Não respiro.

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Sakura

— Hum, e então... essa raposa dá algum poder para o Papacito? — Perguntei, encarando o chão passar como um borrão assim que eu dava passo sobre passo, preferindo me manter alheia ao casal se engolindo ao meu lado.

Estou vivendo momentos apocalípticos.

A algum tempo atrás, teci comentários ruins, porém genuínos sobre uma atitude esquisita de Naruto, um homem branco, loiro, do olho azul e potencial patriota americano: usar sufixos japoneses para chamar as outras pessoas sem ter, aparentemente, qualquer descendência asiática. Confusa, pensei que seria de bom tom marcar um momentinho de calma para poder discutir o tópico com minhas amadas amigas. A nível de informação, Ino e seu péssimo gosto para fantasias ganharam a votação —ela comprou as pizzas—, e eu tive que me vestir de maçã.

Frutas. Ino decidiu que nós três deveríamos nos vestir de frutas.

Passei por momentos difíceis.

Naquela tarde de muito amor e carinho, eu transformei os sufixos japoneses do Naruto em um tópico bastante discutível, e Ino teve muito o que dizer, até. Ela o chamou de esquisito, Hinata retrucou que nós duas éramos esquisitas por estarmos atrás de uma moita no dia que Naruto nos achou, e Ino se tornou um pouco... sombria por ter se lembrado desse fato.

Ela jurou raspar a cabeça dele um dia.

Um pouco infantil, mas eu não duvido nada. Ino ainda está ressentida por Naruto ter nos pego no flagra, mesmo que ele não tenha descoberto sobre o nosso plano de espionagem, e eu bem sei como a mulher não tem escrúpulos.

Frutas? Que tema porcaria. Mostra bem como a mente dela não é boa.
 
Para todos os efeitos, sinto pelo Naruto, o moço foi bem comentado.

Hinata decidiu defender o namorado, cujo ela ama muito, finalmente nos contando a verdade sobre Naruto. Acontece que o garoto gosta de um negócio chamado “anime”, uma coisa parecida com desenhos, porém de origem asiática. Ela continuou explicando que Naruto é fã assíduo de um em específico desde a infância, chamado “Papacito”, e que nele o pessoal usa o sufixo japonês.

Daí, o menino influenciou.

Após Ino ter feito um comentário que feriu alguns direitos humanos, Hinata contou que Naruto a colocou para assistir e gostou, obrigando eu e Ino a assistirmos também porque, se ela tinha gostado do negócio, nós duas também iríamos. Com uma careta bem feia e dizendo palavras nada bonitas, eu fui obrigada a assinar um serviço de televisão só para assistir essa porcaria.

Até que eu acabei me surpreendendo.

O mano tem uma raposa de nove caudas presa dentro da barriga. Foi impactante saber disso. Me deu outra perspectiva sobre o tal Papacito, o mano que tem uma raposa dentro de si. Guerreiro, humilde. Assistindo o primeiro episódio, eu descobri que é por causa disso que ele é isolado pelo pessoal da vila que ele mora, o que Ino achou um absurdo e, após chorar um pouco, desafiou todos os personagens fictícios a fazerem o mesmo com ela, só para ver o que ela faria. Tive que me abster de tecer meus rotineiros comentários pois, se eu os contasse, apanharia das duas.

Tipo assim... é uma raposa de nove caudas, não é? Se eu já fico com medo de uma raposa com uma cauda só, imagina uma que tem nove? Não me desce, e entendo que também não tenha descido para os habitantes da vila. Papacito, menino levado. Se ele tem uma raposa dentro da barriga, coisa boa não estava fazendo.

Outrossim, dei um ponto para o Naruto e admiti que é sim gostosinho assistir o anime. O susto foi grande quando uma mocinha muito simpática de cabelos rosas e olhos verdes apareceu, me identifiquei com ela, uma moça forte e a primeira a conseguir subir na árvore usando a própria energia quando o professor mascarado pediu. Superação!

O inferno é RosaWhere stories live. Discover now