Olhos Rubi • jikook

32

Trevor para de olhar para o teto e encara a expressão amedrontada da criança abaixo de si, que cruza os dedinhos uns nos outros para impedir que suas mãos tremam incessantemente.

— E sim, foi a partir da violência que eu tomei minhas decisões e fundei os Vípers. — Os braços do homem se erguem ao lado do corpo, como se expusesse com orgulho a sede que construiu do zero. — Não me importa se me vêem como o vilão. Não sou diferente de quem faz as mesmas coisas para sobreviver. No fim, somos todos criminosos que a sociedade criou.

Jung Hoseok só tem a opção de ouvir com atenção cada pensamento completamente torto do homem e se manter calado, o coração esmurrando a caixa torácica e a respiração difícil.

Ele não quer, não quer ser obrigado a fazer mal para ninguém.

— E você entende que o que eu quero para você é o melhor, não? — Com uma atitude nojenta, o líder dos Vípers volta a apoiar um dos joelhos no chão e passa a mão no rosto do garoto, segurando seu maxilar entre os dedos. — Se não quiser seguir o mesmo caminho de seus pais, vai acabar sendo o responsável pela morte deles. É isso que você quer?

— O-O que? — Transtornado com a informação repentina, Hoseok arregala os pequenos olhinhos e tenta dar um passo para trás, mas os dedos firmes em seu rosto o impedem de se mover.

— Você é sujo, Trevor. Não precisa fazer isso... — Antes de Jungso pudesse intervir, o loiro nega com a cabeça e aperta ainda mais o maxilar da criança, tirando dele um gemido dolorido.

— Então, Jung Hoseok. Vai colaborar comigo e aceitar ser treinado por mim para ser um Víper quando estiver apto ou vai ver... Sua mãe morrer? — Com um movimento violento, o mais velho vira a criança de costas para si e o obriga a olhar para onde sua mãe se encontra; um dos membros da gangue avança contra ela e segura uma estaca de prata logo abaixo de suas omoplata, logo atrás do coração.

— P-Por que está fazendo isso? Sabe que ele é só uma criança e não pode negar! — Jongso, também pego de surpresa com o ataque inesperado, tenta intervir pelo filho e a mulher, tomando cuidado com cada movimento. Ele quer correr e tirar Hoseok das mãos de Trevor, ao mesmo tempo que quer correr e salvar Chaewon antes que o outro vampiro crave aquela estaca em seu coração.

— Como assim não pode negar, Jungso? Sou um homem ético, não obrigo ninguém a ingressar nos Vípers. — Ele aperta as mãos nos ombros de Hoseok, que sente o estômago revirar dentro do corpo e uma vontade visceral de correr até os braços da mãe. — Se lembra de quando vocês dois vieram até mim em busca de proteção e uma fonte de renda? Quantos anos tinham? Quinze e dezesseis? Vocês mesmos me escolheram. Deviam conhecer meus métodos.

Nem Jungso e nem Chaewon falam nada, impossibilitados de negar as afirmações do homem. Ambos se lembram muito bem das decisões que tomaram quando eram apenas adolescentes apaixonados. Chaewon estava grávida e nem um dos dois tinha dinheiro o suficiente para sustentar uma criança, não depois de terem sido expulsos da casa de seus pais. Eles sabiam que era uma decisão completamente insana, mas, como Trevor gosta de trabalhar, eram apenas dois adolescentes desesperados e sem muitas oportunidades.

Quem não tem oportunidades não pensa duas vezes antes de se submeter a situações totalmente errôneas, mas que pelo menos parecem uma salvação momentânea. Salvação essa que ninguém havia lhes oferecido antes de Trevor.

— Então, Jung Hoseok? Vai escolher ser um cidadão de bem, que luta para levar uma vida normal ou vai se juntar a mim? — Hoseok sente as mãos calejadas do homem atrás de si voltarem a apertar seus ombros.

Cansado de ver o olhar assustado dos pais, a criança toma a única decisão possível nessa situação. Seus pais são tudo o que tem, as pessoas que mais ama no mundo, as pessoas que sacrificaram toda uma vida para cuidar de si. Perder, mesmo que um deles, soa como o inferno.