Ergo meu olhar para o encontrar me encarando e assinto.

— Sim, querido! — sorrio para ele.

Ele nega com a cabeça como se não aprovasse, mas não diz nada e se põe a andar, e recebemos uma onda de cumprimentos no caminho até o salão de festas.


(...)

Meu sorriso bobo ainda está a todo vapor por meu rosto. Começa em meus lábios e sobe até meus olhos, agora limpo da maquiagem. Ajeito mais uma vez meu cabelo, agora liberto do coque antes bem preso, mantenho apenas meu vestido, não sabia se Luca ficaria irritado por não ser ele a se livrar da peça, então mantive.

Ficamos por cerca de duas horas em nossa festa de casamento, falando e falando com as várias pessoas que eu sequer conhecia e duvidava muito que me recordaria dos seus nomes, algo que eu deveria mudar ao longo do tempo, mas seria algo que me preocuparia depois. Nessas primeiras semanas, minha única preocupação seria com o meu marido e o nosso recém casamento. Papai e minha cunhada me falaram sobre isso, sobre eu ser prestativa e estar sempre disposta para ele. Papai quase engasgou quando teve que conversar comigo sobre o que ocorreria em minha primeira noite como uma mulher casada e após isso, ficou para Malvina terminar a coisa toda, não que tenha sido melhor. Minha sorte, que eu havia pesquisado e prestando atenção durante a época do colégio, também ficava atenta sobre as conversas a respeito das noites de núpcias das noivas da famiglia, eu sempre fui muito curiosa.

Havia duas partes em mim, a ansiosa querendo mais que tudo que Luca passe logo por aquela porta, e a outra muito assustada. Nem sempre as conversas eram agradáveis e apesar de minha paixonite por meu marido desde a adolescência, ele era um homem feito e experiente, coisa que me desagradava bastante, e também sabia como a fama de Luca era. Impiedoso, perverso e brutal, chegavam a dizer que havia algo animalesco e muito maligno dentro dele. E se eu for sincera, há uma terceira parte, aquela que finjo não saber, mas aqui e agora, em nosso quarto, não posso mais fingir.

Enquanto eu estava em um primeiro casamento, Luca estava em seu segundo, sua primeira esposa, a senhora Romano original, enterrada na área do cemitério dedicada aos membros da famiglia. Sua vida ceifada, pela mão do meu agora marido, segundo boatos nunca confirmados.

— Dio mío! — sussurro entrando em pânico. Por que fui dar voz a isso agora? — Dio mío! — repito, me levanto em um sobressalto, nem havia me dado conta que estava sentada na beirada da cama.

A porta se abre e mal consigo respirar quando o vejo ali, parado na soleira do quarto, me observando.

— O que Deus te fez? — ele pergunta baixo, não tão baixo quanto em nosso casamento, mas baixo. O arrepio dessa vez não é carnal.

É puro pavor.

Meu coração parece prestes a sair pela boca, controlo a grande vontade de chorar. Por todo esse tempo apenas foquei na minha paixão infantil por Luca, ignorei tudo, até mesmo a dor de quando soube de seu casamento, poucos meses depois que nos conhecemos, a raiva que senti, então veio o assassinato, e eu jurei que acabaria com aquele sentimento, até vê-lo em uma noite, sorrindo para um de seus irmãos, e não pude acreditar que alguém com aquele sorriso que nunca pude tirar da minha mente, faria algo tão cruel a alguém que amasse.

E essa é toda a questão, Luca não amava sua esposa e também não me amava. Eu ainda nem sabia o motivo de se casar comigo, meu pai era apenas um capo aposentado, e eu era de longe a mais importante dentro do nosso círculo.

Meu pânico cresce quando noto que ele não está mais próximo a porta, está há alguns poucos passos de distância de mim, esperando minha resposta.

Engulo a seco.

— Irá me matar também?

Ele me envia um sorriso frio, ladino.

— Não em nossa noite de núpcias, esposa— corre seu polegar pelo seu lábio inferior, mirando meu rosto, divertido — Vejo que minha fama chegou até a Itália — diz, rondando meu corpo, caminhando ao meu redor, me analisando como um produto, verificando se veio tudo certo, se pode ser dar por satisfeito com sua compra.

E é isso que sou. Uma mercadoria para ele, tenho certeza quando os botões do meu vestido voam para longe e sinto o frio na minha coluna. Seu dedo escorrega por minha pele e o arrepio volta, dessa vez, distribuído por dois. Desejo e medo.

Isso era insano.

— Acredito que não só lá — me recrimino na hora por dizer isso, mas era a verdade.

A fama de Luca, era conhecida ainda mais além da nossa famiglia, por isso, faziam anos que não estávamos mais em guerra. Claro que havia uma coisa ou outra, mas ninguém ousava se meter com ele, ninguém queria sua ira sobre ele.

— A bella e a bestia — ele diz ainda divertido — Não deixe a fera te comer, bella — sussurra, naquele tom de voz bem baixinho e de novo, eu sinto os dois lados do arrepio.

O bom e o ruim.

O belo e o feio.

— Serei uma boa esposa, marido.

Luca surge em minha frente, e não gosto de seu sorriso. É amargo, assustador... Feroz... Bestial.

O engraçado é que Luca era ainda mais belo do que o príncipe após quebrar o feitiço, o negócio é que com ele, sua feiúra era por dentro, acabo de perceber.

O homem e a fera, dois em um.

— Não estaria aqui se eu não tivesse certeza disso. E espero que não me faça perceber que errei. Não gosto de erros, principalmente os meus, então quando percebo que os fiz, os limpo. Os faço desaparecer. Fico feliz por histórias se espalharem, por ter chegado até você, esposa.

Enfiando suas mãos nos bolsos, caminha até o banheiro.

— Luca... — me calo quando ele para de andar. Engulo seco — Você não está errado! — digo depressa — O espero para terminar de tirar meu vestido?

Então ele se vira, me olha de cima a baixo, desliza seu polegar outra vez por seu lábio inferior e volta aos meus olhos.

— Durma com ele se assim quiser.

O olho sem entender.

— Como?

Volta a me dar as costas.

— Há um canivete na mesa de cabeceira, se certifique de termos um lençol manchado com sua honra, esposa!

Pela primeira vez noto a ironia em sua voz ao dizer a palavra "esposa".









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Nas Mãos Do Don - 2ª livro da série Nas Mãos Do Amor            (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now