Matheus - Todo mundo odeia cebolas

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Matheus estava completamente exasperado com a situação: sua suposta namorada, ou melhor, sua "falsa namorada", estava deixando-o louco. Cada olhar dela, cada risada e reclamação sobre esse namoro inventado, tudo isso o irritava profundamente. Mas, para piorar, Matheus se viu surpreendentemente apaixonado, talvez até mesmo amando essa garota com quem mantinha essa relação de mentira.

Essa era uma situação completamente nova para ele, um mulherengo terrível e mestre em conquistar corações com seu charme irresistível. Matheus era o típico "cafajeste gentil", aquele que sabia exatamente o que dizer e fazer para conquistar qualquer pessoa. Porém, dessa vez, ele se viu caído em suas próprias teias.

Apesar de ser mestre em manipular sentimentos alheios, Matheus nunca imaginou que alguém conseguiria fazer o mesmo com ele. Afinal, todos caíam em seu papo, ou pelo menos quase todos. No entanto, havia algo de diferente nessa garota, e ela conseguia despertar emoções genuínas dentro de Matheus.

Essa novidade era assustadora e desafiadora para ele. O homem que costumava fugir do compromisso, que considerava os relacionamentos como meras aventuras passageiras, agora estava se sentindo preso a algo que começou como uma farsa. Mas talvez, no meio de toda a mentira, Matheus estivesse descobrindo a verdadeira essência do amor.

"Olha só quem acordou... Bom dia, flor do dia!" Matheus disse, com sua entusiasmo matinal, enquanto se aproximava de Lacete.

Ela o encarou com uma expressão que poderia derreter gelo. "Bom dia..." respondeu em um tom monótono.

Matheus ignorou o clima gélido e, com um sorriso travesso, envolveu sua cintura. "Se você quer que os outros acreditem em nossa mentirinha, precisa agir como minha namorada de verdade, princesa", sussurrou provocadoramente.

O rosto de Lacete ficou vermelho, mas não de paixão. Era pura raiva. "O que você quer que eu faça, cão? Estou fazendo o meu melhor", rebateu ela, claramente irritada.

Matheus riu, divertindo-se com a teimosia de Lacete. "Não... parece que você quer me matar. Você tinha vontade de matar seus outros namorados?"

"Eu não tive namorados", ela respondeu com um olhar desafiador.

"Percebi..." ele disse com um sorriso de canto, preparando-se para o que viria a seguir.

Mas antes que ele pudesse revidar com uma piada, Lacete deu um pisão forte em seu pé. "Ai!" exclamou Matheus, sentindo a dor aguda.

Com o gemido de dor de Matheus, alguns rostos curiosos surgiram na sala, rapidamente atraindo a atenção das pessoas ao redor. Lacete, com seus talentos teatrais afiados, não perdeu tempo e se abaixou na frente de Matheus, fingindo analisar o seu pé com uma preocupação falsa.

"Oh, meu amor, como você se sente?" ela perguntou, exagerando no tom carinhoso que fazia qualquer um questionar a sinceridade de suas palavras. Mas para a sorte de Lacete, as pessoas na sala pareciam acreditar em cada palavra, sem perceber a falsidade acontecendo bem diante deles.

Matheus olhou para ela incrédulo, observando o seu desempenho digno de um prêmio de atuação. No entanto, ele tinha uma ideia travessa em mente e resolveu tirar proveito da situação. Um sorriso travesso surgiu em seus lábios, e ele evitou sorrir demasiadamente para não entregar o jogo.

"Oh, princesa, acho que só vou melhorar se você me der um beijo", ele disse com uma voz arrastada, fingindo ainda sentir dor, embora estivesse se deliciando com a reação de Lacete.

Os olhos de Lacete se estreitaram, lançando um olhar que poderia incendiar o próprio inferno para Matheus. Seu olhar dizia claramente "vou te matar", mas os olhos travessos dele pareciam dizer "só depois do beijo".

Lacete sorriu sem graça, tentando disfarçar a tensão enquanto se levantava. Ela sabia que, cedo ou tarde, teria que ceder a esse teatro, e parece que o momento havia chegado.

Ela encarou o rosto safado de Matheus de perto e decidiu terminar logo com isso. Inclinando-se levemente, ela colocou uma das mãos no peito dele, brincando com os botões de sua camisa enquanto se aproximava lentamente dos lábios dele.

O beijo começou com uma leve pressão, e então, com um toque suave, os lábios de Lacete se encontraram com os de Matheus. Eles se beijaram como atores habilidosos. Era um beijo falso, mas ainda assim, havia algo estranhamente agradável naquela troca de carícias.

Enquanto a plateia os observava, alguns até soltando suspiros de "awn" e "que fofos", Matheus não pôde deixar de sorrir durante o
beijo. Não por ter conseguido o que queria, mas porque havia uma faísca genuína de conexão entre eles, mesmo que estivessem apenas representando.

Após aquele beijo teatral, Matheus percebeu que estava em apuros - e não era pouco. O que antes era apenas uma queda por Lacete, agora se transformara em um penhasco, uma paixão avassaladora que o deixava perdido em pensamentos, principalmente quando estava sozinho, na cama ou no chuveiro.

Decidido a enfrentar essa loucura de sentimentos, ele se dirigiu até a cozinha, onde Lacete estava ocupada cortando cebolas. Reunindo toda a coragem que tinha, Matheus fez uma pergunta que jamais imaginou fazer a alguém:

"Princesa... quer ser minha namorada de verdade?"

A resposta de Lacete foi rápida e surpreendente: "Eu não."

Matheus ficou sem reação, perplexo com a rejeição inesperada. "Ué", foi a única coisa que conseguiu dizer.

Lacete quase riu diante da reação de Matheus. "Você nunca foi rejeitado antes, né?", provocou ela.

"Eu nunca pedi uma garota em namoro antes", admitiu ele, se aproximando.

"Mas você vive rodeado de mulheres", rebateu Lacete.

"Sim, mas nunca me importei tanto com elas ao ponto de querer uma namorada. Você é a primeira", confessou Matheus.

Então, Lacete trouxe à tona algo importante. "Então, eu devo ser o seu karma... Lembra de uma das primeiras coisas que você disse quando eu cheguei na fazenda? Para que eu não me apaixonasse de verdade por você. E eu dei a minha palavra."

Matheus tentou argumentar, mas ela foi firme. "Sem 'mas', Matheus. Você sabe o que dizem sobre uma mulher que namora um cantor sertanejo, né?"

Ele questionou, curioso, sobre o que diziam, e Lacete respondeu com ironia: "Que elas são todas 'cornas'."

"Ninguém diz isso", defendeu-se Matheus.

"Mas vão começar a dizer", afirmou Lacete, preocupada com a possível repercussão de um relacionamento entre eles.

"Eu nunca te trairia... Lacete, eu..." Matheus tentou se explicar, mas foi interrompido pelos gritos de Alice na sala, chamando por Lacete.

"Tenho que ir", disse ela, pegando uma bandeja de comidas e saindo da cozinha em direção à sala.

Matheus se viu sozinho na cozinha, sentindo-se um misto de tristeza e frustração. Uma lágrima solitária escorreu por sua bochecha enquanto ele tentava processar tudo o que havia acontecido.

De repente, Alice entrou na cozinha, curiosa e preocupada. "Oxi, tá chorando?", perguntou ela.

"São as cebolas"

Coletânea - Entre laços e amassos Where stories live. Discover now