capítulo um: o teste

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O sol brilhante traçava sombras nítidas no asfalto cinzento

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O sol brilhante traçava sombras nítidas no asfalto cinzento. O céu estava limpo e ao encará-lo por tempo suficiente, a sensação de uma vida normal acalmaria os sentidos de Nate. Seu coração tocava uma batida medrosa em seus ouvidos. A inquietação o fez se sentir como um covarde, mas naquele ponto não havia mais volta.

A linha de metrô estava lotada de jovens ansiosos. Ele podia ouvir vozes fervilhando atrás de sua cabeça. A maioria passava pelo mesmo trajeto para conseguir entrar na Capital. Sair do vagão sem ser empurrado era impossível, mesmo que os guardas tentassem colocar ordem e disciplina, ninguém era capaz de impedir adolescentes agitados de respirarem o ar da Capital.

O lugar parecia diferente. As ruas estavam vazias, quietas e limpas. As poucas pessoas que viram, se vestiam como se a vida de escritório no centro de uma metrópole nunca tivesse ido embora – o tempo havia parado para eles. Murmúrios de desdém contra a elite de Elostralia fez com que Nate concordasse silenciosamente.

O trajeto era simples: pegar o metrô da linha da Capital, passar pelos guardas com a identificação de cidadania de Elostralia e a convocação em carta que haviam recebido semanas antes. Era tudo minucioso, homens armados resguardavam e os vigiavam, verificando quaisquer desordem ou falsificação. Quando acabou, os jovens foram levados para dentro de uma instalação onde foi retiradas suas digitais e feito uma coleta de sangue de cada um. Esperar por sua vez em cada situação deixava Nate afobado. Em sua mente os testes haviam começado desde que eles saíram do metrô. Talvez fosse apenas a sua paranóia, mas não podia deixar de notar os olhares congelantes dos homens de terno e os soldados à sua volta.

Pareceu uma eternidade quando todos os adolescentes finalmente haviam sido liberados para o fim dos testes médicos. Silenciosamente, eles foram reunidos para uma ala desconhecida.

As paredes brancas e o chão cinza, com pisos recém colocados davam ao local um aspecto de novo. Não havia sujeira, além dos próprios jovens que traziam em seus corpos as cinzas da Cidade Pacífica e Rural. O teto era branco e pelo menos dois ar condicionados haviam sido colocados em cada parede. Era um bloco retangular sem muita novidade, parecido com uma ala hospitalar. Em cima do palco improvisado, um homem parecia observar cada um dos jovens com curiosidade e cuidado. Até para os adolescentes intimidados era estranho, mesmo sendo muitos, a sensação era de que qualquer postura feita de maneira errada, o homem notaria. No seu uniforme preto, um bordado escrito Comandante Hartford podia ser lido por quem estava na primeira fileira.

Havia pelo menos 150 adolescentes. Nate olhou ao seu redor. Um silêncio absoluto tomava conta da sala. Conseguia ouvir as respirações irregulares enquanto o nervosismo aumentava à medida que ninguém falava nada. O medo parecia ser mais mortal do que a curiosidade, tanto que apenas os olhos se mexiam para as extremidades da visão periférica e nunca a cabeça. Até mesmo virar o pescoço pareceria errado e rebelde.

Na terceira fileira e no seu limitado campo de visão ele avistou uma figura conhecida. Adam Brandt. Não foi difícil reconhecê-lo com seu cabelo raspado e sua pele bronzeada, mas ele parecia diferente da pessoa que conheceu. Estava enrijecido, com a postura perfeitamente demonstrando seu profissionalismo. A maioria dos adolescentes daquela sala tinham um ar sério e adulto. Elostralia os obrigava a envelhecer mais cedo. Era se adaptar ou morrer. Se tornar um soldado, sobreviver e conseguir tirar a família da miséria. Mesmo sem treinamento, eles pareciam estar preparados para qualquer teste que viesse a seguir.

PREDADORESWhere stories live. Discover now