Automaticamente acabei notando que o loiro estava com uma aparência diferenciada. As suas bochechas estavam mais rosadas do que o normal e os lábios aparentavam inchados. Seu cabelo claro, que costumava estar sempre arrumado na escola, estava um pouco bagunçado, a camisa social um pouco repartida e solta, junto da gravata frouxa. Também notei um pequeno arranhão em seu pescoço que deixou uma vermelhidão. Eram os pequenos detalhes que o tornavam tão sexy e atraente. Isso me intrigava, porém, o que ele fez ou deixou de fazer em sua vida não me interessava.

Suas íris então vagaram vagamente em direção ao meu livro de plantas e aquele maldito sorriso ficou muito maior. Pronto para fazer mais uma provocação.

— Acho que você achou uma identificação — Ele concluiu, como se fosse engraçado.

Franzi o cenho e dei atenção a página sobre a planta.

A planta comigo-ninguém-pode é utilizada para ornamentação, uma planta com folhagens lindas, de alto valor ornamental, entretanto, com alta toxicidade. Muitas pessoas compram plantas atraídas pela sua beleza, pelas cores e diferentes formatos, esquecendo de se informar sobre o seu potencial toxicológico.

Muito engraçado — Revirei os olhos.

— Você não veio aqui para saber sobre plantas, não é? — Eu o vi se recostar na cadeira, deixando-o com uma postura solta, ele automaticamente inclinou a cabeça para o lado, deixando os olhos semicerrados enquanto os mantinha em mim. Acompanhei seu movimento enquanto o mesmo levava o lápis aos lábios pressionando-os.

— Claro que vim — Respondi apoiando meus braços sobre a mesa — Queria pesquisar mais, antes te dar uma de presente, mas acho que sem querer parei na parte venenosa — Sorri e inclinei meu tronco sob a mesa.

Uma pequena risada escapou de sua boca, e antes que eu percebesse, o loiro tinha se inclinado sobre a mesa, de modo que nossos rostos estavam a apenas alguns centímetros de distância. Meus olhos caíram automaticamente para seus lábios, que pareciam tão bons para serem beijados.

Inchados, vermelhos, carnudos...

Por um deslize, eu quase levei isso como um pedido.

Di Angelis ergueu sua mão e deslizou seus dedos pelo o meu rosto, ao mesmo tempo que seu olhar continuava fixo em mim. Ele continuou a desliza-los, achando o meu cabelo e enrolando um dos seus dedos em meus cachos. Sua mão era quente, macia e forte. Ele insistentemente seguiu um caminho pela lateral do meu pescoço e meu coração pulou, meu olhar se tornou confuso e medroso, por alguns segundos eu senti que ia vacilar da minha cadeira.

— O que tá fazendo? — Eu segurei o seu pulso, franzindo o cenho.

— Tem gente olhando — Ele inclinou discretamente a cabeça para o lado e eu fui naquela direção, me deparando com Lavínia, que apesar de cercada de gente, tinha os olhos fixos em nós.

Soltei seu pulso devagarinho e finalmente relaxando minha postura rígida, voltei meu olhar para ele que estava com um sorriso de canto.

— Ela tá em todo lugar — Resmunguei baixo.

— E se incomoda muito com você.

— Então é recíproco — Falei com a voz cínica.

Tomei a liberdade de passar as mãos pelo os seus cabelos bagunçados, dando uma leve arrumada. Seu olhar estava seguindo os meus movimentos, pude sentir a maciez e a leveza dos seus cabelos, o tipo de cabelo que com certeza era cuidado com os produtos mais caros. Então eu corri minhas mãos sobre seu rosto, sentindo sua pele, assim como ele fez com a minha.

Percebi seu olhar vagando pela minha boca e ele não desviou o olhar descaradamente, eu poderia jurar que havia um brilho de malícia e desejo em seus olhos, mas me convenci de que era apenas mais um de suas atuações.

Meu olhar então parou sobre a mesa, notando um desenho que estava um pouco preso ao caderno de Apolo, ergui as sobrancelhas curiosa pois parecia ser um desenho muito bem feito. Em um gesto automático, eu passei meu braço na direção do desenho e o retirei de lá, fazendo assim com que tirasse todo o transe da nossa atuação.

— Isso é seu? Tu que fez? — Questionei analisando o desenho.

Era uma paisagem incrível de Londres, com sombreado a lápis bem intenso, dava para ver o Big Ben, a cabine telefônica ao lado da torre, mais alguns detalhes das ruas, prédios e um casal passando de mãos dadas

— Sim. — Ele respondeu se encostando na cadeira novamente.

— Tem mais alguma coisa que eu não saiba sobre você? Pensei que tivéssemos trocado todas as informações sobre nós. — Falei enquanto ainda analisava o desenho.

Eu ouvi sua respiração engatar com o suspiro.

— É uma bobagem, são raras as pessoas que sabem que eu tenho isso como hobby. Bem como origami e culinária. — Ele respondeu casualmente.

— Hum, culinária? — Olhei para ele com as sobrancelhas erguidas e depois para o desenho, ainda um pouco impressionada, estava tão bem feito que fiquei com pena daquele papel amassado — Confesso que me surpreendeu, você desenha bem, faz origami, sabe como cozinhar e tocar piano. — Eu disse ainda hipnotizada.

— Devo considerar isso um ponto positivo com minha nova namorada?" — Perguntou com o tom de sempre, encarei-o e o vi arquear uma sobrancelha.

— Talvez — Sorri de lado e tentei arrumar o papel. — Nunca imaginei que fosse tão habilidosos com as mãos. — Elogiei, embora estivesse massageando o ego dele.

Sempre adorei e me senti fascinadas por desenhos, principalmente os mais conceituais e misteriosos.

— Ah, eu realmente sou muito habilidoso com as mãos.

Eu lancei meu olhar para Apolo, percebendo o que eu tinha acabado de dizer. O loiro tinha um sorriso malicioso nos lábios e um olhar fixo em mim. No mesmo instante em que senti minhas bochechas esquentarem, diria que poderia estar vermelha.

— Não foi isso que eu quis dizer — Minhas palavras saíram tropeçando — Isso soou estranho — Murmurei para mim mesmo e coloquei o desenho de volta em seu caderno.

— Muito tarde pra voltar atrás — Sua voz se mantinha provocativa — Se você quiser que trocar mais informações, eu posso te contar onde eu sou mais habilidoso com as mãos.

Mas que babaca!

Me senti um pouco atônita e incrédula no que ele tinha me dito. Pisquei várias vezes um pouco paralisada, minha boca se abriu e fechou várias vezes, cada vez mais eu sentia que meu rosto ia explodir de tanta vergonha.

— É melhor eu ir, antes que seu ego se torne maior — Eu me levantei colocando o meu caderno de volta.

Querido desconhecidoWhere stories live. Discover now