A porta do quarto se abriu assustando-a por não ter ouvido os passos da esposa ou sentido o cheiro floral que ela emanava. Seus olhos se encontraram através do espelho, a Capitã sorriu para a mais nova pelo reflexo o que não foi retribuído, quando seus lábios se abriram para falar que finalmente haviam conseguido a outra foi mais rápida.

— Eu sinto muito — apenas naquele momento foi capaz de ver o estado da esposa, os olhos vermelhos e inchados estavam com bolsas escuras sob os mesmos, os lábios machucados, o tipo de machucado causado por mordidas de nervosismo. Sua roupa estava amassada e seu corpo pequeno parecia trêmulo.

— O que?

Não sabia se estava ainda sob a névoa do sono ou se realmente mais lenta que o usual.

— Eu fudi com tudo, espero que um dia consiga me perdoar, eu estava cega pela ganância e fiz merda e nos deixei ir até lá. Amor, me perdoe — ainda com o raciocínio lento, Thalassa levou alguns segundos para retribuir o abraço de Hedia.

— Ei, do que você está falando? Se acalme e vamos conversar com calma, respira fundo e me explica do que você está falando.

— Thalassa, eu estou amaldiçoada.

Seu mundo girou e colidiu com nada quando se deu conta daquilo, era óbvio, a voz deixou tudo aquilo claro. Hedia cobiçou e tentou levar um tesouro amaldiçoado mas Thalassa era incapaz de julgá-la por aquilo, sim sua esposa havia sido ambiciosa mas Thalassa também não era? Em todas as vezes que arriscou a própria vida e de toda tripulação apenas para buscarem algo que só ela era capaz de achar ela não havia sido nada além de ambiciosa, e muitas vezes até egoísta. Por Tehome, não importava o local, Thalassa ia atrás de alguma relíquia e sua tripulação era obrigada a pagar o preço de sua imprudência. Já haviam enfrentado um maldito Kraken em sua viagens impulsivas. Ganância era algo que todos possuíam, ainda mais ela como pirata e rastreadora. E agora sua esposa havia cometido o mesmo erro que a maioria ali, e juntas lidariam com aquilo. Foi esse pensamento que a acalmou o suficiente para conversar com a grã-feérica.

Não ousaria mentir ao dizer que aquilo não a preocupava, mas naquele momento ela não queria nem iria pensar nas consequências. Chame-a de imprudente e irresponsável, mas Thalassa já estava com a cabeça cheia demais de tudo para considerar tais ações naquele momento.

— Eu juro para você que vamos dar um jeito, não há o que temer, deve ter em algum lugar algum livro que nos ajude a reverter a situação, qualquer coisa que possa nos ajudar — se sentou na cama macia frente a esposa e agarrando sua mão esguias lhe prometeu. — E se não tiver nós encontraremos um jeito.

— Não é por mim que temo, mas você, ela disse que não terei descanso enquanto não ceifar meu bem mais precioso, e meu bem, não há nada acima de você. Thalassa nós estamos condenadas, eu nos amaldiçoei. — Enquanto as lágrimas gordas e incessantes caíam pelo rosto de sua amada, Thalassa se manteve firme, não apenas por si mesma, mas também pelo bebê que agora crescia em seu ventre. Thalassa e Hedia percorreram um longo caminho até ali e ela não deixaria a sua relação se abalar por aquilo.

— Eu juro para você que nós daremos um jeito nisso, eu fiz um voto para você e o honrarei da mesma forma que sei que fará por mim — a fêmea de pele negra a puxou para seus braços, as entrelaçando em um elo infinito enquanto palavras como "sinto muito" e "eu te amo" eram sussurradas ao seu ouvido.

Não importava onde os outros achavam que elas erravam, afinal as únicas que viviam e estavam na relação eram as duas. Hedia deu suporte a Thalassa em cada maldito momento desde que se conheceram e a outra retribuiu na mesma proporção. Quando Makaela se decepcionava em uma busca infrutífera pelo patrono ou quando tinha pesadelos com excalibur e a forma que seu corpo foi usado, às vezes em que sentiu sua alma suja e indigna foi Hedia quem estava lá em seu suporte sussurrando o quanto era amada e leal.

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⏰ Last updated: Mar 04, 2023 ⏰

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