Família

34 4 0
                                    

9 anos

    "O que você quer ser quando crescer?"

Ela sabia o queria ser e o que vai ser quando crescer: uma grande bailarina da Broadway.

"Qual sua inspiração para querer exercer essa profissão?"

A pergunta se repetia na mente de April desde o final da aula. Ela não queria conversar com o pai sobre o que estava sentindo em relação aquele trabalho, sempre que tocava no assunto "mãe", Frank ficava triste e ela sabia que no fundo, o pai ainda não sabia lidar com a partida de Abigail.

Pensou em falar com Nick, mas nos últimos dias, ele estava muito ocupado com os deveres da escola e do reforço escolar. Ele sempre quis entrar pro time de futebol da escola, e por isso precisava melhorar as notas e April entendia, o amigo estava correndo atrás dos seus sonhos: Vai Churners!

Pensou então em lidar com aquilo sozinha, como fazia com muitas questões desde a partida da mãe. Poderia até ter apenas nove anos, mas April amadureceu rápido e sentia que conseguia lidar com tudo.

Ela estava no quarto, sentada de frente para sua escrivaninha, com um lápis na mão direita e uma borracha na mão esquerda. Aproveitou que hoje não tinha aula de dança e resolveu se concentrar 100% naquele trabalho, já que valia metade da nota final.

April: Talvez eu possa... fazer um texto falando sobre as aulas de dança e sobre alguma grande bailarina da Broadway ser minha inspiração... - Pensou alto, ela não estaria mentindo, apenas omitindo alguns fatos. - Não preciso escrever sobre ela. Ninguém na escola sabe sobre ela... Ou será que alguém sabe?! - A garotinha perguntou para si, tentando puxar na memória se havia a possibilidade de alguém saber sobre sua mãe.

April sentiu o coração acelerar com o pensamento de alguém saber sobre esse delicado assunto. Olhou para as mãos e as viu tremer, a respiração já não estava regulada e o quarto parecia diminuir a cada segundo. De repente o local estava quente, e April sentiu o suor escorrer por sua testa e pescoço. O que estava acontecendo?

Sem saber como agir, April levantou de onde estava e foi em direção a janela do quarto, se apoiando ali na tentativa de obter mais ar.

       Respira fundo April. Respira fundo April.     Respira. Fundo. April.

Essa era a frase que ela repetia mentalmente como um mantra, já que não conseguia pronunciar nada.

Começou então a observar a fazenda, o sol estava alto ainda, o vento balançava a copa das árvores no quintal e tinham alguns pássaros voando por ali. Viu Frank sair do quintal e tinham alguns pássaros voando por ali. Viu Frank sair do celeiro e caminhar em direção a casa, distraído. Observou também que o céu não tinha nuvens e estava num azul bem clarinho. Foi só depois de observar toda a paisagem e pensar em cada detalhe do que via, ouvir Frank entrar em casa e logo depois ouvir o barulho do chuveiro ligado que April notou que a sensação ruim não estava mais presente.

Já não era a primeira vez que aquilo acontecia, mas ela não tinha contado pra ninguém sobre, afinal, ela já tinha nove anos e podia lidar com qualquer coisa sozinha.

Voltou para o trabalho, tinha muito o que ser feito para que ele ficasse perfeito e ela não tinha muito tempo. Resolveu que escreveria sobre as aulas de dança mesmo e que sua inspiração vinha da própria atividade.

Um tempo depois e uma April cansada, porém orgulhosa do próprio trabalho, porém orgulhosa do próprio trabalho, estava arrumando suas coisas para a aula do outro dia. Foi tão determinada em cumprir com aquela tarefa que ainda sobrou tempo para praticar alguns passos de dança antes do jantar.

A Dançarina ImperfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora