Prólogo

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Há quem diga que os céus sempre foram pacíficos, que os anjos são seres de muita luz, incapazes de fazer mal a nenhum ser humano. Talvez, nesse ponto, estejam certos. Não conseguem machucar nenhum humano, porém, entre si, há competição e desdém, maus tratos e muita desavença.

O céu estava inquieto, enquanto o Senhor anunciava sua nova criação.

Uma última Serafim havia sido criada, diretamente por Suas mãos. Skotadi era seu nome. Uma breve homenagem à cor de suas asas. Únicas e belas no reino angelical: dentre todas, as suas eram as maiores e únicamente pintadas do mais puro negro. Suas penas reluziam prateadas, organizadas milimetricamente uma ao lado da outra, não havia uma pena mal penteada ou que destoasse das demais. Deus havia caprichado, por isso havia dedicado tanto tempo em sua última criação que acabou "esquecendo" de suas outras proles.

Skotadi, inocente ainda, fora designada como protetora da liberdade e da justiça, sendo a mais jovem Serafim e, também, a mais poderosa, ela apenas não sabia desse último fato. Desde muito cedo teve lições do Pai, sendo guiada e treinada por Ele mesmo. Seus irmãos Lúcifer e Castiel foram os únicos que a aceitaram e amaram, enquanto os outros a deixavam de lado e a tratavam com desdém.

Com seus dois irmãos, teve aulas de combate e proteção, eles lhe ensinaram tudo que julgavam necessário ela saber sobre o mundo e as criações do Pai. Eles eram, junto ao Pai, os pilares para a jovem.

Sua aproximação com o Criador e o seu desenvolvimento divino despertaram nos outros um sentimento ruim. Aquilo fez com que todos passassem a cobiçar seus dons e desejar o seu mal.

Aquilo era errado perante os anjos, porém, eles não mais ligavam.

Era certo que os Serafins não poderiam ir à Terra e nem desobedecer ordens. Skotadi era curiosa, os humanos a instigavam. Várias vezes foi parar na Masmorra Celestial, graças à sua curiosidade e ingenuidade. Suas perguntas já eram motivo suficiente para que levassem-na presa, com a desculpa de que ela deveria pensar sobre suas atitudes e deixar de desobedecer o Pai. Seus outros irmãos a esqueciam lá propositalmente e só "lembravam" de libertá-la após muito tempo, quando Castiel e Lúcifer encrencavam até que a pequena fosse solta. Ela passava mais tempo presa do que livre.

Certa vez, o chamado "ano zero" se iniciava. Era o início de uma nova era. Seu Pai acabou ausentando-se, empenhado em cuidar de seu novo projeto para a Terra. Ele acreditava que seus filhos tinham discernimento e capacidade suficiente para cuidarem do paraíso em sua ausência.

Errado.

O momento foi perfeito para que os irmãos se livrassem de Skotadi. Esquecendo-a trancafiada na mais escura e profunda cela da Masmorra Celestial. Nada mais propício que a ausência do Pai para que pudessem fazer o que desejavam desde sua criação.

Fora pega de surpresa enquanto espiava, pelas Fendas Divinas, a humanidade lá embaixo, por três de seus irmãos. Seguraram-na com força pelos braços e foram arrastando-a até o seu lugar "especial". A Serafim se debatia, em tentativas falhas de desvencilhar-se dos irmãos. Eles logo jogaram-na lá e, todos os dias, alguém ia torturá-la.

"Por que? Por que fazem isso comigo?"

Perguntava ela, sempre que alguém chegava para os maus tratos. A falta de respostas lhe angustiava.

Os anos foram passando e ela sempre dava seu jeitinho de visitar a Terra. Era uma criança curiosa e cheia de energia, sua Graça parecia não ter limites, mesmo fazendo tremenda força para quebrar as barreiras da prisão. E isso ela fazia muito bem, mesmo que por poucas horas. Acabou conhecendo outra criança, um menino alegre e brincalhão, com quem fizera amizade e sempre fazia questão de visitar para brincarem juntos. Quando seus irmãos descobriram, passaram a vigiá-la com mais vigor, impedindo-a de dar suas escapadas.

SerafimNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