Capítulo Um

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Havia um limite para quanto atrito uma garota poderia aguentar, e Hirai Momo chegara ao dela. Desviar dos carrinhos na frente da vitrine de Natal espalhafatosa da Macy's e lutar para chegar ao restaurante na hora fizera a calcinha de renda, novinha em folha, enrolar até ficar mais parecida com um cinto do que com o mode boyshort que originalmente a descrevia. Momo já estava quase sentindo o gosto do amaciante que usava.

Tentar ajeitá-la por cima do vestido havia se provado inútil. Se contorcer definitivamente não adiantara nada, muito menos se apoiar casualmente no poste antes de atravessar a rua e... rebolar? Um movimento de quadril que foi menos estou aqui no poste trabalhando para ganhar o pão de cada dia e mais um urso no meio da floresta com uma coceira horrível. Enfiar a mão por baixo da saia havia sido o último recurso, o que trouxera a consequência indesejável de fazer parecer com que estivesse cometendo um autoatentado ao pudor na frente do Starbucks. As ruas deSeattle já tinham visto coisas mais estranhas, mas aparentemente o cara observando pela janela do passageiro de um Prius sujo de lama não.

E tudo por culpa daquela calcinha, uma calcinha nova, mais sexy que o restante das que estavam emboladas na gaveta de sua cômoda. Não que ela estivesse esperando que a irmã de Nayeon visse a calcinha, mas e se o encontro fosse bom?

E se? Era essa a pergunta de um milhão de dólares, a faísca de esperança que a fazia continuar tentando de novo e de novo - e de novo? O frio na barriga era um bálsamo, cada calafrio aliviando a dor de todas as rejeições e foras que já havia tomado, até Momo mal se lembrar de como era a sensação quando o celular não tocava. Quando a faísca simplesmente não estava lá.

O nervosismo de um primeiro encontro? Era uma sensação mágica, como ter glitter correndo nas veias. Talvez aquele jantar acabasse sendo bom. Talvez elas se dessem bem. Talvez rolasse um segundo encontro, um terceiro e um quarto e - talvez aquele fosse seu último primeiro encontro. Boom. Fim de jogo. Uma vida inteira de frio na barriga.

Depois de conseguir ajeitar a calcinha, Momo parou na frente do restaurante e respirou fundo. O suor escureceu o algodão azul-claro do vestido quando ela limpou as palmas das mãos na saia, secando-as antes de girar a maçaneta prateada. Momo puxou... mas a porta de vidro mal se mexeu, abrindo menos de um centímetro.

A média de preço daquele lugar estavarepresentada por quatro cifrões, o que gerou uma pergunta: pessoas ricas faziam trabalho braçal suficiente para ter a força de abrir aquilo? Ou elas só eram saradas porque podiam pagar personal trainers e aulas particulares de pilates? Momo puxou com mais força. Será que era preciso inserir uma senha? Tocar uma campainha? Será que era para ela balançar o cartão de crédito - com seu limite ridiculamente baixo, não adiantava negar - diante da porta?

De repente, alguém agitou a mão, com unhas feitas à perfeição e pintadas no tom mais sem graça de nude, por trás do vidro. Momo endireitou a postura e... Santo Saturno. Não era à toa que aquele lugar, com seus preços e portas impossíveis de abrir, era tão famoso. Com cabelo longo e ondulado, em um tom escuro, e pernas longuíssimas, a hostess era uma deusa de beleza desleal, do tipo capa de revista, bonita num nível que chegava a doer. O fato de Momo ver o próprio rosto borrado ao mesmo tempo que a olhava não ajudava muito. Sua franja loira sem graça estava separada e seu delineador havia borrado, fazendo-a pender menos para sexy e mais para gambá suado. Um senhor golpe na autoestima.

- É para empurrar.

A hostess direcionou os olhos castanhos para a maçaneta.

Momo pressionou a palma da mão no vidro. A porta, leve como uma pena, deslizou mais fácil que manteiga derretida. Apesar do vento frio de novembro, ela sentiu o rosto pinicar de tão quente. Que ótimo. Pelo menos sua gafe fora testemunhada apenas por ela mesma e a hostess, e não pela irmã de Soobin. Aquela sim seria uma impressão difícil de tirar.

Presságios Do Amor - MimoWhere stories live. Discover now