Ronronados de um garoto manhoso

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Tinha sido tudo muito ruim. O mundo muitas das vezes é preso constantemente em situações muito ruins: fome, violência, descaso ambiental, sabe coisas ruins que vemos todos os dias nas notícias televisivas. E pensar que recentemente vivemos uma pandemia mundial... Bem, podemos aproveitar e usar isso que passamos como uma lente. 

Um germinho, uma coisinha que primeiramente não vemos, não sentimos, não sabemos que está ali, e então ele infecta uma pessoa, duas, três, um grupo, uma cidade, uma população, um país, um continente, todo o fodendo globo. E o que nós, meros indivíduos, fazemos? Sentamos e esperamos os competentes falarem que descobriram um jeito de frear essa coisa.

Mas voltemos por um momento a minha realidade. Acham que docentes conseguem ter empatia por estudantes que estão sendo impactados pela vida real? Eu respondo: não, e principalmente depois que todas essas pessoas tiveram a experiência de passar por uma pandemia e agora tem todo o conhecimento necessário sobre ead e ensino a distância. E foi ainda melhor para o lado deles toda essa pataquada sobre germe desconhecido: o fodendo vírus não dava sequer uma sequela, ou seja, nem um sintoma, nem uma doença, nem nenhum tipo de característica física. Bem, até a galera lá descobrir sobre a coisa toda da reparação genealógica, ou sei lá, a coisa era ruim, era isso que eu entendia toda vez que algum espertalhão tentava me explicar sobre o germe fazendo um baile funk no nosso Dna. Era bem, bem ruim. Mas acha que eu, mero nerdola universitário proletário, me importava tanto assim com um germe aparentemente inofensivo?

Já que ninguém se presta, eu respondo novamente: não, né. O coiso nem matava, nem nada, parecia mais eu na vida. Então eu vivia de lá pra cá com isso volta e meia surgindo ao meu redor: "ah você sabe? tem umas pessoas sendo isoladas em um tal lugar", "acho que peguei e isso curou minha depressão"... Sabe, grupo de jovens e suas formas de comunicação. Basicamente, eu vivia minha vidinha pacata bem normal, todo dia eu acordava e lembrava tristemente não desse problema sanitário mundial mas sim de um trabalho da universidade que eu estou procrastinando.

Até que BUM! Choque! Tumulto! Meu deus, só pode ser fake news! Não, não é! Socorro! A vizinha da minha mãe tem uma cauda de RATO! Brincadeira! (risada)

Pois é, até que começaram a verdadeiramente surgirem à minha volta, então só notícia sensacionalista ou talvez mentira, todas as espécies encarnadas de contos furry. Foi engraçado ver uma colega aparecer um dia qualquer na sala com dois chifres plantados bem reais na cabeça. Tivemos, Jungkook meu companheiro de apartamento e eu, boas gargalhadas ao ver uma professora, que era gordinha e baixinha mas pomposa e agitada, latindo irritada no meio de uma discussão com um coordenador. Tudo risadas e diversão até cair a ficha: e quando for comigo? Senhor Jesus Cristinho. Mãe amada. E quando for COMIGO? E se aparecerem antenas de um MOSQUITO? E uma cauda de PORCO? Nada contra para quem tivesse essas características, é claro, mas fala sério galera quem quer ter uma cauda de lagartixa? Por favor, Deus, um pouco de sorte. Um pouquinho de sorte, só.

Um dia qualquer achei que tinha chegado a minha hora, mas quando acordei horrorizado na minha cama me choquei que tudo não tinha passado de um sonho aterrorizantemente realista, e bem na vez que tinha finalmente conseguido dormir meu sono mais confortável que tinha tido em meses. O sonho se resumiu em, basicamente, eu, mero indivíduo, andando por cantos desconhecidos do campus e quando aconteceu de eu perceber meu reflexo passar na frente de uma superfície espelhada, vi, incrédulo e assustado, dois chifres de bode, com ainda direito a as pontas estarem enroladinhas, bem no topo da minha cabeça, no meio dos meus fios muito bem hidratados. Depois me movi praticamente extasiado e vi mais de perto um outro detalhe arrepiante; as minhas próprias pupilas exatas como a de um bode. Aquilo me assustou tanto que acordei me sentando na cama, como se tivesse acabado de levar um tapa estralado. Pude sentir meu coração a mil dentro do meu peito.

O Cheiro do Amor - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora