A trade with the Demon King

The Trade

A garota, coberta pelo seu capuz negro, era quase invisível no meio da multidão que circulava pelo movimentado distrito comercial de Ilyra, a capital do país do fogo. A noite era seu véu, e ela aproveitava as horas noturnas para exercer o ofício que sabia fazer de melhor: roubar.

Naquela noite, estava tendo um festival na cidade. Todos estavam aproveitando as barracas de comida, bebida, artesanato, roupas e bugigangas que ficaram abertas até mais tarde, a fim de conseguir mais moedas de ouro no fim do mês. Era o ambiente perfeito para uma ladra experiente como ela.

De modo sorrateiro, fingiu trombar com um guarda que já estava bêbado o suficiente para não notar suas moedas sumindo de seu bolso. Sorriu, já havia conseguido bastante dinheiro naquela noite. Estava sendo fácil demais.

De repente, ela viu uma presa grande: a esposa do governador de Ilyra. A mulher de cabelos loiros e olhos castanhos andava com joias extravagantes ornamentando seu colo, orelhas e pulsos. Quase nunca era vista em meio ao povo, e quando era, estava sempre dentro de uma carruagem. Não podia deixar essa oportunidade passar.

A ladra escondeu-se na penumbra de uma árvore, observando a mulher que ia em direção à rua principal, cercada por dois cavaleiros da Igreja ao seu lado. Eram os malditos templários, um grupo de elite treinado pela Igreja para combater os demônios que apareciam pelas redondezas de Ilyra e em outros locais. Por que diabos eles estavam sendo usados como guardas pessoais? Não sabia dizer, a única coisa que sabia era que eles tinham a reputação de serem extremamente fortes.

A adrenalina começou a circular no corpo da garota. Se ela conseguisse roubar ao menos uma joia da mulher e vender no mercado negro, não precisaria mais trabalhar pelo resto da vida. O único problema eram os dois templários, teria que dar um jeito de enganá-los ou sua tentativa poderia acabar em um desastre.

Uma ideia surgiu em sua mente. Iria causar uma pequena comoção e, quando eles estivessem distraídos, pegaria um dos braceletes da mulher num piscar de olhos. Ela avistou um grupo cambaleante de três homens com canecas de cerveja na mão caminhando atrás da esposa do governador e pensou que essa seria a chance perfeita. A ladra aproximou-se de um deles e sussurrou palavras mágicas em seu ouvido. O click da magia bem-sucedida ecoou em sua mente, deixando-a satisfeita. Não era com todos que seu encantamento dava certo, mas aquele já estava vulnerável o suficiente para que conseguisse fazer o que quer que ela mandasse.

Era raro humanos comuns como ela conseguirem usar magia. Os únicos que tinham esse dom eram os demônios e o povo das fadas. Ela não sabia o porquê, mas desde pequena conseguia encantar pessoas e quebrar travas apenas com um toque. Não existia nada que não conseguisse destrancar ou cadeado que não conseguisse abrir, e isso valia para colares e pulseiras e tudo que pudesse ser aberto. No entanto, por ser humana, sua magia era fraca e limitada. Podia usar poucas vezes durante o dia e sentia-se cansada toda vez que a utilizava, fazendo com que ela só a gastasse para coisas que realmente valiam a pena. Mesmo assim, aproveitou-se de seu dom para ganhar a vida como uma ladra de sucesso.

O homem não respondeu, apenas concordou com a cabeça e seguiu em frente. A garota se esquivou para trás, deixando-o ser acompanhado pelos outros dois. O bêbado tomou o resto do que tinha em sua caneca e a jogou bem nas costas de um dos cavaleiros, chamando sua atenção. Os outros riram da cena. Os templários ameaçaram os bêbados com suas espadas longas, e a ladra aproveitou a distração deles e da mulher para passar por trás dela. Foi preciso apenas um toque no bracelete de jade para que ele se abrisse e caísse em sua mão. Rápida e silenciosa.

Ela escondeu o bracelete entre os seios e correu para uma viela, sentindo o cansaço da magia pesar sobre seus músculos. Pegou atalhos e percorreu caminhos diferentes exatamente como fazia todas as noites. Voltou para casa sorrindo, pensando nas mil coisas que poderia fazer com as moedas que ganharia ao vender a peça. Talvez pudesse, finalmente, largar essa vida de uma vez por todas. Foi um grande sucesso!