Num rompante de raiva, atirei um frasco de loção em meu reflexo. Alguns cacos do vidro caíram na pia, mas eu ainda não estava satisfeita.

— Por que, Susie? Por que?!

Terminei de quebrar o resto do espelho e caí sentada no chão. Em prantos. Histérica. Descontrolada. Eu me sentia cansada de muitas coisas, mas principalmente de aguentar. Meus ossos pareciam não funcionar, tudo era exaustivo, exigia demais de mim, e eu parecia estar afundando.

Quando me dei conta de que não tinha tempo para aquilo, me levantei e comecei a recolher os estilhaços, os quais eu não sabia se eram os meus ou os do espelho. Ouvi a campainha tocar no andar de baixo. Me apressei e acabei fazendo um corte feio na palma da mão, o que me fez grunhir um palavrão baixinho. Peguei um pouco de papel higiênico para tentar controlar o sangramento e desci as escadas correndo para atender a porta.

— Matthew? 

— Oi, Casey.

— O que está fazendo aqui?

— Precisava falar com você, então vim até aqui já que não abriu a academia hoje. Peguei seu endereço com o Atlas, tudo bem?

— Sim, é... Entra.

Cedi espaço para Matthew. Ele entrou devagar e eu o guiei até a sala de estar.

— Precisa de alguma coisa? — perguntei.

— Eu sei que é estranho falar isso, mas tenho alguns problemas com questões de segurança. Por esse motivo, eu queria saber se você ou seu pai se importam se eu colocar grades nas janelas do studio — Matthew enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans.

Franzi o cenho. Existiam vários tipos de pessoas com vários tipos de questões de segurança, como checar as trancas das portas várias vezes, não usar celular na rua ou compartilhar sua localização. Colocar grade em janelas era uma boa medida também, mas o bairro era relativamente seguro, e embora eu não entendesse o motivo de Matthew estar pedindo aquilo, não via problema em acatar, se aquilo o faria se sentir mais seguro.

— Não, não tem problema. Quer que eu providencie isso? — cruzei os braços.

— Não, eu mesmo vou arcar com as despesas, só queria mesmo falar com você.

— Não veio aqui só por isso, não é? — descruzei os braços e notei que o papel que havia enrolado na mão ferida estava ensopado de sangue. Maldição.

— O que houve com a sua mão? 

— Eu cortei.

— Está sangrando bastante. Você tem um kit de primeiros socorros? Posso fazer um curativo — Matthew tirou as mãos dos bolsos e deu alguns passos na minha direção, olhando para minha mão. Fiquei alguns segundos em silêncio o encarando, até ele me olhar inquisitivo.

— Do que você tem tanto medo? — sua voz saiu baixa e preocupada. — Casey, pegue o kit. Vou fazer um curativo na sua mão.

Dei as costas e fiz o que Matthew havia pedido. Quando voltei para a sala, ele se sentou ao meu lado no tapete. Matthew abriu a caixa de primeiros socorros e deixou de lado o papel que até então eu ainda segurava. Ele usava algodão e soro fisiológico para limpar o sangue seco da minha mão e em torno do corte.

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⏰ Last updated: Mar 26 ⏰

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