Cura-me com fones de ouvidos part. 01

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Meu estilo está mais para entregar nas mãos de Deus e esperar dar certo.

Ah, as manias de uma ex-crente.

— Só dirige, Emma. Dirige, porque se perdermos esse voo eu te jogo da sacada da sua casa.

— Eu moro no primeiro andar, Regina. O máximo que vai acontecer é eu quebrar uma perna e você ter que cuidar de mim.

— Vou até tomar uma água pra engolir esse absurdo. Que a santa paciência me ajude por esses dias, senão você que vai me deixar louca.

Eu gosto de ver a Regina louca, mas de tesão. Ao invés de dizer isso pra ela, decidi passar o resto do caminho em silêncio, afinal, as chances de ela pular do carro em movimento só para não confirmar seu braço arrepiado eram grandes.

A viagem estava só começando.

Regina

Dias antes

Eu estava terminando de guardar meus materiais quando ouvi a porta da sala ser aberta. Por um segundo achei que era algum aluno com dúvidas, então nem me preocupei em me virar, já que eles costumam marcar presença com urgência quando querem algo do professor.

Porém, mais impulsivo do que um jovem em tempos de tomadas de decisão, é uma mulher se sentindo culpada.

— Ei, Regina! — Meu sangue gelou.

— Zelena? O que você quer?

— Sim, estou bem e você? Dormi bem sim, muito obrigada.

— Você perdeu o espaço para fingir que é minha amiga quando apoiou a Úrsula, Zelena. Diga o que quer e economize o meu tempo. — Ela ia falar alguma coisa sobre o assunto, mas a impedi — E não, não precisa repetir que você não a apoiou e sim esteve ao seu lado por ser sua amiga há muitos anos. Eu entendi meu espaço na sua vida assim que tudo aconteceu e hoje não estou com humor para ouvir mais das suas justificativas e histórias de vida. Pra mim, a consideração nunca será sobre tempo e sim sobre reciprocidade, conexão, consideração. Se você é capaz de apoiar a Úrsula numa traição tão baixa, você só me prova que não merece estar ao meu lado.

— Para de tomar ar! Você sabe que não foi assim, Regina. A Úrsula cresceu comigo, você queria que eu fizesse o que? Eu conversei com ela, apontei os erros, disse que não concordava. O que mais eu podia fazer?

— Você podia ter me contado que minha querida esposa estava fodendo com a sócia dela no escritório que eu ajudei a abrir. Isso só pra começar.

— Ela me disse que eram grandes amigas, melhores amigas.

— Eu achei que você era a melhor amiga dela. Não foi isso que ela disse quando você ficou no apartamento no dia que eu fui buscar minhas coisas?

— Não quero falar sobre isso agora. Não com você tão nervosa e ansiosa.

Vamos no seu tempo então, Zelena. Talvez você e a Úrsula tenham muito em comum mesmo.

— Você me conhece, Regina. E eu conheço você. Você decidiu me atacar hoje, mesmo depois de uma certa evolução na nossa convivência, afinal, fomos até no pub juntas e me atacar feio — Dessa vez, foi a minha vez de tentar falar e ela interromper — Sim, com motivos, eu posso concordar, não estou dizendo que estou certa. Mas se você está me atacando hoje, depois de tanto tempo me dando o silêncio ou ironias, é porque estou certa pra vir te procurar.

— O que você quer? — Decidi não rebater mais sobre o assunto Úrsula. Já sentia meu corpo pesando por falar daquilo que eu não falava há um tempo. Deve ser o peso do chifre, afinal.

ponto sem nóWhere stories live. Discover now