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2010

Dezembro, 31

—Pense em outra coisa, querida.

A voz da minha mãe me tirou do transe, mas não o suficiente pra que movesse um músculo do apoio do cercadinho de entrada, a neve está começando a subir mais um palmo desde a noite de Natal mas o frio de - 3°C não nos impedia de ficar aqui fora.

A família costuma ficar junta até o segundo dia do ano, então não era incomum que eu já tenha acostumado a estar sempre observando todos com curiosidade. Ano após ano vendo as mudanças de comportamento ou de aparência, e eu sempre gostei mas agora um sentimento diferente se apoderou.

—O que está querendo dizer com "pense em outra coisa"?

—Você está encarando seus primos sem piscar tem um tempo, com um olhar melancólico segurando esse bendito colar, sei que é nele que está pensando.—Respondeu suavemente.

Não sabia quanto tempo tinha perdido observando Danny, Henry e Harry com suas namoradas, eles estão brincando na neve jogando uns nos outros e rindo.
Uma inveja branca passou pelo meu corpo pois eu queria aquilo mas estava feliz por todos estarem felizes.

Eu me sentia exatamente como Bella Swan em Lua Nova quando Edward some, a diferença é que a culpa foi minha. Eu pedi esse tempo, eu estou pensando não só no meu lado mas no dele também apesar de não parecer. Gostaria de fazer como no filme (eu o vi no cinema ano passado), me jogar na garupa de um desconhecido e seja o que quiser.

Photos não poderia ficar aqui sem perder seus poderes, ele tem muitos anos de vida e eu posso não ter conhecido seu verdadeiro lado e isso me faz ter agonia de não podermos ter uma chance. Ele pode perder tudo que conhece, ele é quem tem mais riscos se as coisas derem errado.. jogar tudo pro alto quando ele foi feito pra estar ditando regras e espalhando o amor por aí.

Eu não faço a mínima ideia de como funciona essa coisa de deuses, sabia que existe uma hierarquia e que eles tem que cumprir suas funções mas não estou por dentro de tudo, então era impossível me colocar em seu lugar.

France quer cumprir a promessa de que se eu não melhorar até o último semestre ela vai me bater.

Hills tem me aconselhado a chamá-lo desde o 7° dia sem ele, já que eu estava deplorável e me lembro de dizer a ela exatamente assim: "Vai passar, em algum momento eu não vou mais sentir falta dele"

Hoje é o 35° dia desde aquela terça em novembro.

E eu sinto cada dia mais a falta dele.

— Só queria que as coisas fossem mais fáceis.

Ela suspirou se apoiando ao meu lado.

—Eu e seu pai nos odiavamos. — Isso finalmente me fez olhar pra ela, um sorriso brincalhão surgiu no seu rosto. — Hugh era teimoso, não aceitava que eu estava ali por ele e eu muito menos gostava da situação. As primeiras semanas ele me tratava com aspereza, fez de tudo pra que não nos déssemos bem até que um certo dia brigamos feio e eu disse que iria embora. Ele saiu correndo atrás de mim e finalmente começamos a conversar como pessoas normais. Nosso primeiro encontro foi naquela sorveteria, nos beijamos e de lá em diante as coisas se acertaram. Você é como ele, complicando as coisas mais simples da vida.

—Vocês nunca me contaram isso. —Foi a única coisa que eu disse, não querendo tirá-la do ar nostálgico.

—Existem coisas que devem ser ditas na hora certa. —Mamãe me deu um empurrãozinho leve. —Seu pai foi o amor da minha vida, e eu nunca vou deixar de amá-lo.

—O que eu faço mãe?

—Escolha com o coração, Agatha.

Afrodite

A deusa tinha dito a mesma coisa e mesmo que eu não tenha dado atenção o suficiente no dia, hoje a frase deu um sentido novo.

— Posso sair um pouco? Prometo que volto antes do jantar.

— Coloque mais um casaco e leve o celular. — Alertou enquanto eu já entrava atrás das coisas em passadas rápidas.

Tentei correr disfarçadamente pra que ninguém me desse uma tarefa enquanto eu tentava sair, mas Tio Gustavi me empurrou até a cozinha atrás de seu marido.

— Meu bruxinho, aqui está ela.

Tio Paul largou algo na panela antes de se apoiar no balcão e retirar duas taças, agarrou uma garrafa fechada de vinho branco e esticou tudo pra mim com seu sorriso enigmático.

— Devo questionar? — Ergui uma das sobrancelhas aceitando as coisas com confusão.

Os dois se olharam e sorriram negando com a cabeça, Tio Gustavi passou uma das mãos pela cintura do marido com carinho, o sentimento de intrusa tomou conta do meu ser novamente.

— Você vai saber o que fazer, Gaga.

Ele sabia

Não devia ser surpresa, ele sempre sabia de tudo. As vezes a forma que seu marido o chamava não parecia ser levado de maneira leviana. Talvez ele realmente seja meio bruxo.

Os dois fizeram gestos de "xô" com as mãos, sincronizados em me expulsar.

O namorado de Agatha DenverWhere stories live. Discover now