Então senta na cadeira de frente para mim e começa a comer. Em seguida faço o mesmo e minutos depois seguimos em silêncio. Domenico coloca mais, meio desajeitado por conta do braço livre não ser o dominante e acabo ajudando quando vejo que se deixar, ele vai derrubar mais comida na mesa que no prato.

— Obrigado.

— Não precisa.— Digo e ele sorri agradecido. Então volta a comer e toma o restante do suco da jarra. No mesmo instante, Lino começa a miar e levanto para colocar comida para o meu gatinho.

Quando cuido de Lino, volto para minha cadeira e observo de soslaio Domenico que já acabou de comer e agora olha fixamente para um ponto na parede da porta. Ele é definitivamente, estranho. Ou talvez seja somente pelo fato de sermos dois estranhos morando juntos. Isso é loucura!

— Melissa, a enfermeira começa amanhã e então você vai poder se dedicar totalmente aos estudos e ao seu gato. Agradeço o que está fazendo, mas isso é mais drama do meu irmão que qualquer outra coisa. Então não precisa se preocupar comigo. — Fala quando faço menção em levantar para tirar os pratos da mesa e minha atenção é toda dele.

— Eu estou cumprindo com a minha parte do acordo. E a enfermeira só chega amanhã, você não ia ficar com fome até lá, não é?

— O acordo é com o meu irmão. Felippo que inventou essa história de babá. Mas a única coisa que quero que faça é que aja como minha esposa até o nosso contrato acabar. Lá fora, para todo o mundo, você é a minha esposa. Mas é somente isso.

— E aqui? — Pergunto e ele respira fundo, analisando cada traço meu.

— Aqui... aqui somos estranhos condenados a um pecado que não cometemos. Vamos viver na mesma casa, sob o mesmo teto. Mas sabendo que isso... — gira o punho, apontando ao redor — ... tem data para acabar. Não somos e nunca seremos um casal. Não quero que gaste seu tempo comigo quando pode estar fazendo coisas melhores. Que realmente tem sentido na sua vida.— Concordo com manear de cabeça e levo os pratos até a pia. Talvez seja essa a nossa missão. Pagar por algo que não temos culpa. Bem, pelo menos eu. E se Domenico não me quer ao seu lado, nem mesmo para cumprir o acordo que fiz com Felippo, então essa é a melhor escolha que poderia fazer.

Depois da mesa limpa e com Domenico analisando cada passo meu, vou até o quarto. O único do apartamento, com mobília, e começo a organizar a divisão com os travesseiros. Foi a única coisa que pedi de imediato para Felippo e ele trouxe antes de mim. Assim, consigo dividir exatamente o espaço de cada um nada cama.
Com tudo arrumado, separo uma roupa para mim e outra para Domenico e sigo para o banho. Quando volto, para o quarto, encontro Domenico, sentado na ponta da cama e olhando para a porta do banheiro.

— Algum problema?

— Você simplesmente some e me deixa lá...— Aponta para a porta do quarto em direção a cozinha e fala em um tom rude.

— Achei que não precisasse cuidar de você.— Respondo na mesma intensidade. Se ele acha que vou ficar insistindo para cuidar dele, está enganado. Se ele não quer, então deve conseguir se virar sozinho.

— Eu... Eu- Eu preciso tomar um banho.— Ele diz enquanto fecha os olhos lentamente. Talvez seja difícil para ele pedir. Mas não vou facilitar. Se ele quer minha ajuda, vai ter que pedir.

Quando não respondo, ele parece entender que também posso ser cabeça dura e respira fundo antes de falar.

— Doutora, eu preciso tomar banho. Preciso que me ajude, por favor.
— Deixo sob a mesa de cabeceira da cama a escova que penteava meus cabelos e me viro para ele, sem saber o que fazer.

— Como posso te ajudar?

— Preciso que tire a tipoia do meu braço e enfaixe com um saco que Felippo comprou. Acho que ele deixou em algum lugar no outro quarto. Se você achar algo parecido com um saco, então é ele. — Ele explica e eu saio do quarto em direção ao outro.

Quando entro, e acendo a luz, me surpreendo com o que vejo. Vários quadros espalhados pelo local. São lindos. Pinturas quase realistas, e um mesmo rosto de uma mulher espalhado em todos eles. Vou analisando cada um, mais bonito que o outro e até esqueço o que realmente vim fazer no local. Até Domenico gritar por mim.

— Melissa, tudo bem aí? — Olho rapidamente pelo quarto e encontro o saco para colocar envolto do gesso no corpo de Domenico e antes de sair do quarto ainda dou uma última olhada nas lindas pinturas espalhados.

— Achei. Só vou abrir. — Digo disfarçando quando entro no quarto e vejo Domenico já impaciente. Deve realmente ser uma lástima ficar nessa situação. Ele mal consegue andar. Então tiro por menos e começo o ajudar da forma que consigo. Quando o braço e a perna estão cobertos, Domenico se levanta com a ajuda da muleta e caminha lentamente até o banheiro. Vou atrás, mas rezando que ele me dispense a qualquer momento. Não preciso vê-lo nu.

— Puxa a cadeira, por favor. — Faço o que ele pede e quando senta já está com cara de dor.
— Liga o chuveiro e deixa o chuveirinho comigo. Daqui eu me viro sozinho.

— Você tem certeza?

— Tenho. — Ligo o chuveiro como pediu e entrego a mangueirinha. Então ele me olha quando estou prestes a sair, parecendo querer dizer algo.
— Obrigado, doutora.— Agradece em um tom mais baixo e eu volto para o quarto. Mas na expectativa de ouvir um baque a qualquer momento. O que não acontece. Parece que Domenico consegue se cuidar muito bem sozinho, mesmo estando totalmente quebrado.

Domenico - Minha salvação.Where stories live. Discover now