▪Track 02

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O meu sonho acabou junto com o toque para o intervalo. Logo o pátio se encheu de barulho e alguns amigos invadiram o espaço que antes era só nosso. Em segundos, o garoto que estava há poucos milímetros de mim se encontrava distante, arrastado pelos outros que perguntavam porque estávamos matando aula. Nós sorrimos e a resposta nunca surgiu. Jungkook disse que queria jogar e todos partimos para a quadra.

Eu passei o dia com a cabeça cheia de pensamentos. Talvez aquelas músicas fossem mesmo populares, como ele havia dito. Eu não podia pressupor que era ele o meu admirador secreto só porque ele sabia cantar todas elas. Esses mesmos pensamentos me levaram à cama e embalaram o meu sono.

Na manhã seguinte, eu achei outro bilhete em meu armário: "Paris in the rain". Não perdi um segundo sequer em resgatar meu celular do bolso. No curto caminho que eu fiz até a sala de aula e nos poucos minutos que eu esperei a chegada do professor, eu senti meu coração derreter e a esperança aumentou em um ritmo alarmante, enquanto via a tradução daquela nova canção.

Jungkook entrou na classe — sem que eu percebesse, já que eu estava perdido naquela melodia lenta — e bateu o dedo em minha mesa, com um sorriso. Eu abri os meus olhos para ele e meu coração acelerou. O sorriso daquele garoto parecia mágico com a trilha sonora que ressoava em meus ouvidos. "Essa também é muito boa", ele moveu os seus lábios, sem deixar que nenhum som escapasse. Seus olhos miravam a tela acesa do meu celular. Por pouco eu não lhe perguntei se aquela música não o fazia lembrar do dia anterior, quando éramos apenas nós dois, sem muitas palavras e cheios de sorrisos que diziam que qualquer lugar ao lado um do outro era perfeito.

Foi assim que, eu, Min Yoongi — o rapaz que estava sempre atrasado por uns minutinhos a mais de cochilo e pela típica falta de energia matinal — deu ouvidos ao alarme pela primeira vez e se levantou imediatamente. Se sempre que eu chegava já tinha um bilhete à minha espera, então eu teria alguma chance de ver a pessoa durante o ato.

— Yoongi, o que você tá olhando aí? — alguém me abordou de repente, fazendo meu coração disparar ainda mais do que já estava ao ver Jungkook no meu armário.

Virei o olhar para o rapaz alto e de sorriso largo que me encarava.

— Tae, você me assustou, sabia?

— Desculpa. É que você parecia tão sorrateiro. — se explicou e eu agradeci pela sua descrição ao notar o meu comportamento. De repente, ele se debruçou sobre mim e a parede para ver o que eu espiava. — Oh... Jungkook? — riu sugestivo ao notar as costas do garoto que se distanciava pelo corredor.

Taehyung não chegara a tempo de ver Jungkook parado de frente ao meu armário, ele também não tinha conhecimento dos bilhetes anônimos que eu andava recebendo e nem tinha porquê saber. Então eu ia dizer que não era o que ele estava pensando, mas o meu rosto se tornou vermelho intenso ou era o que eu imaginava pelo queimor que eu sentia em toda a minha face. Acabei optando por não dizer nada, porque seria patético demais negar que eu tinha interesse em nosso amigo, dada as circunstâncias em que eu havia sido pego.

— Não comenta nada com ele, por favor. — pedi, era a única coisa que eu podia fazer no final.

Eu não queria que o Jungkook soubesse do meu crush por ele através de outra pessoa e também não queria que ele soubesse que eu o tinha visto no meu armário. Se fosse mesmo ele a pessoa dos bilhetes, ele ia perceber que eu já estava desconfiado.

— Claro que não, Yoongi. Não se preocupe com isso. — Taehyung colocou a mão sobre meu ombro e sorriu com aquele seu jeito amistoso.

Daquele jeito, nós fomos até nossos armários. Assim que eu coloquei a minha senha e abri a portinha, encontrei um bilhetinho de cor verde. "Always you", era aquela caligrafia bonita de todos os outros... Jungkook, era você mesmo? Eu mordi meu lábio, enfiando o papelzinho no bolso e peguei meus livros pronto para seguir um dia de aula como qualquer outro, exceto pelos bons pensamentos que eu tinha na cabeça sobre ser correspondido pela pessoa que eu gostava. Uma pena que essa alegria não durou tanto quanto eu queria.

