Vanessa - Talvez eu não seja hetero.

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Já se passava semanas desde que assinei aquele maldito contrato de namoro falso com Matheus. Era tão exasperante ter que encarar inúmeras notícias, tweets e threads sobre como nós formávamos um casal adorável. Porque, veja bem, não passava de uma farsa. Eu sabia, Matheus sabia. Mas, mais do que tudo, eu queria que ela soubesse. Vanessa. Eu não sou lésbica, bissexual ou pan... Quantas variações existem para isso? Ah, deixa pra lá... Não gosto de mulher, certo? Bom, vivi pulando de relacionamento em relacionamento, com homens que nunca me cativaram de verdade. Nunca senti esse negócio chamado "amor". Mas a Vanessa... Ah, a Vanessa é algo diferente.

[...]

"E então, aonde você quer ajudar na fazenda? Pode ficar com a Alice, Felipe, comigo ou com a..." Lucas explicava, e eu rapidamente me adiantei.

"Vanessa! Vanessa! Quero ficar com a Vanessa!" Eu me levantei da cadeira quase desesperada.

Lucas ergueu uma sobrancelha desconfiado, e eu engoli em seco, mas ele resolveu não dizer nada. Afinal, quanto menos tempo ele passasse comigo, melhor seria o dia dele. (Palavras dele) "Tá, então pode começar," ele disse.

Não precisei de mais um convite. Corri para fora da casa, calçando minhas botas de couro barato, e parti em busca da Vanessa com o coração batendo descompassado.

Vanessa é minha amiga, a minha melhor amiga aqui na fazenda. Desde que me mudei pra cá como a "namorada falsa do Matheus", ela foi quem mais me acolheu. Não pensem errado, eu não nutro sentimentos românticos por ela. Mas, bem... fiquei feliz quando soube que ela se interessa por mulheres.

Pego um espelho que estava esquecido no bolso traseiro da minha calça e me olho, ajeitando um pouco meu cabelo antes de ir encontrar Vanessa.

"Será que estou apresentável?" Me pergunto, ansiosa.

Lá estava eu, encarando meu reflexo no espelho, absorta em meus próprios pensamentos, quando uma voz feminina, bastante familiar, me tira de minha introspecção. Vanessa.

"Lacete?" Ela diz, e meu reflexo se contorce de susto, fazendo com que o espelho escorregue das minhas mãos e se despedace no chão.

"Não..." Eu murmurou em negação, desviando o olhar para os pedaços de vidro cintilantes no chão. Rapidamente me abaixo para pegar os cacos, mas não antes de espetar um deles no meu dedo. "Ai!" Eu grito involuntariamente, expressando minha dor.

"Cuidado." Vanessa corre em minha direção, tentando me ajudar, mas é tarde demais; o pequeno corte já está feito. "Droga... você está bem?" Ela pergunta, segurando meu dedo machucado com carinho.

"Sim... foi só... só um corte superficial." Digo, tentando ser valente, mas sentindo meu rosto ficar quente de vergonha.

Espera aí." Vanessa retira um pedaço de algodão do seu bolso e rapidamente o coloca sobre o corte, tratando de mim com uma delicadeza inesperada.

Observo-a cuidando de mim, e é impossível não perceber o quão próxima ela está de mim. Meu coração começa a bater mais rápido, e eu tento disfarçar a confusão que estou sentindo.

"Prontinho." Ela diz, com um sorriso encantador.

"Obrigada." Respondo, sentindo uma mistura de gratidão e nervosismo.

"Você tem mãos tão delicadas... não parece feita para esse tipo de trabalho aqui na fazenda." Ela comenta, olhando para mim com um olhar preocupado. Você não pensou em ficar com Lucas?" Ela pergunta, e isso desperta minha frustração.

"Por que diria isso? Você não quer minha companhia?" Pergunto, sentindo-me incompreendida.

"Que? Lacete, não é isso." Ela se apressa em dizer.

"Parece que sim. Eu não sou uma boneca frágil, sabia? Eu posso encarar o trabalho pesado. Minha mão não vai cair." Digo, misturando sentimentos em minhas palavras

"Calma, eu sei, só fiquei preocupada. Você não está acostumada com isso." Vanessa tenta amenizar o mal-entendido.

"Então me ensina. Eu quero me acostumar. Droga." Murmuro, desviando o olhar por um momento, antes de despejar meus pensamentos. "Quero aprender e ter algo em comum com você. É tão frustrante ver você trabalhando aqui todos os dias, tão linda e talentosa, enquanto me sinto inútil, cometendo erros e parecendo uma tola. Vanessa, se você me desse uma chance..."

Vanessa fica sem palavras por alguns instantes, com a boca entreaberta, mas logo reage.

Antes que eu possa continuar, ela me surpreende com um abraço carinhoso.

"Eu também gosto de você." Ela diz, de forma simples, mas significativa.

"Como?" Pergunto, perplexa.

"Espere até o contrato de namoro falso com o Matheus acabar. Aí poderemos explorar o que esse sentimento realmente significa." Ela diz, transmitindo uma promessa em seu olhar.

"Mas..." Minha fala é interrompida por um suave selinho que ela me dá.

Seus lábios são macios e têm um leve toque de cereja. Me sinto nas nuvens, e percebo que meu coração está prestes a fazer uma reviravolta.

"Vanessa, eu..." Novamente tento falar, mas sou interrompida pela voz de Matheus chamando por ela.

"Nós nos vemos depois do contrato." Ela diz, saindo rapidamente, me deixando ali, com o coração palpitante e a mente embaralhada.

"Mas! Mas, como você sabia?" Eu pergunto, mas é tarde demais, eu já estou sozinha.

Coletânea - Entre laços e amassos Where stories live. Discover now