5| Uma cicatriz em memória

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── Jade! Venha aqui. ── A voz soa mais uma vez.

Aperto meus olhos, relutante em voltar. Minhas unhas arranhão a pele da palma da minha mão de tamanha apreensão e depois de segundos de desespero volto até Nancy e me sinto ser engolida pela escuridão da noite naquele jardim. Mantenho-me firme, olhando em seus olhos.

── Nome de puta barata.

Ela Funga e acende outro cigarro. Ela chega mais perto de mim e agarra meu ombro pressionando a ferida aberta com a unha fazendo-me contorcer de dor. Então ela volta a falar:

── Quando olhar para essa cicatriz, vai lembrar de mim. ── Em uma pausa ela dá mais uma tragada, profunda como o cinza nas bordas dos olhos que me encaram. ── Ninguém nessa merda de puteiro me desafia. Entendeu?

Aceno.

── Me responde, Caralho! ── Ela grita, fazendo-me apertar os olhos e me encolher

── Sim! ── Minha voz é um sussurro. ── Eu entendi. Não irei desafia-la. 

Ela aperta as pálpebras. Ela está tão perto de mim que sinto o hálito do cigarro barato.

── Será que entendeu mesmo? Eu acho que não. 

Ela apaga mais uma vez o cigarro em mim, no mesmo local, fazendo a pele ferida borbulha sob a brasa quente e dessa vez o gemido de dor se arrasta pela minha garganta. Posso sentir o prazer e a satisfação por entre as finas rugas que se formam no canto dos olhos dela. Como se estes sorrissem ao ver a dor tão de perto.

── Pode ir! ── Ela sacode a mão e já nem olha para mim, apenas aperta o Hobby e caminha despreocupadamente para dentro da grande casa.

Saio do jardim correndo até os fundos e vou até o duplex, onde as meninas ficam. Sinto meus olhos se encherem de lágrimas, algo que não é comum a mim, chorar. Não sei se me sinto agredida por de fato ter sido agredida ou por me sentir ferida pela forma como ela olha. Ela lembra-me alguém que evito lembrar, ela me sufoca como não me sinto sufocada desde a última vez que vi minha mãe. 

Por mais estranho que isso pareça ser, por mais que no fundo saiba que entrei em um mundo que eu não queria estar, me vi no rapaz no chão. Faz muito tempo que não lembro o que é está no chão. Nunca me vi no chão enquanto minha mãe me olha de cima. Pelo menos não até hoje.

Entro pela sala com tanta pressa que sequer lembro de fechar a porta. Subo as escadas indo direto para o dormitório, enxugando uma pequena lágrima de raiva antes que algumas das meninas vejam qualquer fragilidade minha. Não posso ser frágil. Algo que Nancy disse é fato, não há lugar para os fracos, isto foi algo que a rua me ensinou em pouquíssimas semanas.

Deste lado da cidade a lei é a do mais forte.

As meninas me olham quando passo correndo para o banheiro. Retiro minha blusa suja de sangue e me posiciono de baixo da pia para jogar água corrente em meu ombro. Cece se aproxima de mim tal qual um cão acuado. Curiosa ela me observa em quanto um misto de palavrões escapa da minha boca. Estou em busca de algum alívio lavando-me na pia. Lavo a minha pele ferida, lavo minha alma.

A fome e o medo dos criminosos na rua é o que vai me fazer ficar. Cece para na porta do banheiro e tem em mãos uma camisola de renda cor de rosa.

── Acho que vai precisar de uma roupa limpa. ── Diz Cece se aproximando sutilmente. Adentrando no banheiro mal iluminado.

── Obrigada! ── Digo, desligando a torneira e pegando a camisola.

── Não se mete com essa gente não. ── Ela se aproxima aos pouquinhos e só agora percebo que ela não está com a peruca loira.

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⏰ Última atualização: Sep 28, 2023 ⏰

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