Capítulo 3

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CAPÍTULO III

MIGUEL:

Eu permaneço parado, imóvel, enquanto Bob dá saltos ao meu redor, quase alcançando meu pescoço, animado e eufórico apenas de ver a guia nas minhas mãos. Acho que se eu abrir o portão sem o segurar, ele sai disparado igual um carro de fórmula 1.

— Se acalma garoto. Se acalma. — Me agacho tentando agarrar Bob, com muita dificuldade eu consigo. — Como eu vou sair com você, se não para nem por um minuto?

Parece ligado no 220.

Bob é meu cachorro, um labrador todo preto, tão grande que pode ser confundido com um pastor-de-beuce. Mas o bandido só tem tamanho e a carinha de malvado, já que é superdócil, bobo até. Parece um filhote.

Prendo a guia na coleira dele, lutando contra as suas lambidas na minha cara, me levanto e caminho até o portão abrindo ele.

— Vamos naquele parquinho que você adora. — Murmuro fechando o portão e como se tivesse entendido o que falei, Bob corre, ou melhor me arrasta, rua acima.

[...]

Bob continua me arrastando — Estou quase confundindo com um sequestro —, quando chegamos ao parque. É um lugar amplo, com pistas para ciclistas, outra para o povo caminhar, uma pracinha daquelas de idoso treinar, um parquinho e uma imensa área com grama baixinha, lugar favorito dos cachorros.

Seguro firme na ponta da guia, enquanto Bob falta pular caminhando pelo gramado, até que ele para e dá um latido animado. Levanto o olhar do meu cachorro, para o cachorro minúsculo que está na frente dele e então... Para a mão que segura a outra guia e puta merda...

— Tá de brincadeira com a minha cara. — Encaro Julia com o mais puro olhar de 'Socorro Deus'.

— Ah não... — Bate o pé, segurando com mais força a guia. E não me surpreendo com o copo de açaí pela metade na sua outra mão. Essa draga tá sempre comendo.

— O que você está fazendo aqui? — Pergunto.

— Dançando valsa. — Fala com ironia e então revira os olhos e aponta para o cachorro. —

Lógico que é passeando com meu cachorro né animal.

— Você tá me seguindo sua psicopata? — Bob late mais uma vez, tentando se aproximar do protótipo de cachorro.

— Sim Miguel, eu ia perder o precioso tempo da minha vida te seguindo. Runrum, confia.

— Suspira. — Sério, você nasceu idiota assim ou fez curso?

Abro a boca para responder, mas Bob late de novo e me puxa para mais perto do cachorro.

Mas o cachorro de Julia — Parece um YorkShire, todo peludinho —, rosna feito um lobisomem.

— Que isso... — Olho pro cachorro dela, que conforme Bob tenta se amigar, ele vais e afastando rosnando.

— Paçoca não é muito bom em fazer novos amigos. — Ela segura na guia e o cachorro corre para as pernas dela. — Ele não gosta de cachorros muito perto dele. Ainda mais um gigante que pode matar ele com uma mordida.

— Bob é um amor, não mata nem barata. — Defendo meu amigo. Oxe...

Olho para Julia direito, normalmente ela parece mais... Um ser não humano na escola, mas agora até que ela tá mais arrumadinha, até os cabelos parecem que viram pente.

— Não parece nenhum pouco.

— Mas ele.

Bob então se afasta do tal paçoca e quer seguir o mesmo caminho de antes, parece que o cachorro dela também. Então quando menos percebo a gente está andando juntos.

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