capítulo 13 - definições de família.

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Quando Draco chegou de volta ao quarto, viu Harry deitado na cama. Ele estava esticado preguiçosamente como um leão, uma mão atrás da cabeça. Mia Casso havia se aninhado no peitoril da janela, seu rabo se movendo lentamente como o pêndulo de um relógio. Harry encarava a janela. As luzes piscavam nas colinas a distância, além das fronteiras do cemitério. Era a coisa mais próxima de estrelas que eles tinham na cidade. O jardim de lápides e mausoléus se estendia até sumir na escuridão. O antigo iPhone de Draco estava no travesseiro perto de Harry, um fone em seu ouvido. Ele jogava uma bola de papel para cima e a pegava repetidamente. A porta se fechou com um clique, e Harry se virou. Sua pele reluzia com um brilho prateado. Ele não tinha certeza se era a lua ou os efeitos de ser um espírito. Harry o encarou em silêncio, a bolinha de papel ainda na mão. Pela primeira vez, Draco não conseguiu identificar de imediato o que ele estava pensando só pelo olhar em seu rosto geralmente tão expressivo.

- Escutando minhas músicas de merda? - perguntou Draco, tirando o moletom e jogando-o no guarda-roupa.

- Hum - murmurou Harry em resposta. Draco tirou seu talismã e guardou a adaga na mochila antes de se sentar na beira da cama. Olhando para Harry, ele levantou uma sobrancelha.

- Como você está?

- Ainda uma merda - respondeu ele, mas um pequeno sorriso apareceu no canto de sua boca, criando uma covinha. Draco deu uma risada curta. Quando Harry se moveu para mais perto da janela, Draco se deitou e colocou um fone no ouvido. Uma voz cantava suavemente palavras sonhadoras. Harry voltou a jogar a bola de papel para o alto.

Um momento em silêncio se estendeu, acompanhado pelo
ritmo tranquilo da música. Harry olhou rapidamente para Draco, um pequeno sorriso fez suas covinhas aparecerem.

- Por que você precisa provar que você é um bruxo, um garoto, para eles? - perguntou Harry repentinamente, voltando a olhar para o teto e franzindo o cenho. A pergunta pegou Draco de surpresa. Ele provavelmente ainda estava pensando no que tinha ouvido durante o incidente do sarcófago. - Por que você precisa provar alguma coisa a alguém? - Draco se mexeu, incomodado.

- As coisas sempre foram assim. Para que eles me deixem ser um bruxo...

- Você não precisa da permissão de ninguém para ser você, Dray - interrompeu Harry, novamente frustrado. E Draco começou a se irritar.

- Porque...

- Quer dizer, você me invocou, então você tem poderes de bruxo, certo? - continuou ele, pegando a bolinha de papel e começando a amassá-la distraidamente. - Tipo, isso é a Senhora Morte decidindo quem conta como homem e quem conta como mulher? E pessoas não binárias? Ou intersexo? E agênero? - Draco se surpreendeu que Harry sequer soubesse o que aquelas palavras significavam.

- Eu sou o primeiro bruxe trans... - tentou explicar, mas Harry o interrompeu com uma risada sarcástica.

- Não é, não.

- Sou, sim! - Harry balançou a cabeça e rolou para ficar de lado, olhando diretamente para Draco.

- Não, impossível. - Quando Draco tentou argumentar, Harry o cortou de novo. - Não tem como vocês existirem há centenas de anos sem ter tido uma pessoa que não se encaixou nessa merda toda de "homens são isso, mulheres são aquilo". - Harry soou tão convencido, tão certo. Seus olhos verdes esmeraldas encontraram os de Draco. - Talvez eles tenham se escondido, ou fugido, ou sei lá, alguma outra coisa, mas não tem como você ter sido o primeiro, Dray. - Tudo que Draco conseguiu fazer foi encará-lo.

Não sabia o que dizer. Passara tanto tempo se sentindo isolado... convencido de que era um caso único, um estranho com quem ninguém sabia lidar... Nunca havia considerado que, em algum ponto ao longo da linhagem, houvera mais bruxes como ele. Quando ele não reagiu, Harry se deitou novamente de costas, pressionando a bola de papel entre as palmas.

the cemetery boys - DrarryWhere stories live. Discover now