Uma noite longa

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 O jantar havia sido tranquilo. Lajy se manteve um pouco calado e Addy já havia chegado consideravelmente embriagado. Limo acompanhou o grupo durante a refeição, o que ajudou a deixar o clima daquele dia bem mais leve. O grupo optou por não dar continuidade à noite pois, além de todos estavam esgotados, o líder da guilda os avisou que no dia seguintes eles deveria ir a um costureiro para que ele preparasse todos os trajes que usariam em seu casamento.

Já em seu quarto. Lajy trocou de roupa e colou apenas uma calça que costumava usar para dormir já que suas blusas de "pijama" era apertas para passar pelas bandagens. Ele se sentia meio perdido ainda, apoiando as mão na sacada da janela de seu quarto, olhou para a lua crescente e repassou toda a sua vida e suas decisões até aquele momento, procurando talvez onde o seu caminho se tornou tão sinuoso e confuso. A melhor resposta que pensou foi:

"Acho que desde que nasci."

 Já quase sem energia no corpo e de estômago cheio, se encarou no espelho de seu quarto por um momento. Ele sabia que o ferimento já estava estável e era seguro retirar seu curativo. Sentou-se na cadeira da mesinha de madeira de seu quarto e encarou fixamente seu olho esquerdo enquanto o desenfaixava. 

 O que Lajy temia estava confirmado: estava cego de seu olho esquerdo.

 O sentimento de revolta voltou a ferver seu sangue. Não por ter sido derrotado uma batalha, apesar de fazer tempo que não passava por isso, mas por sentir que estava mais fraco do que antes.

"Se Oriana não estivesse lá, eu não teria me distraído? E se... Se eu tivesse emendado o ataque, mesmo tendo um impacto menor, ele teria mesmo tempo de reação e eu poderia ter aberto vantagem, mas eu me afastei... Ah, foda-se essa merda! Eu não simplesmente aceitar ficar mais fraco. Minha mãe tá me esperando e eu tenho trabalho demais pra fazer ainda."

 Ao se virar para sua cama amarrando o pano pequeno em cobria sua ferimento  com as bandagens, o calafrio de uma susto absurdo lhe subiu pelo corpo. Em meio àquela penumbra de seu quarto, Sombra com o "corpo" sentado na beirada 'sul da cama. Mesmo a vendo a poucos segundos, a silhueta do espectro parecia estar ligeiramente melhor definida. Lajy acreditou já estar se acostumando com aquela visão estranha.

 Sem esboçar nenhuma reação apesar do susto, Lajy foi calmamente andando pelo quarto enquanto terminava de amarrar suas bandagens.

- Você quer que eu me deite e te conte todos os meus problemas? - Perguntou Lajy em tom de deboche. 

- Não. - Respondeu a Sombra de forma plena e direta. - Eu vou com a sua cara mas não gosto tanto assim de você.

 Em seguida, a entidade levantou-se e pareceu andar até o meio do quarto.

- Então qual o motivo de sua visita? - Questionou o tiefling transparecendo impaciência.

- Hum. - Sombra pareceu dar um riso contido no interior de sua neblina escura. - Você ficou um pouco mais forte dês da última vez que eu te vi, garoto.

- E você ficou mais feio. - Respondeu Lajy prontamente. - Feia? Fei... - O tiefling ficou sem graça mas não quis expressar nem desconforto, nem desrespeito.

- Ah eu nunca liguei pra pronomes. - Respondeu a Sombra de forma descontraída para interromper o clima de estranheza que se instaurou por um momento. - Isso é coisas de vocês pessoas contemporâneas, pode me chamar como quiser. - Fez uma breve pausa. - Só pra ter certeza, ou seus pronomes são masculinos, não são?

- São. - Respondeu Lajy não se contendo em esboçar uma risada. - Não que faça tanta diferença...

- Vou supor que você não me chamou de feia e vou esperar que me questione com o que deseja.

Lajy, o OdiadoOnde histórias criam vida. Descubra agora