Bastou eu pisar na sala de aula para ver que tinha pelo menos uns cinco colegas de classe ali. Me perguntei quantas pessoas mais já devia estar em suas salas e quantas também poderiam ter parado no meu armário.

— Uou, você chegou cedo hoje, Yoongi. — Jungkook me cumprimentou quando me sentei atrás dele.

— Eu não posso levar outra advertência. — respondi com um sorriso bobo, como se eu me importasse com isso.

Ele apenas sorriu como se concordasse, mas depois me surpreendeu com sua fala:

— Ao menos poderíamos ouvir mais algumas músicas juntos. — seu tom não parecia simples.

Era como se ele estivesse tentando dizer algo e mesmo se não estivesse, saber que aquele momento não havia sido especial só pra mim, me deixava maluco. Eu precisava descobrir a verdade. Se eu não podia ter certeza de quem era, flagrando o visitante do meu armário, só havia mais uma alternativa. Seria arriscado e um pouco errado, no entanto, eu não estava pronto para desistir ainda.

Se havia alguma chance do garoto que eu tanto gostava estar tentando me dizer que sentia o mesmo, eu não deixaria de correr atrás da verdade. O próximo passo era checar a caligrafia do Jungkook. Eu já a tinha decorada em minha mente, aquela letra caprichada que eu lia todos os dias. Se realmente fosse a sua letra em todos aqueles bilhetinhos românticos, eu não teria medo de confrontá-lo e dizer que já sabia de tudo e que se era mesmo ele, eu queria ser mais próximo dele.

Mas como eu mexeria nas suas coisas, sem que ele notasse? Ou qualquer um. Era raro a sala ficar totalmente vazia, a não ser que... Eu tivesse um aliado. E eu já sabia quem seria. Apesar de ser muito popular, eu consegui segurar Taehyung na hora do intervalo antes de qualquer outro.

— Preciso que me ajude com algo. — falei com urgência.

— Que seria? — me olhou curisoso, devido ao meu nervosismo. Eu era o cara mais suspeito do mundo no momento.

— Hoje mais cedo, sobre o Jungkook... — sussurrei seu nome, timidamente.

— Cara, fica frio, eu não vou contar a ninguém. — pousou a mão sobre meu ombro. — Eu super te entendo, ele é bem atraente. Um monte de gente tem um crush nele. Você não é o primeiro que conheço.

Saber que a concorrência era grande me deixou ainda mais nervoso e um pouco desmotivado. Mas se eu pensasse bem, se ele gostasse de mim, os outros não importavam.

— Não é bem isso e eu não posso te explicar os detalhes, mas você é amigo de todos da sala, ne? Você poderia tirar todo mundo daqui?

Ele me olhou desconfiado.

— Você não vai fazer nada estranho, ne?

— Eu só preciso checar uma coisa. — e se eu lhe contasse toda a verdade? — Eu vou ser honesto com você. Tem um tempo que ando recebendo bilhetinhos românticos e eu acho que... — a vergonha bateu na hora, como eu podia dizer que achava que eram do Jungkook??

— Ohhh, você acha que pode ser ele? — não pareceu tão surpreso. — O Junkook é bem romântico, ele faria algo assim. — acendeu ainda mais a minha esperança — Qual o plano?

— De manhã eu o vi no meu armário, mas não tenho certeza se foi uma coincidência. A prova final seria checar sua letra, eu posso olhar o seu caderno e...

Nem terminei de falar e Taehyung deu um alerta no meio da sala, convidando todos para irem comer logo e poderem ter tempo de jogar. Jungkook foi o primeiro a levantar-se e concordar. O que fez Taehyung me olhar com um sorriso ardiloso e piscar. "Vai em frente.", sussurrou fazendo sinal de boa sorte.

Em segundos todos saíram da sala animados, falando sobre quem ia ficar no time de quem e vencedores. Nada disso me importava. Eu estava sozinho com a mesa do Jungkook bem de frente a minha. Fui sorrateiramente até ela e peguei seu caderno guardado embaixo da banca. O abri, com o coração acelerado e ele ficou ainda mais quando notei que aquela caligrafia era a mesma dos bilhetes, isso queria dizer que Jeon Jungkook, o cara que eu estava apaixonado há tanto tempo era o meu admirador secreto?! Sim, aquela letra fechava todas as provas que eu precisava. O que me faltava agora era criar coragem e confrontá-lo, para que assim, nossa história de amor tivesse seu começo de verdade.

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