Capítulo 4

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CAPÍTULO IV

MIGUEL:

Acordar cedo, ficar pensativo no chuveiro, ir para a escola de manhã, me matar provocando a Julia toda vez que a gente se vê. E a tarde, continuar provocando — E sendo provocado por ela —, enquanto passeamos com nossos cachorros.

Essa tem sido minha rotina nos últimos dias.

— Mano... — Pedro se vira para mim, quase deixando seu copo de suco cair. — O que tá rolando entre você e a Julia? — Desvio os olhos da minha galinhada para ele e quase engasgo.

Quef malo? — Falo com a boca cheia de galinha, o que por sinal está uma delicia, hoje as tias acertaram em cheio na merenda.

— É o que? — Pedro me olha confuso. Término de mastigar e engulo um pouco antes de continuar.

— Eu disse: Que mano? Como assim? — Me sento em um dos banquinhos quase fora do refeitório.

— Cara, tá todo mundo, tipo, todo muuundo mesmo. — Pedro estica os braços como se estivesse em uma peça de teatro. — Falando de vocês. E eu também percebi que vocês estão bem próximos. Saem toda tarde, parecem até namorados.

— É o que? — Falo um pouco mais alto do que deveria. — Eu? Eu namorar aquele monstro com buraco negro na barriga?

— Hahahaha... — Pedro começa a rir. Olho feio quando ele bate no meu ombro. — Pois é mano, é o que todos estão falando. E eu também não duvido já que você está todo vermelho. — Então ele se senta do meu lado.

— Cara, eu não tô vermelho. — Arregalo os olhos. — E eu quero pegar quem tá falando isso que eu vou deitar na porrada. — E Pedro volta a rir igual uma hiena engasgada, como se tivesse no show do Whindersson Nunes.

— Você Miguel? Com esse seu físico de louva-deus? — Filho de uma égua. — Sem contar que você não seria capaz de bater nem em uma muriçoca.

~*§*~

JULIA:

— Amiga, o que é que está rolando entre você e o Miguel, hein? — Ponho um pedaço inteiro de paçoca na boca e me viro de costas para Patricia com o cenho franzido.

— Hunm? Não entendi sua pergunta. — Falo com a boca cheia.

— Todo mundo na nossa sala... — Começa a falar, alternando o olhar entre eu e o quadro.

— Tá falando que você está namorando aquele magrelo estranho.

Que? É o que, que ela disse?

Oh porra...

Me levanto em um pulo quase arrastando minha cadeira, deixo meu potinho de paçoca encima da mesa e ando — Na verdade quase marcho —, até a mesa da professora. Sinto o olhar dos idiotas da minha sala em mim, mas nunca me importei com isso e não vou começar a me importar hoje.

Subo na mesa da professora e bato palmas chamando a atenção do povo para mim. Mesmo que eu não precise bater palmas para isso.

— Eu quero saber quem é que tá falando de mim pelas costas. — A sala inteira fica em silêncio, apenas aquele tanto de pares de olhos me encarando como se eu fosse doida. — Ok, quero que todos aqui saibam, que se eu namoro ou não é problema meu. E, se eu namorar, independente de quem for também é problema meu. Eu espero que todos tenham escutado bem, porque o próximo que eu pegar falando de mim vai entender porquê me chamam de louca.

Escuto o som de palmas, olho para o lado e vejo a professora de matemática encostada no batente da porta da sala.

— É isso ai. — Ela ri. — Se eu fosse vocês eu não mexia com ela, nem com o boy dela. Ela parece mesmo ser doida. Agora desce daí e é bom terminar de copiar antes de eu apagar o terceiro lado do quadro.

Toda a sala começa a sorri. Desço da mesa bufando e marcho de volta para minha carteira, mal sento e já viro para Patrícia. Ela está com os olhos arregalados e o queixo lá no chão.

— Pronto. Tudo resolvido. — Digo por fim.

— O que... Tu é doida... Mas o que... Como... Que... Mas... Espera, espera... — Minha amiga parece estupefata. Ela larga a caneta e abana as mãos me olhando como se de repente eu tivesse adquirido um 3° olho. — Espera amiga, então você está mesmobnamorando com ele?

— Que? Claro que não. — Reviro os olhos. — Nunca que eu vou namorar aquele idiota, só não gosto que fiquem falando de mim pelas costas, você sabe disso.

— Eu sei mas... — Dá de ombros. — Aí que pena e, eu que pensei que finalmente você ia desencalhar. Afinal entre todas nós do grupinho... — Olha ao redor e posso sentir o olhar da Camila e da Geovana em nós. — ... Você é a única que não namora.

— Eu não tô nem aí pra isso. Não tenho pressa, sei que meu príncipe vai aparecer um dia.

— Dou as costas para ela e pego a caneta para começar a escrever.

Mas a professora já começa a apagar o quadro.

Me lasquei!

[...]

MIGUEL:

Como de costume, Julia e eu nos encontramos no parque — Como tem sido na última semana —, para passar com Bob e Paçoca.

Só que hoje... Ah sei lá, o clima parece meio estranho. Afrouxo um pouco a guia de Bob e observo ele saltitar para frente com animação, enquanto Paçoca parece que odeia todos os

cachorros ao seu redor e tenta manter distância.

— Ei Julia... — A cham, depois de longos minutos de um silêncio anormal e constrangedor.

— Eu.

— Você sabe o que estão falando de nós, né? — Tento puxar assunto.

— Sim. — Ela fala despreocupada.

— Aquele pessoal são um bando de idiotas.

— Sim.

E o silêncio volta, mais constrangedor ainda. A tensão está tão grande que daria para cortar com a tesoura.

— Olha Julia... — Resolvo quebrar o silêncio trazendo o assunto de volta. — Não é que eu simpatize com você ou algo do tipo, longe de mim. Mas eu não quero que as pessoas fiquem falando mal de você por culpa minha sabe, então vou super entender se você quiser se afastar de mim e nunca mais olhar na minha cara.

Julia então para de andar, fecha os olhos, respira fundo e se vira para mim como um general, olhando fixamente nos meus olhos.

Jesus amado!

— Olha aqui seu idiota... — Lá vem a chuva de insultos, estou prevendo. — Não são aquelas pessoas que vão decidir sobre minha vida, eu conheço, ando e converso com quem eu quiser e, se você repetir algo assim de novo, eu juro Miguel, prometo que vou deixar a sua cara mais feia, muito mais feia do que ela já é.

Ok... Agora eu estou espantado. Ela parece realmente furiosa de verdade. O jeito que ela me olha, como se fosse me derrubar com um soco. Por um momento sinto minha alma quase deixar meu corpo.

— Tá bom... Desculpa.

— Acho bom se desculpar mesmo. E quem liga para o que aqueles idiotas falam? Até parece que eu ia namorar você.

— Olha, fica na sua, porque esse nunca foi meu desejo também tá legal? — Retruco, me sentindo quase insultado.

E nós dois voltamos a andar, com as mesmas conversas e provocações de sempre.

Voltamos a ser o que éramos.

Só que...

Só que, por um momento eu senti meu coração bater um pouco mais rápido quando estava discutindo com ela. Eu não sei, aquele jeito dela era simplesmente algo diferente do que qualquer pessoa que eu conheci. Parecia que ela realmente não se incomodava de estar perto de mim.

Por algum motivo, me sinto muito confortável ao lado dela.

...

Só Mais Uma História De AmorWhere stories live. Discover now