infância

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Seis anos

A música tocava alto, e as luzes coloriam o palco. Crianças entravam e saíam em direção às cochias; conforme trabalhado em aula, se movimentavam com a batida da música, sorriam e pulavam, faziam piruetas, Plié, Jeté e Grand Jetés, Tendu, Battement, Rond de Jambe, Frappé e brilhavam aos olhos de todos que assistiam ao espetáculo. Uma garotinha linda observava tudo o que acontecia atentamente, e mesmo amando o palco e a dança, a pequena se repreendia e voltava a encarar a platéia sempre que percebia estar distraída com as coreografias que aconteciam na sua frente. Era teimosa demais pra admitir que não encontraria o que tanto procurava, pelo menos não naquele momento.

Barb: Querida, querida! - Chamou a atenção da pequena April, que a qualquer momento poderia cair para dentro do palco enquanto tentava espiar a platéia. - Se continuar assim, todos vão te ver. Vem, vamos esperar pela sua vez lá no camarim, com suas amiguinhas.

April: Mas Senhorita Barb, eu preciso ver se ela já chegou. Eu treinei muito e o papai mandou o convite pra ela, mas eu não consigo enxergar se ela está na platéia. - Respondeu uma linda garotinha de seis anos frustrada com a visão que tinha, ou melhor, que não tinha da plateia que assistia ao espetáculo de dança.

Senhorita Barb, vendo que não convenceria a pequena a sair dali tão fácil, se aproximou e se abaixou na frente de April, dando seu sorriso terno que aquecia o coração de todos, inclusive o da menina, tendo agora total atenção para si.

Barb: Meu bem, se ela estiver na platéia, no final do espetáculo você vai encontrá-la. Mas agora, precisamos voltar pro camarim com suas colegas, logo será a vez de vocês apresentarem e é melhor ficarem juntas. - April não estava totalmente convencida em se juntar as suas colegas, mas sabia que era essencial ser obediente para se tornar uma grande dançarina.

Então mesmo a contra gosto, foi com sua professora até o camarim improvisado: uma sala pequena, com um espelho pequeno e algumas cadeiras almofadadas no tom azul.

Assim que entrou no local, escolheu o espaço menos bagunçado e menos cheio de mochilas, bolsas, saias, collants e apetrechos de cabelo pra ficar. Via as amiguinhas passando o tempo conversando e colorindo algum desenho bobo, brincando com jogos e até mesmo descansando no colo de alguma das mães que tinha se oferecido para auxiliar no cuidado com as crianças durante o espetáculo, mas sua cabeça estava agitada demais pra qualquer uma daquelas atividades. Ao invés disso, a pequena resolveu repassar os passos da coreografia, até que se desse por satisfeita e estivesse tudo perfeito para orgulhar sua mãe.

Na entrada do pequeno teatro da cidade de New Hope, Frank tentava pela sétima vez em quinze minutos ligar para Abigail. Ele já tinha aceitado o divórcio, já tinha aceitado que não tinha importância nenhuma na vida da mulher que tanto amou, mas jamais aceitaria o descaso dela com a filha deles. April não tinha culpa nenhuma pelos sonhos frustrados da mãe ou imaturidade, não tinha pedido pra nascer e não merecia aquela situação. Estava prestes a encerrar a chamada quando uma voz familiar atendeu.

Abigail: Alô?!

Frank: Já não era sem tempo Abigail! Eu estou desde cedo tentando falar com você, estou te esperando aqui na porta do teatro, com o ingresso, você já tá chegando? - Silêncio. Foi o que Frank recebeu em resposta, e o silêncio vindo de sua ex-mulher nunca era algo bom. Ele tinha entendido, mais uma vez teria que ver sua princesinha chorar e passar horas ensaiando e revendo os passos de dança que na opinião dele, sempre eram perfeitos. - Por favor, me diz que você está na cidade e apenas esqueceu onde fica o teatro? - Implorou Frank, já sabendo a desculpa que ouviria a seguir.

Abigail: Por favor Frank, tente entender, eu tive alguns compromissos de última hora, inadiáveis. - Abigail na verdade tinha apenas esquecido a apresentação da filha e não julgou importante mover céus e terra para ir até Wisconsin. Era só mais um espetáculo, afinal. Ao notar que o ex-marido não respondeu sua justificativa com uma lição de moral, como sempre fazia, a mulher franziu o cenho e perguntou. - Frank, você tá aí?

A Dançarina ImperfeitaWhere stories live. Discover now