Capítulo 4

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Não consigo olhar para lado nenhum

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Não consigo olhar para lado nenhum. Estou ciente que o  homem sentado ao lado do motorista me analisa pelo espelho retrovisor, pois sinto seu olhar queimando minha pele. Meus sentimentos estão à flor da pele, além da dor física que sinto por conta do monstro do meu pai, meu peito também dói por saber que todas as chances que eu tinha de ser livre ficaram naquele cartório.

Sem perceber um soluço baixo escapa de meus lábios, no instante seguinte um lenço me foi estendido. Olho para o rapaz e vejo pena em seu olhar. Como não pego o lenço de imediato ele se pronuncia.

— Pegue menina. — A voz grossa me faz encolher, é automático, mesmo que eu não queira isso acontece — Não vou te machucar. — sua voz se abranda.

Ele fala italiano, mas o sotaque russo é muito evidente.
Relutante seguro o lenço e limpo as lágrimas quentes que banham minha face.

— Gracias. — agradeço em minha língua.

Sempre que fico nervosa, minha tendência é falar em espanhol. Não sei porque isso acontece.
O telefone do desconhecido toca, quando atende fala em seu idioma não parecendo feliz com o que ouve.
Escuto o nome de Alexei, ficando tensa imediatamente. Assim que a  ligação é encerrada, o homem vira para mim.

— Angel de la paz, me diga o caminho.
Fico uns segundos sem entender onde quer chegar, o olhando com o cenho franzido.

— E-eu — gaguejo, o que parece irritá-lo.

— Não gagueje. — resmunga entre dentes.

— Desculpe. — murmuro.

— Não se desculpe, eu ...— ele fecha o olho, apertando a mão em punho, quando volta a abri-los sua expressão está mais suave — Você sabe onde fica, Olívia?

— O motorista sabe. Eu não sei o nome das ruas aqui, sempre que saía era com minha mãe e um motorista nos levava.
— Mora na Itália a pouco tempo?

— O que? Não! Na verdade moro aqui a vida toda — respondo envergonhada olhando pela janela.

Sei que é ridículo uma mulher adulta ser tão incapacitada e impotente, mas fui criada para ser apenas um adorno, uma serva que faria as vontades do marido. 

" Meu pai não deixava que eu saísse sozinha e quando a gente saia não era importante que eu soubesse para onde, tinha apenas que obedecer a ele e a mama. 

 — Deveria ser uma merda. – ele fala sucinto e pela primeira vez naquele dia uma sombra de sorriso passa pelo meu rosto. 

Então digita alguma coisa no celular e a voz robótica do GPS começa a indicar o caminho.

— Era realmente uma merda. — fungo lembrando da minha vida infeliz — Na frente das pessoas e da minha irmã, eu sempre fingi muito bem. Mentia que estava feliz com a vida limitada que meu pai dava, só que a verdade era totalmente diferente. — Me vejo sendo transparente com aquele homem, nem sei porquê. Talvez seja por eu me sentir tão cansada, triste, frustrada e abandonada. — O quê vai acontecer comigo?

Vindita - Spin-Off da Série Amores LetaisWhere stories live. Discover now