Certamente só pessoas ricas e com pais paparicando podem fazer o que bem entendem.

Depois, carregamos as nossas bandejas até uma mesa vazia e ficamos por lá. Eu coloquei apenas batatas fritas que tinha disponível e suco de caju. Nós três havíamos começado a andar juntos nos últimos tempos — não grudados o tempo todo — e nos acostumamos assim.

— Vocês ainda estão treinando futebol? — Lucca perguntou.

— Na verdade, estamos jogando queimado — Respondi.

— Até que é legal, eu sempre posso descontar a raiva em alguma mocreia daqui — Jade sorriu.

— O ruim é levar uma bolada na cara — Gargalhei ao mesmo tempo que recordava da bolada que Jade levou.

— Eu fiquei tão vermelha que parecia que minha cabeça ia explodir, quase chorei — A de olhos claros sorriu.

Minha atenção foi tirada da conversa quando o meu celular vibrou no cós da minha saia. Eu quase saltei da cadeira de susto. Peguei o celular nas minhas mãos ainda abaixo da mesa e vi pela barra de notificações uma mensagem de Theo.

Theo
Devia sorrir mais vezes.

Franzi a testa, meu olhar varreu quase todo o refeitório e meu coração palpitou quando meus olhos bateram em uma mesa mais a frente da nossa. Theo estava lá, com os seus olhos esverdeados grudados em mim, a sua boca se esticou em um discreto e malicioso sorriso e em seguida, passou a língua por ela. Podia sentir minhas bochechas esquentarem e meu olhar logo se desviou para a tela do celular, disfarçando a vergonha de estar o criando fantasias.

Maldito. O que ele quer com isso?

Anelise
Tá me vigiando?

Theo
Quase. Só não pude deixar de notar a sua risada.

Hum, por que isso soou atraente?

Anelise
Te responderia igual a Flora: Não o culpo, sou irresistível.

— Anny? — A voz grossa soou abafada e longe agora.

— Anelise! — Jade quase gritou ao pé do meu ouvido, isso me fez saltar de susto.

— Garota? — Jade franziu a testa.

— Garota? — Lucca fingiu estar indignado pela minha falta de atenção na conversa.

— Desculpa, me distrai. Do que falavam? — Balancei a perna freneticamente e inutilmente evitava olhares para mesa de Theo, que estava ainda acompanhado da loira que lhe cercava como um urubu na carniça.

— Que você e a Lavínia estão demonstrando muita rivalidade, que daqui a pouco todo mundo vai tonar e...

Meu celular vibrou mais uma vez e automaticamente dei uma olhada na mensagem.

Theo
Mt convincente.

Eu coloquei meus olhos sobre ele novamente, que fez o mesmo. Ao lado dele, Lavínia falava alguma coisa para o grupo na mesa — ela chamava toda a atenção— e todos riam do que ela contava, menos Theo, que parecia concentrado no lado da nossa mesa, ele varreu seu olhar por Jade e Lucca, mas logo se voltou para mim. Mantinha sempre aquela uma postura duvidosa, nunca adivinhava qual seria o eu próximo passo, o que ele queria, o que ele pensava. E a sua postura só me instigava mais.

Por que ele simplesmente não atravessa esse refeitório me puxa pelo braço, me leva pra algum lugar reservado e me beija até eu perder o fôlego?

Mas para meu desânimo, o moreno deu retorno de atenção para seu grupo e consequentemente, para Lavínia. Ele passou os braços por seus ombros e sorriu, exibindo seus dentes brancos e alinhados. A loira ao seu lado estava mais maquiada do que o normal, o que destacou seus olhos azuis.

Talvez Flora estava certa, eu deveria incomodá-lo, provocá-lo.

— Olha só para ela, continua com essa cara de mosca morta — Lucca estalou os dedos próximo aos meus olhos e eu pisquei.

— Claro, ela e você-sabe-quem estavam quase se comendo com os olhos — Jade olhou para mesa onde Theo estava.

Um pouco melhor que isso.

Enterrei o celular discretamente no cós da saia.

— Não.. — Lucca deu uma pausa dramática — Na nossa presença? Com tanto descaramento? — Ele colocou a mão no peito.

Eu fiz uma expressão de tédio para ele e suspirei.

— Como estão as coisas por aí? — Minha mãe perguntou enquanto me encarava do outro lado da tela

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— Como estão as coisas por aí? — Minha mãe perguntou enquanto me encarava do outro lado da tela.

Ela estava com uma aparência abatida, havia algumas orelheiras abaixo de seus olhos, sua boca um pouco ressecada e parecia estar em uma luta contra o sono. Seus cabelos estavam amarrados em um coque e ela estava mais bronzeada. Ela havia me falado que procurava por um emprego, o sol deve ter a castigado muito.

— Bem e por aí? — Me encostei na cadeira do meu quarto.

— Bem, tua avó melhorou mais da febre, ainda tá gripada, mas bem melhor. — Ela me lançou um sorriso reconfortante.

— Posso ver ela? Ou ela ainda tá dormindo?

— Tá dormindo. Esses remédios dão muito sono. — Ela bocejou.

— A senhora parece muito abatida, tenta descansar um pouco.

— Já descansei, tô ótima.

— Mãe, é sério. Da pra ver que a senhora não dorme direito faz um bom tempo. E eu sei que a senhora tá procurando por um emprego de novo, mas noites mal dormidas prejudicam muito a saúde. — Meu tom era sério, segurei o celular com mais força.

— Anelise, fica tranquila. É só por uns dias. — A câmera oscilava um pouco por conta da qualidade do celular — Tu tá indo bem na escola? Como estão as notas?

— Estão ótimas, depois mando as fotos das notas de algumas avaliações e trabalhos.

— Tá se envolvendo com algum menino?

Eu fiz careta.

— Não. Ainda não.

— Não vou te proibir de nada, contanto que isso não atrapalhe seus estudos e que te trate bem.

Querido desconhecidoWhere stories live. Discover now