capítulo cinco: as cinco paredes

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O estômago de Beatrice roncou

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O estômago de Beatrice roncou. Já passava das nove da manhã e a maioria dos refugiados já haviam tomado seu café.

Ela sabia que estava errada em sair andando pelo ginásio, e que deveria esperar por sua família. Mas não conseguiu se conter. Enfiava seu corpo minúsculo entre os adultos, procurando pela distribuição de comida, sentindo a culpa invadir a cada passo dado. Naquele ponto, não poderia mais voltar atrás. A fome a deixou determinada.

Quando avistou o ponto conhecido – caixas grandes em cima de mesas provisórias colocadas lado a lado, ela sorriu para si mesma.

Ao se aproximar da mesa, uma mulher alta com traços asiáticos retirou uma das caixas e se preparou para tirar as outras. Ela usava uma roupa diferente dos refugiados e isso significava que ela era alguém que estava ali para ajudá-los. A mulher utilizava luva nas duas mãos, óculos de proteção, macacão branco e protetores faciais. Por causa do volume da roupa, Beatrice achava que ela se parecia com um astronauta. A desconhecida também usava uma máscara igual a todos do refúgio.

Ela notou Beatrice parada na sua frente, com a postura ereta e as mãos fechadas, se esforçando ao máximo para parecer corajosa.

– Você precisa de algo? – a mulher perguntou, uma voz doce que acalmou os nervos de Beatrice. A menina não respondeu, apenas olhou para a caixa. – O cereal já acabou. Você ainda está com fome? O almoço não vai demorar.

Beatrice continuou em silêncio, a decepção deformando o seu rosto.

– Cadê seus pais? – a adulta franziu o cenho, parecendo um pouco mais preocupada. – Volte para eles. Eles te explicarão melhor o horário das refeições no refúgio, ok?

A criança assentiu e se virou para a multidão na sua frente. Uma emoção de medo passou por ela. Não se sentia confiante para voltar ao mesmo lugar que estava. Havia tantos colchonetes iguais. Pessoas andando para lá e para cá, trazendo uma movimentação apressada e de desequilíbrio à ela.

Uma mão de uma criança um pouco mais alta do que ela, a assustou quando tocou em seu ombro. Por um segundo, ela achou que fosse seu irmão mais velho. Porém, o menino de cachinhos castanhos e pele bronzeada não parecia nada com a figura familiar. Ele se aproximou da garota e cortou um pedaço do seu pão, enrolado na embalagem do café da manhã.

– Pode pegar – ele disse, esticando o braço em direção à Beatrice. – Eu nunca te vi antes por aqui. Você chegou recentemente?

Ela hesitou, porém pegou o pedaço de comida. O pedaço de pão era pequeno o suficiente para que ela o comesse em apenas uma mordida, levantando a máscara rapidamente após enfiá-lo na sua boca.

– Sim.

– Qual o seu nome? – a ousadia do garoto a surpreendeu. Por um momento, ela desejou ser corajosa que nem ele. Assim, poderia enfrentar seus avós e seu irmão mais velho. E eles nunca mais esconderiam nada.

PREDADORESWhere stories live. Discover now