Soulmate

Crossed Looks

O sol iluminava Seoul como fazia em qualquer outro dia. As pessoas andavam pelas ruas tranquilamente, indo fazer o que precisavam. Em um quarto de um prédio, estava um garoto de cabelo negro e curto, se remexendo na cama como se estivesse tendo um pesadelo.

-NÃO! – O garoto gritou sentando-se rapidamente na cama enquanto sua respiração estava descompassada. Lágrimas escorreram por seus olhos negros. Por mais uma noite, havia tido o mesmo pesadelo que o atormenta por noites e noites. Rezava todo dia, implorando para se livrar disso, mas sua mente não lhe permitia. Antes que se levantasse, tentou cessar o choro.

Após fazer suas limpezas matinais, se arrumar e tomar café da manhã, saiu de casa seguindo em direção a sua faculdade.

Um homem permanecia deitado de bruços em sua cama dormindo. O edredom branco lhe cobria até metade das costas deixando à amostra uma tatuagem na parte posterior esquerda, com a frase: "Do what u like and luv what u do." Ao lado da cama, em cima do criado-mudo, um celular tocava. O moreno suspirou antes de pegar o objeto e atender.

       -Boom dia amor! – Uma voz feminina pode ser escutada do aparelho eletrônico. – Dormiu bem? Já está pronto?

-Bom dia... Dormi. E não. Ainda nem levantei.

          -Mas amor! Desse jeito você vai chegar atrasado pro seu primeiro dia de aula!

-Não vou não. Relaxa.

          -Eu estou aqui embaixo te esperando. – A garota falou e o garoto suspirou.

-Mas já? Aish! Estou indo me arrumar e já desço.

         -Okay amor. Até. – Ela falou e ele desligou a ligação. Enfiou a cara no travesseiro suspirando. Como ela podia ser daquele jeito?

O homem se levantou da cama e foi fazer suas limpezas matinais. Assim que as terminou, se vestiu e saiu do apartamento encontrando a namorada no hall de entrada. Ao vê-lo, se levantou e correu até ele o cumprimentando com uma reverência e depois um beijo no rosto.

-Vamos? Iremos tomar café da manhã naquele restaurante que você ama! E depois vamos para a aula. Dá tempo direitinho. – Ela falou abraçando o braço dele. A garota era um pouco mais baixa que ele. Com cabelos negros e até o ombro, e olhos negros. Ela usava um vestido rosa bebê. E nos pés, um par de sapatinho de boneca.

-Vamos.

O garoto andava pelas ruas da cidade enquanto ouvia musica com seus fones de ouvido. Musica. A única coisa que o acalmava, e deixava-o bem. Nada além dela. E era por isso que estava fazendo faculdade de música. Queria viver daquilo. Viver da musica. Da única coisa que lhe fazia bem.

Enquanto andava absorto naquelas melodias, percebeu que um casal passou por ele, e começou a andar na frente dele. Reparou que o homem era um pouco mais alto que a garota. Ela usava um vestido rosa bebê, que na opinião dele, não era bonito. O homem, aparentava ser bonito. Ver os dois de braços dados, conversando, e a menina rindo, trouxe-lhe pensamentos de que um dia poderia passar por aquilo de ter alguém junto dele, cuidando dele, e o amando, mas em seguida aquele pesadelo surgiu em sua mente e antes que pensasse mais sobre isso, afastou os pensamentos tentando focar na musica que tocava. Casais... Por que tinham que sempre aparecer em sua frente?

Agradeceu quando os dois entraram em um restaurante, e então continuou seu caminho até a faculdade. Chegando nela, foi direto para a sala. Não tinha amigos. Muito menos colegas. Tinha, só quando havia um trabalho em grupo, mas nada além disso. Não sofria bullying, mas ninguém escolhia ele. Claro. Quem escolheria alguém quieto que não interage com ninguém? Alguém bizarro, que não podia ser tocado? Alguém sujo como ele? Ninguém. Mas eram obrigados a terem ele no grupo.

Sentado em sua carteira, ao lado da janela, ainda ouvindo sua musica, observou a paisagem. O céu extremamente azul. Muitos diriam que era um dia lindo. Para ele, era só mais um dia.

Enquanto olhava o céu, um homem moreno entrou na sala e sentou-se na frente dele. Como sempre fazia, ignorou o homem a sua frente. Na realidade, reparou um pouco nele... Parecia muito com a nuca do homem que havia entrado naquele restaurante. Coincidência? Na cabeça dele, sim.

O sinal de intervalo soou pela universidade e ele se levantou saindo da sala. O homem que estava em sua frente ficou lá.

-Amor! – A voz feminina surgiu e o homem revirou os olhos. Ela se aproximou rapidamente dele. – E então, como foi sua primeira aula? Gostou?

-É musica Yang-Mi, como não gostar? – O homem confessou e a garota fez biquinho.

-Não me chame pelo meu nome. Já disse que pode me chamar de amor. – Ela falou e sorriu.

-Está bem... Amor... Vamos comer.

-Sim! – Ela afirmou animada, segurou no braço dele e foram para a lanchonete. Precisaram enfrentar uma pequena fila até conseguirem suas refeições e poderem sentar para comer. A garota falava animadamente enquanto ele apenas ficava preso em seus pensamentos. – Amor, vou no toalete e já volto. – Yang-Mi falou e se levantou indo em direção a onde queria.

-Aish! – O homem bufou e bagunçou a cabeça. Por que? Por que sua vida tinha que ser assim? Por que não conseguia simplesmente jogar tudo pro alto, e viver sozinho do que mais amava? Da musica. Queria ser forte para isso... Pelo menos, por enquanto não podia fazer isso. Teria que aguentar mais um pouco. Ou tentar aguentar. Preso em seus pensamentos, olhou para a frente.

Absorto em suas musicas, comia, ignorando qualquer pessoa que passe perto dele. Ninguém chegava perto para falar com ele ou coisa do tipo, e ele não se esforçava para isso também. Na realidade, nem sabia como ainda ia para a faculdade. Tá. Sabia. Era por causa da musica. Mas ainda assim... Suas crises as vezes o impedia de seguir seu sonho. Crises... Como as odiava. Como odiava tudo nele. Por que? Por que tinha que ter nascido? Por que alguém como ele tem que viver?

Novamente as lágrimas tomaram seu olhos e antes que elas caíssem, retirou o liquido deles. Enquanto fazia isso, olhou para a frente, encontrando um par de olhos.