Capitulo V- Chuva em um dia de velório

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Quinta-Feira, França, eram por volta das quatro da tarde

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Quinta-Feira, França, eram por volta das quatro da tarde. O navio Morgan retornava lentamente pelas águas. Ele havia partido com grande esplendor e agora volta com velas rasgadas e queimadas, com a parte da frente faltando e seus tripulantes arrasados. Por sorte não havia afundado. O festival durava uma semana inteira, havia pessoas no porto voltando do trabalho, pegando bonde ou indo a festas.

O navio destruído chamava a atenção das pessoas que estavam no porto. Uns se compadeciam deles, entretanto, outros zombavam e os chamavam de fracassados. Merlim controlava o navio, ou o que restara dele. Dylan estava sentado no chão junto a ele, calado e sem expressão, o que preocupava Merlim.

Eles baixaram a âncora, mas não saíram do navio. Todos se reúniram no meio do barco. Dylan se juntou a eles logo atrás de Merlim. Ele não dizia uma palavra e seus olhos não derrubavam uma lágrima se quer. Era como se seus sentimentos tivessem sumido por completo. Todos permaneciam em silêncio e ninguém ousava falar uma palavra.

– Os chamei aqui para podermos falar sobre... – Diz Merlim interrompendo o silêncio avassalador, até que por um momento se questiona se esse era o melhor momento, mas mesmo assim continua – Sobre o funeral do nosso capitão. Marvin.

– Mas... – Diz Jeffrey, um jovem de vinte anos. Quase Loiro de olhos claros, alguém muito quieto e obediente. Era criado-de-bordo até descobrisse sua engenhosidade com carpintaria, sendo agora carpinteiro. – Como vamos realizar o funeral? É de costume usarmos a prancha para jogar o corpo ao mar, mas o corpo do capitão...


– Então, não devemos realizar o funeral? – diz Robert, um dos mestres do navio e também cirurgião, tem trinta e um anos e além de ser cirurgião entende sobre monstros-marinhos. É moreno de cabelo escuro, liso e olhos castanhos.

– Não foi isso que eu quis dizer! – diz Jeffrey. – Só não sei como será realizado sem o corpo dele...

– Mas, talvez seja melhor não realizarmos. – Diz o rabugento do Nilson, um cara já com barba branca, horroroso e fedorento, sendo seu hálito ainda pior. O capitão sempre o controlava e o deixava no navio por ser útil. Ele era um dos homens das armas, amava matar. Mexia em uma ferida do pé que fedia como queijo podre – Se pensarmos bem, não faria sentido fazer um funeral sem corpo.

– O que não faz sentido para mim é o capitão ter permitido você continuar nesse navio. Por mim e muita gente daqui você serviria de alimento aos peixes há muito tempo. –  Diz Melqui, o outro mestre do navio, tinha cabelo que batia até no ombro e o matinha amarrado, com seus vinte e oito anos. Experiente em arma de fogo e luta corpo a corpo.

– Sou uma dessas pessoas – Diz Arnold um menino ruivo com vinte e três anos anos, rapaz da pólvora e criado-de-bordo. Filho de Elison e protegido de Mia, sua namorada. Um rapaz teimoso, mas esperto e justo.

– Não é bem assim, não vamos tirar ele daqui! Ouviu seu metido de merda? - diz Célio chegando perto de Arnold – ficando de cara a cara com ele, e fala cuspindo em seu rosto. Um amigo de Nilson, já aprontaram poucas e boas juntos e são farinha do mesmo saco. Dois babacas, velhos e imundos. Entretanto, úteis. Com eles andava Lenon, calvo, forte e branco. Lenon assim como os outros dois, vê as mulheres como apenas ferramentas que devem obedecer aos homens e não dirigir a palavra para eles. Ambos homens das armas.

– Se você tocar um dedo no meu filho, eu te mato Seu magricelo! – exclama Elison, pai de Arnold, homem das armas. Mia já começa a puxar sua espada – Seu babaca, não consegue ter bom senso nem quando o capitão está morto? Tenha um pouco de consideração seu lixo humano!

– Elison por favor se acalme. Sem tumulto. Já causamos má impressão o suficiente hoje. Provavelmente os guardas do rei vão vir a nossa procura amanhã – Linda, mãe de Arnold e esposa de Elison, ela é um dos mestres do navio. Uma mulher ruiva e bonita.

– Poderíamos acabar com isso agora mesmo! É só mata-los – Diz Mia, criada de bordo, tem 19 anos e em breve 20, ela gosta de usar armas ou sua espada e de lutas corpo a corpo. Com cabelo curto, castanho escuro e olhos pretos.

Dylan permanece calado e de cabeça baixa enquanto todos brigam, Davison toca no ombro dele e sorri gentilmente, um homem simples e modesto é rapaz da pólvora e criado-de-bordo. Merlin tenta acamá-los, mas parece tudo piorar. Os nervos deles estavam a flor da pele, podia não parecer, mas seus sentimentos e pensamentos estavam tão confusos que eles não pensavam no que estavam fazendo.

- Ok, ok. Não briguem pessoal, nosso capitão morreu, não deveriam estar brigando agora que nosso querido capitão morreu - dizia com um sorriso largo no rosto, Alan um dos homens das armas, um cara obcecado por dinheiro e poder. Que sempre foi louco para ser o capitão e por mais que fosse disfarçadamente seus desejos de poder eram claros. Ele fingia amar o capitão quando, na verdade, o queria morto, ele com certeza estava pulando de alegria por dentro. Ele conhecia pessoas ruins de outros navios e era um trapaceiro. Com cabelos pretos e caídos sobre os ombros e com uma tatuagem de uma cobra entrelaçada em uma espada em seu braço, ele amava seu corpo e era super narcisista, sempre se gabava do seu porte. - Que tal conversamos sobre o enterro? Acho que seria melhor que falarmos sobre coisas banais.

Por fim, o funeral, foi combinado e naquele mesmo dia, enquanto o sol sumia no céu, eles fizeram um túmulo de pedra e uma cruz de madeira escrito "Capitão Marvin". Seu túmulo foi colocado em uma pequena montanha com vista para o mar e a cidade. Gilbert, Dylan e o capitão costumavam visitar aquele lugar. Algumas palavras foram ditas por Merlim, mas Alan o interrompeu e efetuou um discurso mais falso que a felicidade banal da vida. Todos foram indo embora lentamente. Dylan permaneceu calado em frente ao túmulo.

- Está tudo bem? Quer ficar mais um pouco? - diz Merlim enquanto colocava seu braço sobre os ombros de Dylan. - Espero que não se arrependa de não ter falado nada no enterro dele.

- Ele nem deveria estar morto para começar... - diz Dylan baixinho enquanto Merlin o deixa sozinho.

Dylan sente pequenas gostas de água caindo no seu rosto. Estava chovendo. Dylan imediatamente se lembra de uma frase que o capitão costumava dizer:
"Chuva, em dia de algum velório, significava que a morte não era aceita ou esperada. Que a pessoa não queria morrer."

K.

K

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Triângulo Das Bermudas - Para onde vai a água do Mar Where stories live. Discover now