29. Quando as luzes (nos) apagam

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Quando retornei, Styles aguardava do lado de fora do carro que já havia sido abastecido com as mãos para cima, rodeando seu celular em sua palma. Ele suspirou trocou a posição de suas mãos, uma rajada de respiração branca deixou seus lábios levemente rachados pelo frio.

- Estou sem sinal. - Ele disse como um lamentar, virando-se para mim. Óculos escuros escondiam seus olhos, um cachecol verde musgo xadrez protegia sua pele pálida do frio. Ele bateu as botas cor caramelo no chão, andando para abrir a porta traseira do carro, pegando Amélia de meu colo e a colocando em sua cadeirinha sem que eu precisasse pedir. - Tentei procurar no gps qual foi o erro no caminho que fizemos, mas não consegui. Sendo sincero, nem sei se já saímos de Manchester. Já saímos? Seguimos em frente? Tem algum atalho?

Dei risada, abrindo uma garrafa de água e despejando para Cometa beber um pouco antes que pudéssemos partir novamente.

- Você consegue recitar todas as obras de Jane Austen, conhece todos os mitos da Roma antiga e é capaz de cantar La Vie em Rose inteira em francês mas não tem nenhuma noção geográfica. Mesmo? - Brinquei fingindo-me de incrédulo, mas Harry apenas deu um sorriso amarelo, parecendo muito envergonhado para responder.

- Não fica assim, Harry. Eu tirei nota baixa em Geografia nas últimas provas. - Amélia disse no banco de trás do carro, dando um joinha para o professor. - Mas você consegue melhorar se estudar! Podemos estudar juntos, tá bom? Não fique com vergonha de ser ruim.

Harry assentiu com um sorriso, olhando-a pelo retrovisor. - Obrigado pela ajuda, Amy.

- Bom, respondendo sua pergunta, - Comentei, ligando o carro e entrando novamente na estrada, erguendo a mão esquerda e abrindo o painel, alcançando um amontoado de papel e jogando no colo do literário sem cerimônia. - já saímos de Manchester algumas milhas atrás, e devemos estar nas redondezas de Hadfield, mas provavelmente pegamos outro caminho mais afastado, então temos que voltar para a rota principal. Você vai olhar esse mapa e indicar o caminho para mim, tudo bem?

- Em que século nós estamos? - Harry disse, virando o mapa em todos os sentidos possíveis. - Eu nunca fiz uma viagem me guiando apenas por um mapa. O que eu virei, um explorador procurando um reino distante?

- Bom, para tudo existe uma primeira vez, não é? - Pisquei e indiquei um ponto do mapa com o indicador, sem tirar os olhos da estrada. - Estamos aqui, professor. Trace a melhor rota para nosso destino. Confio em você.

Harry suspirou uma vez antes de trocar seus óculos escuros para os de grau e alcançar uma caneta, franzindo as sobrancelhas e sussurrar contra o mapa:

- Não deve ser tão difícil assim.

...

Cerca de três horas depois, havíamos chegado em Doncaster com sucesso, graças aos céus.

Harry se encarregou de carregar as malas da viagem enquanto eu acordava Amélia que acabou caindo no sono logo após comer seu sanduíche natural no meio do caminho, cansada demais para testemunhar Styles confundindo a direita e a esquerda e, possivelmente, dar risada. Cometa pulou rapidamente do carro, sonolento também e seguiu calmamente enquanto andávamos para a fachada da casa, bocejando e cheirando o local como um bom curioso. Babando também, claro.

Ah, e mijando nas flores do vizinho discretamente. Não poderia esquecer.

Ignorando a poça de urina, era no mínimo singular retornar para onde havia passado a infância e parte da adolescência naquela época do ano. Reparar no telhado antigo da casa, nas lascas da porta de entrada, e no barulho característico dos três degraus onde nossos pés pisavam faziam meu estômago tremular de nostalgia. Havia algum tipo de magia por entre aquelas paredes que atravessavam até o chão e criavam uma atmosfera de calmaria, contrastando tão sutilmente com o gélido e grosseiro tapete de neve que cobria a rua entre quilômetros afora que eu quase não conseguiria notar. E era exatamente ali que estava a magia. Nos detalhes de uma vida inteira. Em casa, nada poderia nos alcançar. Sempre estivemos seguros. A tintura branca do lado de fora começava a descascar e era escondido com enfeites natalino e luzes douradas para serem acesas à noite. Pendurado no teto da varanda a nossa direita, era possível visualizar um visco simples e duas cadeiras de madeira com puffs no assento com uma mesinha guardando duas canecas brancas. Ainda do lado de fora, fui capaz de pressupor um tremor interno apreensivo provindo de Harry. Entretanto, dentro de mim, eu apenas conseguia sentir o cheiro do calor acalentando meus ossos ao tocar a companhia e ouvir passos do lado de dentro da casa. E fácil dessa maneira, desejei que o professor sentisse a mesma tranquilidade e segurança que acariciava meus ossos e aquecia minha pele quando eu estava em casa.

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⏰ Last updated: Mar 24 ⏰

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