Nota 06: Burocrata

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O carcereiro entrou na cela com uma calma sinistra, acompanhado de seus dois seguranças sempre presentes. O olhar de Yuri estava fixo nele, repleto de apreensão. Ele pressentia que algo terrível estava prestes a acontecer, embora não compreendesse completamente.

O carcereiro lançou um olhar a Yuri, fechando o punho e erguendo um dedo, impondo silêncio com um gesto.

Os detentos trinta e quatro e oitenta e cinco se encontravam encolhidos em suas camas, virados na direção oposta ao carcereiro, ambos tremendo de medo.

O prisioneiro oitenta e cinco, aparentemente com menos de vinte e cinco anos, possuía uma aparência que não condizia com a prisão. Magro e com uma altura de um metro e setenta e cinco.

Já o prisioneiro trinta e quatro contrastava com o oitenta e cinco. Com sobrepeso e medindo um metro e sessenta e sete, ele era o mais baixo entre os detentos da cela. No entanto, marcas de tatuagens adornavam seu corpo, incluindo seu rosto.

Certificando-se de que quase todos estavam adormecidos, exceto Yuri, o carcereiro deu um sinal para que seus guardas disparassem tiros no chão, desencadeando um estrondo ensurdecedor que rompeu o silêncio noturno.

Os detentos saltaram de susto. Não somente os da cela de Yuri, mas toda a prisão foi abalada pelo som. Era um alerta que indicava que alguém havia desafiado o toque de recolher de Catanduvas, uma regra sagrada.

Inundado de raiva, o carcereiro rugiu:

TODOS CONTRA A PAREDE, AGORA!

Os detentos se levantaram com pressa, mãos atrás da cabeça, encarando a parede, prontos para enfrentar os dois guardas e o carcereiro.

Nesse momento, o prisioneiro cinquenta e sete e o oitenta e cinco ferveram de fúria, ansiando por uma revolta, mas a noção do poder esmagador dos três os manteve à rédea curta. Acima de tudo, a perspectiva de uma morte prematura os acalmou. Eles obedeceram, apesar da raiva.

O carcereiro brandiu um chicote, desferindo golpes vigorosos nas costas dos detentos, dando a todos eles marcas duradouras de dor e humilhação.

Os golpes eram tão brutais que até a tinta dos números de suas camisas se desgastou, deixando marcas permanentes.

Os gritos ecoaram por todo o presídio, um som amargo que já se tornara uma triste rotina na vida dos detentos.

O carcereiro focalizou o número nas costas de Yuri, e assim ordenou que ele ficasse imóvel para ser algemado e arrancado da cela.

Os outros detentos estavam perplexos, sem entender o motivo, mas Yuri tinha uma intuição do porquê estava sendo retirado.

Ao ser puxado da cela, todos os olhares curiosos dos detentos foram percebidos por um dos guardas. Sua voz se ergueu com firmeza:

NENHUM DE VOCÊS DEVE OLHAR PARA TRÁS! FIQUEM IMÓVEIS, OU HAVERÁ CONSEQUÊNCIAS!

Obedecendo à ordem, os detentos continuaram fixos na parede, ainda sentindo a dor aguda das feridas deixadas pelo carcereiro.

Enquanto a cena se desenrolava, Yuri foi arrastado para uma sala que contrastava fortemente com as outras no presídio. Um espaço branco, isolado, onde o som parecia ser absorvido. Ele foi jogado ali, algemado, sem perceber a presença de um homem de terno caro.

Yuri lutou para se erguer, suas algemas dificultando seu equilíbrio. Ao ficar de pé, deparou-se com um homem que parecia ser um Burocrata, ostentando um sorriso arrogante.

O silêncio dominou a sala. Yuri esperou, antecipando as palavras daquele homem.

Finalmente, ele quebrou o silêncio, olhando nos olhos de Yuri:

ARAJA - O Que Há Abaixo De Nós? (LIVRO 02 - Concluído)Where stories live. Discover now