Capítulo Vinte e Dois

77 17 8
                                    

Momo se jogou na poltrona de veludo
atrás da mesa redonda um pouco bamba e observou como Mina franzia o nariz de tempos em tempos, sem dúvidas tendo todo tipo de opiniões sobre o incenso queimando no canto da sala.

Ela dobrou a perna direita embaixo do corpo e cruzou os braços. Tudo bem. Mina queria uma leitura? Momo a leria de cabo a rabo.

- Sente-se. - Momo pegou seu celular e encontrou o mapa natal que havia salvado semanas antes, pôs o aparelho sobre a mesa e começou a analisar as casas e posicionamentos de Mina. - Vamos ver, quer começar com seu stellium em Capricórnio? Talvez investigar um pouco esse Plutão na casa sete? Hmmm, podemos passar uma hora inteira só falando do seu nodo sul em Virgem.

Mina ajeitou aquela planta idiota no colo - por que em nome de Deus ela estava carregando uma porcaria de arbusto para lá e para cá? - e assentiu com firmeza.

- Ok, claro.

E, simples assim, Momo murchou.

Ela não podia fazer isso. Não podia pegar o mapa de Mina e usá-lo contra ela. A astrologia era uma ferramenta para empatia, não para acertar contas. Ela não distorceria uma coisa tão linda em algo feio, não a tornaria ferina só porque estava magoada. Um senhor eufemismo. Mas ainda assim. Não era do feitio de Momo, e ela não mudaria isso, não importava quão magoada estivesse. Ela não era cruel e não queria machucar Mina com palavras duras, não queria colocá-la para baixo. Machucá-la não remendaria o coração partido de Momo.

Momo virou a tela do celular para baixo.

- Não consigo fazer isso.

Mina fez um biquinho, endireitando as costas.

- Eu paguei.

- Peça um reembolso para a Sheila, então. Não vou perder meu tempo fazendo uma leitura para você quando você nem acredita nisso. Ainda mais na véspera de Natal, Mina.

Mina envolveu com as mãos aquele vaso terracota feio, as juntas de seus dedos ficando brancas de tanta força. Seu esmalte, aquele mesmo tom sem sal de cor-de-rosa que ela sempre usava, estava descascando no polegar. Todas as suas unhas estavam roídas.

- Tem razão. Não acredito em astrologia.

Apesar de ter dado a Mina passe livre para ir embora, a garganta e o peito de Momo se apertaram.

O que mais doía no momento era que ela pensara que Mina havia entendido. Que não era uma questão de ser real ou não, mas sim de entender uma à outra. De se conectar. Sentir-se menos só.

- Legal. Como eu disse, é só pedir um reembolso para a Sheila.

Mina não se mexeu, não se levantou, não saiu da sala. Ela mal sacudiu a cabeça.

- Mas você sim. Você acredita.

Dã.

- Faz muito tempo desde que acreditei em alguma coisa, qualquer coisa - sussurrou Mina, deixando escapar um leve soluço. - Mas você me faz querer acreditar em alguma coisa, Momo. E eu acredito. Eu não acredito em astrologia, mas acredito em você e acredito nisso, no que eu sinto. E sei que você está zangada e que deve ser tarde demais, mas pode me deixar explicar? Por favor.

O coração de Momo entrou em curto-circuito, titubeando, acelerando, parando, tentando pular do peito a qualquer custo. Era impossível responder com o coração entalado na garganta, então, em vez disso, ela assentiu.

- A verdade é que eu nunca planejei nada disso. Eu não queria me apaixonar, não de novo, não depois que...

Mina parou, seus lábios tremendo um pouco antes de ela engolir em seco e se recompor. Ela encarou Momo, sem piscar. Seus olhos castanhos estavam arregalados e vulneráveis, uma das sobrancelhas ligeiramente arqueada, o restante do rosto neutro.

Presságios Do Amor - MimoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant