1. Dear Edward

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Você me ensinou a coragem das estrelas antes de partir
Como a luz continua infinitamente, mesmo após a morte
Com falta de fôlego, você explicou o infinito

- Saturn, Sleeping At Last

A vida é um constante ensinamento de que nem todos os laços podem resistir ao tempo e à dor.

Aquele que aprecia a dor, está propenso a aceitá-la pelo resto da vida. Seja em troca de um sorriso ou em troca de um amor vazio.

O maior receio de laços rompidos são as mudanças. Elas transformam, deslocam mais dolorosamente que um braço quebrado, mais dolorosamente que a morte. Aliás, algumas mudanças trazem consigo a morte de almas sensíveis e machucadas.

O ferimento emocional o adoece. Não como uma morte rápida e previsível, mas como um pequeno machucado que se tornou uma catástrofe. Você só percebe quando é tarde para o fechar, só entende a gravidade quando está sozinho e ferido, assemelhando-se a um cervo machucado que fora caçado e atacado.

Maldito amor, ele enferma até mesmo as almas mais saudáveis.

Louis sentia-se assim. Estava destruído, destinado a adoecer de forma dolorosa e lenta. Ao menos conseguia chorar, não quando suas lágrimas pareciam não existir, tampouco sua cabeça parecia raciocinar. Repetia os movimentos como um robô, levando as mãos trêmulas até as roupas, dobrando-as, guardando na caixa e fechando com o resto de fita transparente que encontrou em seu antigo escritório.

Era como a cena de quando comprou sua casa anos atrás. A grande diferença era o brilho de felicidade que antes irradiava. Agora, não havia nada mais que dor, mágoa e um nó em sua garganta, implorando para o momento de gritar seus padecimentos.

O closet estava ficando cada vez mais vazio. Já estaria, se não fossem as roupas coloridas, os sapatos extravagantes e as antigas bombinhas de retirar leite, acumuladas em uma caixa rosa na gaveta entreaberta.

A parte de Harry continha a história de sua vida, a história da vida de Hazel e Owen, mas nunca a história de Louis. Ele havia sido esquecido, apagado como um resto de giz em uma lousa velha, guardado no fundo do closet com as roupas que seriam levadas para a doação na próxima semana.

Sua família fora um devaneio, uma mentira contada nos contos de fadas. Ele era o lobo, Harry era a chapeuzinho vermelho que terminaria a vida com seu primeiro salvador.

Mas, afinal, quem salvaria Louis?

- É engraçado que a única vez que eu o vejo em casa, você já está saindo dela. - Era a voz de Harry. Suave, rouca, irônica.

Tomlinson sabia que ele deveria estar o queimando com os olhos, um sorriso debochado em seu rosto, a covinha funda em sua bochecha e sua cabeça procurando uma resposta para a saída do ex-marido.

- Não terá de se preocupar com a minha presença da próxima vez que trouxer seu namorado aqui. - Louis soou grosso. O barulho da fita embrulhando a caixa de papelão serviu para amenizar os pensamentos que o atormentavam.

- Ele me deixou na porta, Louis. Vai mesmo fazer drama com isso? - A presença dele estava mais próxima, Louis podia sentir e ouvir seus passos no piso de porcelanato recém posto.

- Perdão pelo meu drama, Edward. Você também não vai precisar lidar com ele. - Riu, virando-se para olhá-lo nos olhos.

Harry parecia irreconhecível. Eles não se viam há algumas semanas, desde que Brad, o novo namorado do cacheado, havia o deixado na porta de casa. Louis estava com as crianças na sala, apesar de desfrutar sozinho do desenho que passava na televisão, enquanto Hazel e Owen dormiam em seu colo.

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