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2010

Dezembro, 31

Minhas mãos estavam congelando, eu já não sentia muito mesmo que o aperto na garrafa e nas taças estivessem firmes.

Sabia o nome disso..

Adrenalina.

Ou ansiedade

Meus passos eram rápidos, sem muito objetivo já que o caminho era longo e continuei sem parar até o parque mais próximo. Pelo menos trinta minutos de casa, com a respiração acelerada me sentei no banco extremamente gelado da praça, o vento não era tão forte quanto ontem e meu rosto parecia quente.

Foi uma ideia maluca

Talvez eu nem devesse estar aqui, eu deveria ter pensado melhor. Não sei se ele ainda pode.. se ele quer voltar. Não quero que meus próprios sentimentos sejam colocados acima dos dele, mesmo que eu não saiba exatamente o que ele sinta.

"Eu sou Photos, o Deus da paixão"

Dizem que todas as histórias tem dois lados, que não podemos deixar que a nossa própria versão atrapalhe o enredo.

— Uma moeda por seus pensamentos.

Maldita seja a distração

Um homem mal agasalhado estava sentado na outra extremidade do banco, uma postura exemplar, cabelos negros cheios emoldurando um rosto cheio nos lugares certos com uma barba rala bem feita e os olhos de um azul cinzento. Bonito.

— Aumente sua proposta. — Respondi casualmente, nem notando o tom neutro em que saiu.

— Seus pensamentos são tão valiosos assim? Talvez eu devesse ter oferecido duas moedas. — O estranho devolveu com um sorriso branco e alinhado.

Talvez tirasse meu fôlego se um certo deus grego não tivesse chegado antes.

— Dez dólares e talvez eu conte.

— Meio alpinista da sua parte, não?

Segurei meu rolar de olhos, pelo zelar da minha educação.

— Não, se chama lei da oferta e procura.

Ele riu, até mesmo o som parecia bonito.

— Quem você está esperando já está vindo, usurpadora?

Suspirei abraçando as taças e o vinho com cuidado pra não derrubar.

— E o que você está esperando? — Não o encarei novamente, observando a neve caindo e o céu escurecer sob o parque vazio onde só estamos eu e o estranho.

— Ainda por seus pensamentos.

— É algum hobby seu, galã? Sentar perto de estranhos e questionar tudo sobre sua vida?

Ele soltou um bufo divertido.

— Talvez, obrigada pelo galã. Meu irmão irá adorar quando eu contar.

Neguei com a cabeça meio indignada.

— Diga a ele que eu também chamei  você de fofoqueiro despretensioso.

— Quantos elogios, me sinto profundamente tocado!

Respirei fundo antes de me ajeitar no banco de forma que fiquemos cara a cara, o sorriso ainda não havia saído do lugar e seu olhar era curioso e intenso.

— Quão ruim seria passar por cima de um dever que não afeta apenas sua própria vida?

— Depende de qual propósito isso tem, é uma escolha que deva tomar sozinha?

— Não tenho certeza do que estou fazendo, nem sei mesmo se deveria estar aqui..desabafando com um estranho fofoqueiro. — Ele sorriu mais largo, se possível e sentou um pouco mais próximo. — Alguém já te disse que você sorri demais?

— As pessoas geralmente gostam de mim, é um dom natural fazê-las cair de amores. — Acenou suavemente cruzando os braços.

— Te falta modéstia. 

— Talvez você precise de um pouco de tato, então as pessoas gostem mais de você. — Rebateu sem perder o humor que parecia estar enraizado em sua personalidade.

— Sabe.. minha amiga, Hillary, adoraria você. — Soltei do nada vendo finalmente isso abalar um pouco seu sorriso. — Uh, temos algo contra o amor juvenil aqui?

Ele negou finalmente tirando os olhos de mim.

— O amor move tudo, não existe um único ser capaz de negar isso. — Falou seriamente. — Existem vários jeitos de expressar, mas só um sentimento e quando as pessoas levam a sério as coisas fluem naturalmente como deve ser.

Paramos os dois em um silêncio confortável depois disso, nunca um estranho tinha sido tão conveniente em meu caminho.

O vento começou a piorar de um momento a outro, meu cabelo pareceu ter a função de cobrir meu rosto do nada, eu havia me virado pra reclamar disso mas o estranho estava caminhando devagar.

— Nenhuma despedida?! — Gritei pra que ele me ouvisse.

— Até logo, Agatha Denver! — Ele gritou de volta, eu não o enxerguei por um segundo graças ao cabelo.

Abraçada na garrafa e as taças com um braço, ajeitei os fios apenas pra ver o nada. Ele já não estava mais lá.

Espera, como diabos ele sabe meu nome?

O namorado de Agatha DenverWhere stories live. Discover now