Eu apenas coloquei uma blusa de gola alta e manga longa que tinha algumas listras, acompanhada de uma saia preta que ia no meio da coxa, meia calça minimalista da mesma cor e um par de all star pra finalizar. Deixei meus longos cachos soltos e apenas fiz uma maquiagem básica, com lápis de olho, blush e um gloss nos lábios. Só usei de acessório um colar de coração que minha mãe havia me dado quando criança.

Flora chamou Camila para ir com a gente, uma de nossas vizinhas, entretanto, estudava em uma escola diferente da nossa.

Andamos em direção às lojas do shopping — Flora nos puxava como se estivesse vendo diamantes — quase não consegui acompanhar seus passos e ela ainda estava de saltos. Seus olhos brilhavam com alguns vestidos que tinha fenda e, em euforia, ela pegava quase todas as peças de roupas que admirava. O lugar não estava muito movimentado como nas outras vezes, entretanto, ainda tinha bastante pessoas.

— Você vai experimentar tudo isso? — Eu perguntei arregalando os olhos.

— Não. — Ela disse pensativa e minha expressão aliviou. — Acho que ainda está faltando mais. — Ela se encaminhou em direção às calças.

Suspirei e olhei para Camila, já pensando que foi uma má ideia ter vindo, imaginava que iríamos passar muitas horas. Mesmo que eu gostasse de ir às compras, me dava preguiça quando a acompanhante era Flora, uma vez que ficamos mais de 5 horas dentro do shopping e ela me deixou perdida, quase chorei naquele dia.

Ela estava fazendo amizade com as atendentes.

Fui até a ala de roupas esportivas e vi algumas camisas de times. Corri meus dedos suavemente sobre a camisa do Flamengo enquanto meus olhos brilhavam. Fazia tempo que eu estava louca para comprar uma camisa, a única que eu tinha estava com furos e esbranquiçada de tão velha.

— Flora nunca se cansa de roupas né. — Camila comentou.

— Nunca, tu precisa ver o closet dela.

— Eu imagino, repleto de sapatos e roupas, todos organizado por cores e tamanhos. — Ela sorriu.

— Exatamente.

Após algum tempo com Flora, que não se cansava de andar em quase todas as lojas, fomos direto para a praça de alimentação. Eu já estava faminta, não aguentava mais passar horas vendo a minha prima mudar de roupa a cada cinco segundos. Era certamente uma prova de resistência.

— Vem, tem uma mesa livre. — Ela disse indo na frente e eu a acompanhei.

Antes de me sentar na cadeira vazia meus olhos se depararam com um grupo de amigos alguns metros longe da nossa mesa que falavam e gargalhavam alto. Aposto que dava para ouvir a quilômetros de distância. Entretanto, não foram os risos escandalosos que haviam me chamado a atenção, mas sim, um par de olhos esmeraldas e sorriso charmoso nos lábios.

Minhas pernas deram uma pequena vacilada, Flora e Camila pareceram notar minha inquietude.

Ele estava tão lindo.

As mangas da jaqueta estavam erguidas por cima dos cotovelos, o que exibiu seus belos antebraços que continha veias que pareciam ter sido desenhadas e consequentemente, deixava notório também a tatuagem de um lobo no seu antebraço direito. A cor marrom clara da jaqueta combinava com ele, os seus ombros aparentavam estar mais largos com ela.

Céus! Como eu queria aqueles braços fortes em volta de mim e...

A sensação estranha só sumiu, quando notei a figura loira e extrovertida ao seu lado.

— Acho que a sorte não está muito do seu lado.

Minha prima me encarou na tentativa de estudar meus sentimentos. Eu apenas me virei para olhá-la de volta e suspirei em concordância.

— Eu já imaginava.

— Você ainda tá gostando desse cara? — Camila questionou.

— Infelizmente — Eu respondi.

— Não acho que Lavínia esteja apaixonada por ele. — Ela tentava me confortar.

— Mas acho que ela tem um certo interesse.

— Ela tem cara de quem já transou com ele — Camila deu uma olhada.

— Ela tem cara de quem já transou com metade da escola — Flora devolveu.

— Espera aí. As pessoas tem cara disso? — Arregalei os olhos.

Camila e Flora se entreolharam, uma gargalhada então saíram dos lábios delas.

— É como eu disse, você tem que pensar em estratégias para poder ter o cara que você quer, assim como eu faço. — Ela colocou seus cabelos enormes para trás se gabando.

— E funcionou com o Luís? — Eu arqueei a sobrancelha e sua expressão mudou em um certo desconforto.

— Bom, até agora, as coisas estão indo no caminho certo. Ele não vai querer perder alguém como eu para outro cara. — Ela olhou para suas unhas decoradas de rosa e branco.

Voltei meu olhar para a mesa deles e me deparei em espanto, com os olhos de Theo sobre mim. Sua expressão estava neutra, eu poderia jurar que vi uma pequena carranca em formação na sua testa. Eu sentia que seu olhar poderia penetrar minha pele por alguns segundos. Eu não consegui conter que meu coração disparasse e um frio na barriga se instalasse de maneira arrebatadora.

Lavínia enrolou o dedo indicador em um dos cachos dele e falou alguma coisa próximo ao seu ouvido. Virei meu rosto na direção de Flora respirando fundo, que me olhou sem saber o que dizer.

Ficamos algum tempo na praça de alimentação, comemos hambúrguer e refrigerante, pois Flora estava tentando evitar esses tipos de lanches. Não tivemos contato com o grupinho mais adiante, eles saíram em bando logo depois, mas eu senti os olhos de alguém queimando sobre mim.

Querido desconhecidoWhere stories live. Discover now